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terça-feira, 6 de setembro de 2011

"Parece Milagre" - Revista Veja - 7 de Setembro de 2011 - Sensacionalismo? Falta de bom-senso?

A capa da Revista Veja de 7 de Setembro de 2011 mostra a liraglutida (nome comercial Victoza), um medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2, como objeto de desejo para quem sonha perder quatro, seis, oito, 10 quilos sem fazer força! O título da Edição é Parece Milagre


A Victoza funciona muito bem no paciente diabético, controlando a quantidade de açúcar no sangue. Proporciona outros benefícios combinados como redução da pressão arterial sistólica e melhora da função das células beta, responsáveis por sintetizar e secretar a insulina. Promove a perda de peso pelo fato de retardar o esvaziamento gástrico e aumentar a sensação de saciedade após as refeições.

“Liraglutida (ouVictoza) é um análogo de GLP-1, hormônio natural produzido pelo intestino que colabora para o metabolismo normal da glicose como outros hormônios pancreáticos e gastrointestinais como a insulina, o glucagon, a amilina. O medicamento, indicado para pacientes diabéticos do tipo 2, age no pâncreas estimulando a liberação de insulina apenas quando os níveis de açúcar no sangue estão altos”, explica Marcelo Freire, diretor médico do laboratório Novo Nordisk, que produz o Victoza.

Efeitos colaterais: prisão de ventre, hipoglicemia, cefaleia, tontura, infecção do trato aéreo respiratório (rinite, sinusite), infecção do trato urinário, dor nas costas, dor de estômago e inchaço ou vermelhidão no local da injeção.

Para perda de peso com finalidade estética – aqueles dois ou quatro incômodos quilinhos – a liraglutida é contraindicada. Mas há pesquisas em andamento com pacientes obesos (com IMC acima de 30) e não diabéticos.

Aplicada uma vez ao dia, por meio de uma caneta de injeção subcutânea, no horário mais conveniente para o paciente, proporciona comodidade ao paciente diabético, estimulando a adesão ao tratamento.

“O que não pode acontecer é a banalização do uso do medicamento. Não faz sentido prescrever a liraglutida com a finalidade de emagrecimento rápido. Vai contra tudo o que sempre pregamos, que é a manutenção da saúde por meio de atividade física regular e alimentação balanceada”, adverte o endocrinologista e médico do esporte Ronaldo Arkader, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

“Todo tratamento visando perda de peso envolve dieta e exercícios. Trabalhamos a adesão a hábitos saudáveis. Qualquer coisa além disso é acessório. Milagres não existem”, reforça o endocrinologista Ricardo Meirelles, presidente da Comissão de Comunicação Social na Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).


Porém o que parece milagre é como é que após tantas e tantas dietas mirabolantes, exercícios extenuantes e outros blá-blá-blás o assunto ainda vende - e muito - revista! Na Veja de 29 de novembro de 2000, uma matéria com exatamente o mesmo nome foi publicada.

Brasileiros comprovam resultados do programa americano de dieta e exercícios para mudar o corpo em doze semanas Flávia Varella

O americano Bill Phillips - professor de educação física e dono de um laboratório de suplementos nutricionais, montou um programa de dieta e exercícios que promete transformar corpos gordos e flácidos em silhuetas de atleta no reduzidíssimo prazo de doze semanas. Fotos que mostram as mudanças ocorridas nesses três meses aparecem no material de propaganda de sua empresa, Eas, e no livro Body for Life, que ele escreveu para difundir o programa.

 Numa academia no centro de São Paulo, um grupo de professores e alunos resolveu seguir à risca o plano proposto. Três vezes por semana, fazem sessões de 45 minutos com exercícios de musculação em que a idéia é levantar cada vez mais peso, chegando ao limite do suportável. Nos outros três dias, os exercícios são aeróbicos, em geral corrida ou bicicleta. São apenas vinte minutos, mas também de altíssima intensidade. Nesses seis dias, seguem uma dieta alimentar não muito diferente dos esquemas conhecidos por quem já tentou perder peso: seis refeições leves, relativamente restritivas, mas sem atingir o padrão famélico dos regimes mais drásticos. O sétimo dia é livre. Pode-se comer o que e quanto quiser e não é preciso levantar um dedo.

Os resultados parecem milagrosos. O diferencial que traz resultados tão rápidos e impressionantes está justamente no ponto em que é mais criticado por especialistas: a intensidade. "Para quem tem vida sedentária, começar com nível máximo de esforço é arriscado para a saúde, além de ser um sacrifício", diz o especialista Turibio Leite de Barros. O nutricionista Reinaldo Tubarão Bassit considera a dieta maléfica porque recomenda a ingestão de muita proteína e menos carboidrato do que o necessário para o esforço físico exigido. "Ela pode afetar rins e fígado e não fornece energia suficiente para a queima de gorduras e para que a pessoa renda o bastante no exercício", afirma.

 Body for Life é um sucesso porque os leitores e seguidores de Bill Phillips, como a grande maioria da humanidade, estão interessados em estética e não em saúde. E porque o autor também é fera em marketing. Há três anos, ele teve sua melhor idéia. Criou um campeonato desafiando as pessoas a transformar o corpo radicalmente no tal prazo de doze semanas. Neste ano, o concurso teve cerca de 500.000 inscritos e vai distribuir 1 milhão de dólares em prêmios – 100.000 dólares para o grande campeão. Com o concurso, além de lan&c um desafio estimulante para atrair adeptos, Phillips arranjou as melhores propagandas ambulantes do ramo: homens e mulheres comprovando que o método funciona.

"As fotos podem criar uma falsa expectativa porque mostram os vencedores, os casos extraordinários, não a média", diz Francisco Navarro, professor de fisiologia do esporte e revisor científico da tradução do livro. "Os que aparecem nas fotos são predestinados geneticamente a perder peso facilmente e ganhar músculos. O livro, porém, não fala que existe individualidade biológica", critica o personal trainer Irineu Loturco. Outro professor de educação física, Luiz Galasso, é mais desconfiado. "Alguns casos têm cara de doping ou mesmo lipoaspiração." Quem participa do concurso assina um termo garantindo que não fez uso de anabolizantes e esteróides. Os brasileiros não tomaram. E mudaram.

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