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sábado, 31 de dezembro de 2011

Você é normal? O que é ser Normal? Novos estudos revolucionam o conceito de saúde mental.

A edição 2244 de 23 de Novembro de 2011 da Revista Veja traz na Capa: "Você é normal? O que é ser Normal? Novos estudos revolucionam o conceito de saúde mental." (André Petry)

A matéria diz que o "McLean" - Hospital Psiquiátrico aos arredores de Boston em funcionamento há 200 anos - vinculado à Universidade de Havard, tem o maior "banco de cerebros" do mundo. Os EUA têm o melhor acesso à anatomia cerebral!

E quanto mais se conhecem a estrutura e o funcionamento do cérebro e seus neurônios mais difícil a terefa de definir o que é "normal".

Uma equipe do Douglas Mental Health University Institute descobriu que quem cresce em metropole tem o córtex cingulado (regula stress) abalada. Já quem não cresceu mas morou tem a amigdala (centro emocional) afetada. A vida urbana aumenta o risco  de ansiedade em 21% e de transtorno de humor em 39%.

No Instituto de Neurociencia da Universidade da California descobriu-se que a memória do medo  altera a estrutura física do cérebro, preservando neurônios que sem a experiencia do medo morreriam ainda bebês. Por isso mantemos uma lembrança tão viva do que nos assusta.

Da diversidade de experiencias psicológicas decorre a complexidade do que é ser normal.

O Psiquiatra Peter Kramer (livro Ouvindo o Prozac) diz que: "a normalidade talvez seja um mito que criamos para o nosso próprio deleite". "O avanço da genética, da biologia molecular e da neurociência está trazendo à tona as imperfeições humanas, que tendem a virar regra".

Cada etapa da história humana tem suas próprias idéias sobre a normalidade mental. Hoje os EUA determinam isso.

Há motivos para pensar que a "era da anormalidade universal" seja um tempo de empatia, flexibilidade e tolerância.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Transtorno Afetivo Bipolar, Transtorno Bipolar do Humor, Psicose Maníaco-Depressiva

O Transtorno Afetivo Bipolar  é também conhecido como Transtorno Bipolar do Humor ou, anteriormente, como Psicose Maníaco Depressiva. Caracteriza-se por alterações do humor, com episódios depressivos e maníacos (eufóricos) ao longo da vida. É uma doença crônica, grave e acomete 1,5% das pessoas em todo o mundo.


No DSM.IV são classificados 2 tipos de Transtorno Afetivo Bipolar. O Transtorno Bipolar do Humor Tipo I, onde a maioria dos episódios de alteração do humor são do tipo euforia e o Transtorno Bipolar do Humor Tipo II, ao contrário, ou seja, a maiora dos episódios são depressivos.

DEPRESSÃO:
Há humor depressivo (angústia, tristeza, vazio, desesperança, desânimo, baixo astral), alterações de apetite e do sono, dificuldades de concentração e pensamentos negativos, incapacidade de sentir alegria ou prazer, redução da energia, agitação ou lentificação psicomotora, ideação suicida e/ou sintomas psicóticos.

Nem sempre a tristeza clássica está presente no Episódio Depressivo, o paciente pode não manifestar sentimento de tristeza e concentrar suas queixas em somatizações, em dores e outras queixas físicas, tais como cefaléia, dor de estômago, dor no peito, tonturas, etc (Depressão Mascarada).

São comuns queixas de dificuldades de raciocínio, concentração e tomada de decisões. De fato, a mais prejudicada talvez seja a atenção e não a memória. E a dificuldade em fixar a atenção, associada à falta de interesse, pode simular severos problemas de memória.

A alteração do apetite e/ou do peso é um dos indicadores confiáveis do comprometimento somático da Depressão. As alterações do sono na Depressão envolvem insônia.

Alguns pacientes podem dormir demais, como uma espécie de fuga de uma realidade hostil para eles ou como sinal de escasseamento da “energia” necessária para a disposição geral.

Função sexual: ocorre diminuição da libido.
Depressão Bipolar

É a Depressão que se apresenta em portadores do Transtorno Afetivo Bipolar. Aqui há uma alternância de episódios depressivos e eufóricos (maníacos), não necessariamente um depois do outro (podem surgir vários episódios depressivos e um eufórico ou vice-versa). Trata-se de um quadro de origem biológica. Normalmente essas crises surgem sem que se possa associar à alguma razão vivencial.

EUFORIA (Mania)

 Auto-estima inflada, grandiosidade, sensação de ser mais e melhor que os outros e, algumas vezes quando tem delírio, reconhecendo ser predestinado a alguma coisa muito importante.

 Necessidade de sono diminuída, sentindo-se bem e repousado com apenas 3 horas de sono.

 Mais eloqüente e loquaz do que o habitual, pressão por falar, interrompendo os outros.

 Perda da inibição social, falta de crítica para com as situações ridículas e vexatórias

 Fuga de idéias (mudança de assunto rápido sem conclusão do anterior) ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão correndo mais do que as palavras podem pronunciar.

 Distratibilidade, a atenção é desviada com excessiva facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes, dispersão da atenção.

 Aumento da atividade dirigida a objetivos sociais, no trabalho, na escola ou sexualmente.

 Agitação psicomotora, excesso de movimentos

 Envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um alto potencial para insensatez, perigo, inconseqüência, como por exemplo, envolvimento em compulsão para compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos.

Na cidade de São Paulo essa prevalência é de 1% (Andrade, 2002). Estudos que consideram critérios mais flexíveis de diagnóstico já apresentam uma prevalência de 4% a 8% durante a vida. Apesar do interesse nestes quadros ter aumentado nos últimos anos, os portadores de TAB continua sendo tardiamente diagnosticados e, conseqüentemente, inadequadamente tratado.

Causas

Em relação às causas do TAB, tem sido muito relevante a sugestão de hereditariedade. O risco de desenvolver TAB em parentes de primeiro grau de um portador de TAB situa-se entre 2% e 15%.

 Compreende-se que o aparecimento dessas doenças de transmissão complexa dependa da presença de um conjunto de genes de suscetibilidade, os quais, ao sofrerem influência do meio, manifestam-se precipitando as alterações necessárias para a eclosão da doença em questão.

Há associação entre o TAB e a condição socioeconômica desfavorável, bem como com o desemprego, baixa renda e estado civil solteiro. Também há associação da TAB com mulheres nos três primeiros meses do pós-parto.
A classificação DSM.IV, já com mais de 10 anos, reconhece somente os tipos I e II, entretanto, os pesquisadores estão ampliando os conceitos e os tipos da bipolaridade.

Já se fala em Transtornos do Espectro Bipolar e, de acordo com abordagem mais recente, existem quatro tipos de transtorno bipolar, que se caracterizam basicamente pela intensidade em que ocorre a alteração do humor.

Tipo I: Afeta apenas 1 % da população, é a forma mais intensa, com forte alteração do humor, por apresentar fases de mania plena. Apresenta toda a amplitude de variação do humor, do pico mais alto (mania plena), que pode durar várias semanas, até depressões graves. Em geral, inicia-se entre 15 e 30 anos, mas há casos de início mais tardio. É comum apresentar sintomas psicóticos, como delírios (pensamentos fora da realidade) ou alucinações (ouvir vozes que não existem, por exemplo). Se não for tratado, em geral prejudica enormemente o curso da vida do paciente.

Tipo II: A alteração do humor não é tão intensa quanto no Tipo I, mas apresenta fases de hipomania (pequena mania) e depressão. Assim sendo, nesse tipo a fase maníaca é mais branda e curta, chamada de hipomania. Os sintomas são semelhantes, mas não prejudicam a pessoa de modo tão significativo. As depressões, por outro lado, podem ser profundas. Também pode iniciar na adolescência, com oscilação de humor, mas uma parte dos pacientes só expressa a fase depressiva ao redor dos 40 anos. Com freqüência, os sintomas de humor deixam de ser marcadamente de um pólo para ter características mistas, turbulentas.

Tipo III é semelhante ao tipo II, porém o quadro de hipomania é desencadeado pelo uso de antidepressivos ou psicoestimulantes. É uma classificação usada apenas quando a fase maníaca ou hipomaníaca é induzida por um antidepressivo ou psicoestimulante, ou seja, os pacientes fazem parte do espectro bipolar, mas o pólo positivo só é descoberto pelo uso destas drogas. Sem o antidepressivo, em geral manifestam características do temperamento hipertímico ou ciclotímico. Como regra, devem ser tratados como bipolares, mesmo que saiam do quadro maníaco com a retirada do antidepressivo.

Tipo IV: a oscilação de humor é mais leve e o paciente é, geralmente, uma pessoa com temperamento mais determinado, dinâmico, empreendedor, extrovertido e expansivo, e que, esporadicamente, passa a ter o humor mais turbulento e depressivo na meia-idade. Esses pacientes nunca tiveram mania ou hipomania, mas têm uma história de humor um pouco mais vibrante, na faixa hipertímica, que freqüentemente gera vantagens. A fase depressiva pode só ocorrer em torno ou depois dos 50 anos e às vezes é de característica mista e oscilatória.

Além desses quatro tipos, há a ciclotimia, que se caracteriza por um traço de personalidade cujo humor é oscilante e desregulado, e cujas fases não chegam a ser configuradas como mania ou depressão.

O Transtorno Bipolar I é um transtorno recorrente, ou seja, mais de 90% das pessoas que tiveram um Episódio Maníaco terão futuros episódios. Aproximadamente 60 a 70% dos Episódios Maníacos freqüentemente precedem ou se seguem a Episódios Depressivos mas o padrão de alternância é característico para cada pessoa.

O número de episódios durante a vida (tanto Depressivos quanto Maníacos) tende a ser superior para Transtorno Bipolar I, em comparação com Transtorno Depressivo Recorrente. Estudos do curso do Transtorno Bipolar I, antes do tratamento de manutenção com lítio, sugerem que ocorrem quatro episódios em média a cada 10 anos. O intervalo entre os episódios tende a diminuir com a idade.

Aproximadamente 5 a 15% das pessoas com Transtorno Bipolar têm quatro ou mais episódios de alterações severas do humor, tais como, Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco, Episódio Misto ou Episódio Hipomaníaco, que ocorrem dentro de um determinado ano. Embora a maioria das pessoas com Transtorno Bipolar retorne a um nível plenamente normal de funcionamento entre os episódios, alguns deles, entre 20 e 30%, continuam apresentando instabilidade do humor e dificuldades interpessoais ou ocupacionais.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Seminário Internacional sobre pesquisa e assistência a filhos e familiares de dependentes químicos

A Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto por meio do Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica promove o Seminário Internacional sobre pesquisa e assistência a filhos e familiares de dependentes químicos.

O evento contará com a presença de profissionais da área de Psicologia que atuam diretamente com familiares e filhos de dependentes e a palestra de Jerry Moe, Vice presidente do Betty Ford Center, instituição que atende dependentes de álcool e drogas, além de oferecer programas específicos para filhos de dependentes. Moe também é conselheiro da Nacoa (National Association for Children of Alcoholics) – Associação Nacional para Filhos de Alcoolistas e Dependentes Químicos. (site EUA – http://www.nacoa.org e no Brasil iniciou as atividades recentemente http://www.nacoa.com.br)

No Brasil milhões de jovens e crianças convivem com um dependente e há uma carência em relação a rede de atendimento a esse público que tem maiores chances de vir a se tornar dependente.

Os efeitos negativos que podem atingir jovens e crianças que convivem com um dependente são fartamente documentados na literatura científica. Veja abaixo algumas das possíveis consequências:

Famílias atingidas pelo problema da dependência reportam níveis maiores de conflito em relação a familias que não tem o problema.

Filhos de dependentes exibem sintomas de depressão e ansiedade em maior número quando comparados com filhos da população em geral.

Pesquisas na área comportamental demonstraram que filhos de dependentes apresentam os seguintes problemas: falta de empatia com outras pessoas, baixa adequação social, baixa auto-estima em número maior quando comparados com a população em geral.

Filhos de dependentes podem ser beneficiados com a presença de adultos que estejam disponíveis para ajudar. Os filhos de dependentes que lideram de forma mais efetiva com o trauma de crescer em um lar alcoólico geralmente são aqueles que puderam contar um pai ou mãe não alcoolista, algum parente próximo, professores e outros.

Programação do evento em  http://nacoa.com.br/uncategorized/seminario-internacional-filhos-alcoolistas-dependentes-quimicos

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Blitz antiálcool para menores aplica multa de R$ 2,6 mil em Bar na Rua Augusta em SP

Rafael Oliveira - G1 São Paulo

A blitz contra a venda de bebida alcoólica a menores e a presença de menores bebendo aplicou a primeira multa a um estabelecimento comercial em São Paulo à 1h30 deste sábado (19).

Um bar da Rua Augusta, região central da capital, foi autuado pela Vigilância Sanitária do Estado por misturar em uma geladeira que fica à disposição dos clientes garrafas e latas de bebidas alcoólicas com refrigerantes, sucos e águas. Segundo a nova lei, é obrigatório manter os produtos alcoólicos em locais separados dos não alcoólicos.


A dona do estabelecimento, Risalva Silva Cruz, disse que não tinha conhecimento total das novas regras. "Eu soube que a bebida alcoólica pode estar na geladeira com o refrigerante, mas que nenhum cliente poderia abrir a geladeira, e sim a gente ir até a geladeira e tirar a bebida", disse. O valor da multa aplicada, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, é de R$ 2,6 mil.

O governador Geraldo Alckmin esteve na região da Rua Augusta momentos antes do início das fiscalizações. Para ele, a adesão dos comercianter será rápida e o foco é prevenir um problema de saúde pública no estado. "Eu acho que rapidamente os comerciantes vão ficar atentos. O objetivo da lei representa menos acidentes, menos perdas de vidas, e isso vai expor menos os jovem a outras drogas, ao risco de dependência química", afirmou.

O estabelecimento que descumprir a lei e for autuado duas vezes tem que fechar as portas por 15 dias. Na terceira vez, a punição é maior: não pode funcionar por 30 dias. Na quarta, o local será fechado e o dono perderá a licença. As multas vão de R$ 1.745 a R$ 87.250.

A nova lei também já causou mudança no comportamento de alguns comércios. Preocupado com o bem-estar dos clientes, o dono de uma pizzaria treinou seus funcionários para agirem corretamente durante uma eventual abordagem para solicitar a identidade.

A lei já existia e era proibido vender bebida para um menor de idade. A diferença é que ela ficou mais rigorosa. Por exemplo: se um menor comprar ou consumir bebida alcoólica em um estabelecimento, mesmo que ela tenha sido comprada por um adulto, o proprietário do lugar será responsabilizado.


Cerca de 200 fiscais participaram das blitzes na região metropolitana de São Paulo. Outros 300 agentes também vistoriaram estabelecimentos em todo o Estado. O objetivo do governo é treinar mais 4 mil fiscais durante o ano que vem.

Até sexta-feira (18), o trabalho era de orientação. Os agentes explicaram o que podia e o que não podia no comércio de bebidas alcoólicas. Entre os estabelecimentos estão os bares, restaurantes, postos de gasolina, padarias e supermercado.

Quem souber de algum lugar que venda ou permita o consumo de bebida alcoólica por menores pode ligar no: 0800 771 3541.

Fumar Maconha Encolhe O Cérebro

Fumar Maconha Encolhe O Cérebro


Fran Lowry

11 nov 2011 – O consumo de maconha pode levar a uma perda de volume cerebral em indivíduos em risco de desenvolver esquizofrenia.

"Já é aceito pela maioria dos psiquiatras que fumar maconha aumenta o risco de psicose no indivíduo, e mais especificamente a esquizofrenia", disse o autor Killian A. Welch, MD, da Universidade de Edimburgo, Royal Edinburgh Hospital, Reino Unido, ao Medscape Medical News .

"Pessoas com histórico familiar de esquizofrenia são particularmente vulneráveis ​​aos efeitos psicotomiméticos da droga, e têm uma probabilidade de risco mais elevado de desenvolver esquizofrenia, particularmente se consumirem cannabis", disse ele. "No entanto, ainda não está claro como a cannabis afeta o cérebro para resultar no aumento do risco."

O estudo foi publicado na edição de novembro do British Journal of Psychiatry.


Dr. Welch e colegas compararam as mudanças estruturais no tálamo e na amígdala-hipocampo ao longo do tempo em 57 pessoas com idade entre 16 e 25 anos que estavam bem, mas que tinham um forte histórico familiar de esquizofrenia.

Cada uma das pessoas passou por uma avaliação completa, incluindo um exame de ressonância magnética. Dois anos mais tarde, cada um deles retornou para outra ressonância magnéticva e responderam a perguntas sobre o uso de drogas ilícitas, inclusive a maconha, bem como seu uso de álcool e tabaco no período entre os exames.

Dos 57 participantes, 25 tinham usado maconha entre as duas avaliações.

Os pesquisadores descobriram que os participantes que tinham usado maconha mostraram redução do seu volume talâmico que foi significativo no lado esquerdo do tálamo (F = 4,47, P = 0,04), e altamente significativos à direita (F = 7,66; P = 0,008). No entanto não se observou nenhuma perda de volume do tálamo naqueles que não fizeram uso de maconha durante o período de 2 anos.

Alguns dos participantes que usaram maconha também fizeram uso de outras drogas como ecstasy e anfetaminas. Feito o controle sobre o uso dessas drogas, os resultados mantiveram-se significativos.

"Este é o primeiro estudo longitudinal a mostrar que o consumo de cannabis por indivíduos com risco aumentado de esquizofrenia resulta em em desenvolvimento cérebral de maneira diferente daquela como se desenvolve se não usar a droga," observou o Dr. Welch.

"Estas são pessoas que estão bem, não são psicóticos, em quem o uso da droga está associado à perda de volume em uma estrutura cerebral crítica. A explicação mais provável para isso, claramente, é que a exposição ao cannabis está causando essas anormalidades de desenvolvimento do cérebro ", disse ele.

O tálamo é uma estrutura cerebral muito importante, que age como um processador de informações e como estação de retransmissão para o cérebro, acrescentou ele. "Dado esse papel de interligação entre as diversas regiões do cérebro, qualquer coisa que afete sua estrutura e, supõe-se conseqüentemente, a sua função, seria de se esperar por consequências generalizadas e potencialmente devastadoras."

O Dr. Welch alertou que essas descobertas não devem ser mal interpretadas para sugerir que o uso da maconha é seguro quando não se tem história familiar desse tipo. No entanto, "parece seguro dizer que se você tem um tal cenário, você deva ser particularmente cauteloso com uso de drogas", disse ele.

Jean Bidlack, PhD, Professora de Farmacologia da Paul Stark School of Medicine and Dentistry da Universidade de Rochester, em Nova York, disse à Medscape Medical News que o estudo realizado pelo Dr. Welch e colegas acrescenta algo útil para o que já era conhecido sobre o assunto.

"Este é o primeiro estudo a mostrar uma associação entre uma diminuição no volume do tálamo e o uso de maconha em pessoas atualmente não afetadas mas que estejam em risco elevado de desenvolver esquizofrenia, devido ao histórico familiar", disse a Dra. Bidlack. "A diminuição do volume do tálamo tem sido associada à psicose e à esquizofrenia. O tálamo tem um alto nível de receptores de canabinóides, que ligam o ingrediente ativo da maconha e podem contribuir para a diminuição do volume do tálamo", explicou .
Esta pesquisa começa a explicar a ligação entre o uso da maconha e o desenvolvimento de esquizofrenia neste grupo de alto risco, disse ela.

PDF
     Como maconha afeta memória de curto prazo

A maconha inunda o cérebro com uma série de substâncias químicas que imitam um de seus próprios sistemas de sinalização, levando a mudanças na memória e no humor.

O THC não age, como poderia ser esperado, nos neurônios do cérebro, mas numa célula do cérebro chamada de astrócito.

 Nós podemos achar um jeito de lidar com problemas de memória de trabalho na doença de Alzheimer - disse ele.

Quando alguém está usando maconha, em alguns casos, você acha que esta pessoa não conseguirá sequer lembrar do início de uma frase quando chegar ao fim dela.
 
 
 
 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

29* Congresso Médico Academico da SUMEP - PUCSP - Sorocaba

Causas e Consequencias do uso de Álcool e Drogas na Adolescência




Dra. Débora Christina Ribas D’Ávila

Médica Psiquiatra

www.deboradavila.blogspot.com

deboradavila@ig.com.br



CAUSAS

Medicina

Sociedade

Família

Religião

Profissão

Psicologia

Mídia

Polícia e

Política

DROGA

DROGA - modificar o funcionamento mental ou comportamental.

Inclui medicamentos (drogas lícitas) e plantas.

Drogas psicotrópicas ou psicotrópicos alteram o funcionamento mental ou psíquico.

Droga - substâncias com potencial de abuso e dependência.



CAUSAS



A história das drogas acompanha a história da humanidade.

Uso de chás e álcool em rituais religiosos ou em comemorações.

Brincadeira de girar para ficar “tonta”



CAUSAS

MEDICINA:



Hereditariedade – Genética



Gratificação cerebral



Comorbidades!





CAUSAS

Sociedade:



Propagandas de cerveja/energético

Disponibilidade para menores

Festas Raves, Happy hour, happy night

Relação álcool-droga e prazer (remédio)

Busca de prazer imediato

Indiferença afetiva







CAUSAS E CONSEQUENCIAS DAS DROGAS

Família = pessoas ligadas apenas por afeto!





Amor = medo de perder, ciúme, dor = conflito

Amor = ódio (oposto de indiferença)

Ausência de conflito = morte



CAUSAS FAMILIARES

Família

“O exemplo não é o melhor modo de educar. É o único”



Álcool e cigarro – primeiro contato em casa

Criança – medo de perder o pai tabagista, sente-se pouco importante para ele

Adolescente – aprende que pode fazer o que não faz bem, pode “quebrar regras”

CAUSAS

Família





87% perceberam as relações familiares como fator protetor - alta comunicação com os pais.

Fatores de risco - a educação e o tipo de trabalho dos pais.





CAUSAS

Religião

Entre estudantes de Medicina em Marília: prevalência do uso de álcool (incluindo bebedores discretos, moderados e excessivos) significativamente menor entre os protestantes (50%) em relação aos católicos (75,2%), espíritas (75,0%) e ateus (94,5%).

CAUSAS

Psicologia

O perfil psicológico problemático não é determinante e sim mais um dos fatores de risco.

Impulsivo, manipulador, dificuldade em seguir regras, não respeita figuras de autoridade

SER FELIZ é ter condição de ter prazer, e não ter prazer todo o tempo!

CAUSAS

Mídia

Vida com prazer o tempo todo

Divulga novas drogas

Mostra poder e lucro de traficantes

Aponta localização de “bocas”

Ensina como enganar autoridades

Idéia de vida, corpo e relações perfeitas

Como Evitar?





Prevenção primária: a primeira droga a ser experimentada é o álcool, depois o cigarro e em terceiro lugar a maconha.

CONSEQUENCIAS DAS DROGAS

ÁLCOOL:



Drunkrexia

Droga preferida

90% das internações por dependência

65% dos acidentes fatais em São Paulo

3° doença que mais mata no mundo

3,7% da mortalidade mundial



Tabaco

INCA: meninas entre 13 e 15 anos têm maior facilidade na compra de cigarros em relação aos meninos da mesma faixa etária: 52,6% a 48,1%.

O percentual chega a 96,7% em Maceió, 89,9% em Fortaleza, mesmo número de Salvador.

O nível do tabagismo não vem caindo entre os adolescentes (adultos 47% menor em 19 anos)

Cigarros com sabores

Menos de um ano de escolaridade, mais de 40% começaram a fumar antes dos 15 anos

Para jovens que estudaram entre oito e dez anos é apenas 18%.



CONSEQUENCIAS DAS DROGAS

MACONHA:



Baixas doses = ansiolítico

Altas doses = ansiogênico



A maconha hoje é até 20 vezes mais potente que na década de 70

CONSEQUENCIAS DAS DROGAS

Maconha:



12% dos casos de esquizofrenia na Inglaterra foram desencadeados pelo uso de maconha.

Ansiedade e depressão.

É porta de entrada para outras drogas

Síndrome Amotivacional



CONSEQUENCIAS DAS DROGAS



Cocaína - regiões frontais (pensamento, controle dos estímulos e da impulsividade)

Dificuldade em fazer escolhas

“Depressão-rebote”

Paranóia (delírio persecutório)- Esquizofrenia

CAUSAS E CONSEQUENCIAS DAS DROGAS

Crack e Oxy



Derivado da cocaína.

Baixo custo

Volatilização da cocaína para que pudesse ser fumada.

Efeito mais rapido (10 segundos)

Após 12 anos de uso, a mortalidade é de quase 40%, a maioria por causa da violência.

Ganha adeptos entre dependentes de cocaína



Medicamentos



cloridrato de benzidamida Antinflamatório vira o “LSD” das baladas

Anfetaminas

Benzodiazepínicos

Anticolinérgicos (Biperideno)

CONSEQUENCIAS DAS DROGAS SINTÉTICAS

Drogas Sintéticas:



Classe média e alta

Alto custo

Alta potência em quantidade mínima

Produção barata, lucrativa e dificilmente barrada pela Policia’’





CAUSAS E CONSEQUENCIAS DAS DROGAS

Drogas Sintéticas

MDMA – Ecstasy

Micropoint – LSD

GHB (gama-hidroxibutirato) – “ecstasy líquido”

"Droga do Estupro" e "Boa Noite Cinderela”

Quetamina ou “Special K”

DOB (2,5-dimetoxi-4–bromoanfetamina) - “cápsula do vento” ou “cápsula do medo”

PCP (Cloridrato de eniciclidina)



CAUSAS E CONSEQUENCIAS DO USO DE ÁLCOOL E DROGAS NA ADOLESCENCIA



Contato





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deboradavila@ig.com.br





Fone: (19) 3253-7277

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Aula FEBRACT - Federação Brasileira de Comunidades Terapeuticas - 21/09/2011

Comorbidades Psiquiátricas no Tratamento do Uso Abusivo de Psicotrópicos



Dra. Débora Christina Ribas D’Ávila - Médica Psiquiatra



TRANSTORNO MENTAL

É o conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado a sofrimento e interferência em funções sociais.



Psicotrópico ou Droga

DROGA é qualquer substância capaz de modificar o funcionamento mental ou comportamental de um indivíduo.

Inclui medicamentos (drogas lícitas) e plantas.

Drogas psicotrópicas ou psicotrópicos alteram o funcionamento mental ou psíquico.

Droga - substâncias que apresentam potencial de abuso e que podem causar dependência.



Comorbidade

É a ocorrência de dois diagnósticos (doenças) em um mesmo indivíduo.

Das 10 doenças mais comuns hoje, 5 são Psiquiátricas:

Depressão

Alcoolismo

Transtorno Afetivo Bipolar

Esquizofrenia

Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Comorbidades



Em portadores de Transtornos Mentais, o abuso ou dependência de substância é a comorbidade mais freqüente.


Platão: mania e uso de álcool.

Conseqüências mais sérias

Aumento de incidência.


Como diagnosticar as Comorbidades

História familiar

Exames laboratoriais

Questionários direcionados

Testes psicológicos

Observação clínica

Uso do CID10 ou DSM IV



Quais são os transtornos psiquiátricos mais comuns entre os dependentes de álcool e outras substâncias?


Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

Transtorno mais comum em crianças e o mais subdiagnosticado em adultos.

Desatenção, hiperatividade motora e impulsividade.

Prevalência de 10% em escolares e 5% em adultos.

TDAH 10:4 Abuso de substâncias.

Nicotina ameniza sintomas da síndrome nos receptores noradrenérgicos envolvidos na regulação da atenção.

Portadores de TDAH experimentam drogas mais cedo, usam-nas em maior quantidade, demoram mais para buscar tratamento e apresentam mais problemas no tratamento.

Tratamento:

Educação sobre a doença, sintomas e suas conseqüências:
Baixa auto-estima
Comportamento de risco
Dificuldade em seguir programa de 12 passos.


Transtorno de Ansiedade

É o mais comum na população geral (1:4)

Mais comum entre dependentes que entre abusadores.

“Beber para relaxar ou para enfrentar”

A cada 10 pacientes que buscam abstinência, 7 têm transtorno de ansiedade.

T. Ansiedade 4:1 Dependente de álcool

T. Pânico 10:4 Abuso de substâncias

Uso de cocaína 10:6 Pânico

Fobia Social 10:5 Dependência de álcool.
Uso de substâncias como auto-medicação

Tentativa de equilibrar o sistema excitatório muito ativo (alarme)

Agravamento do transtorno primário.

Tratamento:
Evitar benzodiazepínicos (medicamentos de tarja-preta)
Uso de antidepressivos – reduz ansiedade, o desejo de beber, reduz recaídas
Não há potencial de abuso/dependência dos antidepressivos.


Transtorno Afetivo Bipolar (TAB)

TAB 10:3 Dependência de álcool

TAB 10:1 Dependência de drogas

Suicídio – 2 casos em cada 10

Impulsividade e falta de crítica

Maiores quantidades de substâncias usadas.



Tratamento
Orientações, atenção às tentativas de suicídio, controle sanguíneo da medicação.
O uso de psicotrópicos para estabilizar o humor é indispensável
Há perdas cognitivas leves durante as “crises” ou “ciclos”


Transtorno Depressivo

Depressão 5:10 Dependentes químicos

Deve-se investigar se a depressão é doença primária ou secundária ao uso

Etanol tem efeitos euforizantes e ansiolíticos fugazes e efeitos ansiogênicos e depressivos duradouros.

Tratamento:
Controle da vontade, motivação e auto-estima
Antidepressivos – indicação que considere outros comprometimentos clínicos. Reduzem o consumo de álcool e recaídas.



Transtorno de Personalidade (TP)

Kurt Schneider: “Psicopata é aquele que sofre ou que faz sofrer a sociedade. Não aprende com seus erros” (1887)

TP Borderline 10:8 Abuso de substâncias

TP Antissocial 10:9 Abuso de substâncias
Não se vinculam

Resistentes às mudanças de estágio

Baixa aderência ao tratamento

Abandono precoce do tratamento

Dificuldade em seguir regras e em aceitar figuras de autoridade

Manipuladores

Insensível “ao outro”

Baixíssima tolerância às frustrações.

Tratamento Farmacológico:
Não há medicação específica
Controle de sintomas – reação ao estresse e impulsividade
Evitar benzodiazepínicos
Usar antidepressivos ou antipsicóticos em baixas doses.



Transtornos Psicóticos

Sintomas: agitação, delírios paranóides, persecutórios, desorientação, confusão mental, alucinações auditivas e visuais, impulsividade e violência -> Investigar substâncias na urina

12% dos casos de esquizofrenia na Inglaterra foram desencadeados pelo uso de maconha.

Esquizofrenia 10:5 abuso de substâncias

A cada “crise” ou “surto” há perda irreversível de funções cognitivas.

Tratamento: Sempre usar antipsicóticos para evitar novos surtos

Trabalhar rede de apoio (família)


Transtornos Alimentares


Anorexia Nervosa


Peso corporal 15% abaixo do esperado

IMC < 17,5

Abstenção de alimentos que engordam

Vômitos auto-induzidos

Laxantes, diuréticos, anorexígenos

Exercícios físicos em excesso

Há distorção de imagem corporal

Amenorréia / Impotência sexual

Óbito em 20% dos casos


Bulimia Nervosa


Hiperfagia seguida por medo de engordar “neutralizado” por vômito auto-induzido, períodos de inanição, uso de laxantes, diuréticos e anorexígenos.

Peso normal

Após 6 meses de tratamento, 50% apresentam recaídas.


T. Alimentares 10:5 Uso de substância

Principalmente na bulimia (cocaína para controlar o peso)

Tratamento

Integrado
Fluoxetina
Bupropiona é contra-indicado.


Tabagismo


50% dos pacientes psiquiátricos fumam (25% da população geral)

Nicotina é droga – morte lenta e silenciosa

50% da população geral consegue parar de fumar, apenas 15% dos pacientes psiquiátricos o fazem.

Falsas crenças: Os pacientes não conseguirão parar de fumar; sem o cigarro ficarão ansiosos e agressivos.
Nicotina atinge o cérebro em 9 segundos

Funções cognitivas complexas: atenção, aprendizado, memória, percepção, controle motor e dor.

Estimula liberação de dopamina e serotonina -> sensação de prazer

Tabagistas 10:6 Depressão

Alcoolistas 10:9 Tabagistas

Usuários de drogas 20:19 Tabagistas

Tratamento:
Estratégias motivacionais
Modificação do uso de outras drogas / álcool
Bupropiona
Antidepressivos

Não fumantes mantém-se abstinentes de substâncias por períodos maiores que os fumantes





sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Carta a um Drogado - Rubem Alves - Correio Popular, Caderno C, 14/01/2001

Carta a um drogado




De todas os pássaros, os beija-flores são os que mais me fascinam. Suas cores brilhantes: verde, azul, preto. Nunca vi mas sei que alguns têm cores vermelhas. Flutuam no espaço como nenhum outro pássaro, suas asas batendo com uma velocidade tal que as torna invisíveis. E a velocidade do seu vôo: pairam no ar, imóveis, sugando a flor. De repente transformam-se em flechas que disparam pelo ar. Vivem do mel das flores. Enfiam seu bico fálico no orifício vaginal das flores, suas pequenas línguas saem e sugam o néctar doce.

Foi assim a primeira vez: como o beijo manso e inofensivo de um beija-flor. Você sentiu sua língua doce entrando no seu corpo. De repente tudo ficou colorido, brilhante, leve. Alegre. Como se você estivesse sendo tocado pelos deuses. Que bom se a vida fosse sempre assim!

O beija-flor se foi e sua vida voltou ao que era, o cotidiano de sempre que lhe parecia bobo e sem sentido. A vida ficava muito mais bonita com o beijo do beija-flor! O beija-flor voltou. Você ficou alegre. A experiência se repetiu. Você pediu que ele lhe enfiasse seu fino bico como da primeira vez. Esses beija-flores sempre obedecem. Você não percebeu que a lingüinha do beija-flor estava um pouquinho maior, entrava mais fundo em você. Mas, que importância tinha isso diante da alegria que o beija-flor lhe trazia?

Aí o beija-flor se transformou no seu pássaro encantado. Você pensava nele durante a sua ausência e sua vida passou a ser uma espera do seu retorno.

Cada vez que ele voltava sua língua ficava um pouco maior. Ia mais fundo. Dividiu-se em várias. Passou a entrar em muitas direções do seu corpo e da sua alma ao mesmo tempo. O beija-flor já não era o passarinho inofensivo do primeiro dia. Cresceu. Você percebeu que havia garras nos seus pés. E havia anzóis em suas línguas. Você começou a querer livrar-se dele. Mas ele já havia cavado buracos profundos no seu corpo e na sua alma. Na ausência do beija-flor esses buracos doíam com uma dor insuportável. Mas ele sempre voltava - tão diferente! - e fazia a dor passar. Agora o que o ligava ao beija-flor não mais era o prazer do primeiro dia. Era o prazer (tolo) de ver a dor passar.


A mitologia Grega conta de um herói, Prometeu. Prometeu desafiou os deuses, roubou o fogo e deu-o aos homens. Como castigo ele foi acorrentado numa rocha e um abutre vinha diariamente comer um pedaço do seu fígado.

Prometeu é você. O beija-flor o enganou. Disse-lhe que era possível ter a felicidade dos deuses sem fazer esforço: bastava aceitar o seu beijo. Você - menino bobão - acreditou. Agora você está acorrentado num rochedo. Você já notou que o beija-flor deixou de ser um beija-flor? Que ele se transformou num abutre? Vá diante de um espelho. Olhe-se com atenção. Veja a que lixo você foi reduzido!

O caminho em que você está tem apenas três fins possíveis.

O primeiro deles, o melhor, o que tem menos sofrimento, é a morte.

Ah! Ellis Regina! Você cantava tão bonito! Alegria para tanta gente! Mas as alegrias comuns da vida não lhe bastaram! Você queria alegrias maiores! Afinal de contas, os artistas bem que a merecem! Não sei se foi acidente ou se foi de propósito. O fato é que o beija-flor a matou.

Ah! Chet Baker! Você não sabe quem é Chet Baker? Aconselho-o a ir a uma loja de CDs e procurar por ele. Você vai ouvir o pistão mais veludo, mais suave, mais triste, mais bonito que você já ouviu. Que felicidade poder tocar pistão daquele jeito! Que felicidade ser amado do jeito como ele era, pela música que ele fazia. Mas ele não suportou as exigências do beija-flor que já havia se apossado do seu corpo. Incapaz de quebrar as correntes, ele achou que o único caminho era morrer. Somente a morte colocaria um fim ao seu sofrimento. A morte, freqüentemente, é a única saída.

O outro caminho é a loucura. O seu ‘hardware’ e o seu ‘software’ não agüentam a luta e você enlouquece. Será que há situações em que a pessoa deseja ficar louca? Sei que há situações em que a gente deseja ficar doente. Doente, a gente deixa de ter responsabilidades. Os outros cuidam da gente. Se você ficar louco não adianta o beija-flor vir. Os outros não vão deixar que ele entre. Dói muito a princípio. Se você não estivesse louco você deixaria que o abutre comesse mais um pedaço do seu fígado. Mas você está louco. Os médicos e enfermeiros o defendem.

O último caminho, eu acho, é o mais terrível. Por causa do beija-flor-abutre você é capaz de fazer qualquer coisa. E você vai entrando cada vez mais fundo num mundo sinistro e escuro do qual é muito difícil sair. Até que você comete um crime que o levará à prisão. Aí você passará a sua vida atrás das grades, no meio de criminosos cruéis - e você nem imagina a que humilhações você será submetido.

Essa carta, eu a escrevo admitindo a hipótese de que você queira quebrar as correntes. Se você não quer nem precisa continuar a ler. Será uma perda de tempo.

Há uma coisa que recebe o nome de ‘síndrome de abstinência’: ela é a dor que se sente na ausência do beija-flor-abutre. É dor física, é ansiedade, é angústia, é pânico, é desespero - tudo junto. Para se livrar dessa dor você será capaz de fazer qualquer coisa: você perde a razão. Aí, para que você não faça essa ‘qualquer coisa’, pessoas que o amam - se é que elas existem - tomam uma providência: internam você numa clínica. Internação em clínica é um artifício de força a que se recorre para impedir que você faça a tal ‘qualquer coisa’, na esperança de que, depois de muito sofrimento, a dor vá passando e as correntes fiquem mais fracas. De fato, com o tempo, as dores passam. Como passam também as dores que se tem quando uma pessoa querida morre. Com uma diferença: quem sofre a perda de uma pessoa amada sabe que não há nada que se possa fazer para que ela volte. Então, ela nem tenta. Convive com a sua dor. Não há outra alternativa.

Mas esse não é o seu caso. O buraco parou de doer. Mas ele continua lá. Continuam as memórias das experiências divinas. E as memórias tentam. Ah! Como tentam! E você diz: ‘Já estou livre! Só uma vez! Só uma última vez, vez de despedida. Não haverá outra...’

Jesus era sábio. Conhecia as armadilhas da alma. Contou uma parábola, a estória de uma casa onde morava um demônio. Aí o dono da casa ficou cheio com o demônio e o pôs para fora. Vazia a casa, ele a varreu, pintou e decorou. Mas ficou vazia. Passados uns dias o tal demônio, vagando pelas redondezas, passou pela casa onde morara e se surpreendeu: ‘Vazia! Ainda não tem morador!’ Foi, chamou outros sete demônios e se alojaram na casa. Jesus termina a parábola dizendo que o estado da casa ficou então pior do que era antes. Os demônios moram no Vazio.

Passadas as dores da ‘síndrome de abstinência’ o seu maior inimigo será o Vazio. Como diziam os filósofos antigos, a natureza não suporta o vazio. O vácuo ‘chupa’ o que está ao seu redor. Com o que concordam os que conhecem a alma: o Vazio é o lugar preferido dos demônios. Esta é a razão por que os místicos iam para o deserto, onde não havia ninguém. Não para ter paz. Mas para medir forças com os demônios. ‘E Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser testado pelo demônio.’

Agora, que você está livre da ‘síndrome de abstinência’, trate de encher o seu Vazio. Se você não o encher os demônios voltarão.

Pra lidar com o Vazio nada melhor que trabalho corporal, braçal. As atividades intelectuais e espirituais, que eu tanto amo, podem ser perigosas. Leitura, poesia, meditação, são remédios fracos. Fracos porque eles são vizinhos do mundo do beija-flor. Atividades intelectuais e espirituais freqüentemente têm efeitos parecidos com os das drogas. Marx estava certo quando comparou a religião ao ópio. Freud estava certo quando se referiu ao poder inebriante da música. Inebriante: que nos torna ébrios...

Aconselho que você se empregue numa oficina mecânica, numa construtora, como auxiliar de pedreiro, numa madeireira, numa carpintaria, como agricultor, como jardineiro, como enfermeiro, como lixeiro. Será inútil que você se dedique aos seus próprios hobbies. Você precisa de alguém, ligado aos trabalhos corporais, que saiba da sua situação, e que o aceite como aprendiz.

E é preciso não estar sozinho. Batalha que se batalha sozinho é batalha perdida. Batalha que se batalha com outros é batalha que pode ser ganha. Os AA sabem disso. Os Vigilantes do Peso sabem disso.

A vida, com todas as suas limitações e frustrações, merece ser vivida. Às margens do caminho esburacado há morangos que podem ser colhidos e comidos. Trate de viver. Trate de comer os morangos. Esforce-se por ser feliz!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

"Parece Milagre" - Revista Veja - 7 de Setembro de 2011 - Sensacionalismo? Falta de bom-senso?

A capa da Revista Veja de 7 de Setembro de 2011 mostra a liraglutida (nome comercial Victoza), um medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2, como objeto de desejo para quem sonha perder quatro, seis, oito, 10 quilos sem fazer força! O título da Edição é Parece Milagre


A Victoza funciona muito bem no paciente diabético, controlando a quantidade de açúcar no sangue. Proporciona outros benefícios combinados como redução da pressão arterial sistólica e melhora da função das células beta, responsáveis por sintetizar e secretar a insulina. Promove a perda de peso pelo fato de retardar o esvaziamento gástrico e aumentar a sensação de saciedade após as refeições.

“Liraglutida (ouVictoza) é um análogo de GLP-1, hormônio natural produzido pelo intestino que colabora para o metabolismo normal da glicose como outros hormônios pancreáticos e gastrointestinais como a insulina, o glucagon, a amilina. O medicamento, indicado para pacientes diabéticos do tipo 2, age no pâncreas estimulando a liberação de insulina apenas quando os níveis de açúcar no sangue estão altos”, explica Marcelo Freire, diretor médico do laboratório Novo Nordisk, que produz o Victoza.

Efeitos colaterais: prisão de ventre, hipoglicemia, cefaleia, tontura, infecção do trato aéreo respiratório (rinite, sinusite), infecção do trato urinário, dor nas costas, dor de estômago e inchaço ou vermelhidão no local da injeção.

Para perda de peso com finalidade estética – aqueles dois ou quatro incômodos quilinhos – a liraglutida é contraindicada. Mas há pesquisas em andamento com pacientes obesos (com IMC acima de 30) e não diabéticos.

Aplicada uma vez ao dia, por meio de uma caneta de injeção subcutânea, no horário mais conveniente para o paciente, proporciona comodidade ao paciente diabético, estimulando a adesão ao tratamento.

“O que não pode acontecer é a banalização do uso do medicamento. Não faz sentido prescrever a liraglutida com a finalidade de emagrecimento rápido. Vai contra tudo o que sempre pregamos, que é a manutenção da saúde por meio de atividade física regular e alimentação balanceada”, adverte o endocrinologista e médico do esporte Ronaldo Arkader, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

“Todo tratamento visando perda de peso envolve dieta e exercícios. Trabalhamos a adesão a hábitos saudáveis. Qualquer coisa além disso é acessório. Milagres não existem”, reforça o endocrinologista Ricardo Meirelles, presidente da Comissão de Comunicação Social na Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).


Porém o que parece milagre é como é que após tantas e tantas dietas mirabolantes, exercícios extenuantes e outros blá-blá-blás o assunto ainda vende - e muito - revista! Na Veja de 29 de novembro de 2000, uma matéria com exatamente o mesmo nome foi publicada.

Brasileiros comprovam resultados do programa americano de dieta e exercícios para mudar o corpo em doze semanas Flávia Varella

O americano Bill Phillips - professor de educação física e dono de um laboratório de suplementos nutricionais, montou um programa de dieta e exercícios que promete transformar corpos gordos e flácidos em silhuetas de atleta no reduzidíssimo prazo de doze semanas. Fotos que mostram as mudanças ocorridas nesses três meses aparecem no material de propaganda de sua empresa, Eas, e no livro Body for Life, que ele escreveu para difundir o programa.

 Numa academia no centro de São Paulo, um grupo de professores e alunos resolveu seguir à risca o plano proposto. Três vezes por semana, fazem sessões de 45 minutos com exercícios de musculação em que a idéia é levantar cada vez mais peso, chegando ao limite do suportável. Nos outros três dias, os exercícios são aeróbicos, em geral corrida ou bicicleta. São apenas vinte minutos, mas também de altíssima intensidade. Nesses seis dias, seguem uma dieta alimentar não muito diferente dos esquemas conhecidos por quem já tentou perder peso: seis refeições leves, relativamente restritivas, mas sem atingir o padrão famélico dos regimes mais drásticos. O sétimo dia é livre. Pode-se comer o que e quanto quiser e não é preciso levantar um dedo.

Os resultados parecem milagrosos. O diferencial que traz resultados tão rápidos e impressionantes está justamente no ponto em que é mais criticado por especialistas: a intensidade. "Para quem tem vida sedentária, começar com nível máximo de esforço é arriscado para a saúde, além de ser um sacrifício", diz o especialista Turibio Leite de Barros. O nutricionista Reinaldo Tubarão Bassit considera a dieta maléfica porque recomenda a ingestão de muita proteína e menos carboidrato do que o necessário para o esforço físico exigido. "Ela pode afetar rins e fígado e não fornece energia suficiente para a queima de gorduras e para que a pessoa renda o bastante no exercício", afirma.

 Body for Life é um sucesso porque os leitores e seguidores de Bill Phillips, como a grande maioria da humanidade, estão interessados em estética e não em saúde. E porque o autor também é fera em marketing. Há três anos, ele teve sua melhor idéia. Criou um campeonato desafiando as pessoas a transformar o corpo radicalmente no tal prazo de doze semanas. Neste ano, o concurso teve cerca de 500.000 inscritos e vai distribuir 1 milhão de dólares em prêmios – 100.000 dólares para o grande campeão. Com o concurso, além de lan&c um desafio estimulante para atrair adeptos, Phillips arranjou as melhores propagandas ambulantes do ramo: homens e mulheres comprovando que o método funciona.

"As fotos podem criar uma falsa expectativa porque mostram os vencedores, os casos extraordinários, não a média", diz Francisco Navarro, professor de fisiologia do esporte e revisor científico da tradução do livro. "Os que aparecem nas fotos são predestinados geneticamente a perder peso facilmente e ganhar músculos. O livro, porém, não fala que existe individualidade biológica", critica o personal trainer Irineu Loturco. Outro professor de educação física, Luiz Galasso, é mais desconfiado. "Alguns casos têm cara de doping ou mesmo lipoaspiração." Quem participa do concurso assina um termo garantindo que não fez uso de anabolizantes e esteróides. Os brasileiros não tomaram. E mudaram.

domingo, 21 de agosto de 2011

Eles têm culpa, sim - ANTHONY DANIELS - Revista Veja, 17 de agosto de 2011



OPsiquiatra e escritor inglês diz que as teorias sociológicas e psicológicas para explicar o Crime e o vício em drogas produzem cidadãos que não assumem suas responsabilidades.



Entrevista ANTHONY DANIELS



Revista Veja, 17 de agosto de 2011



O psiquiatra inglês Anthony Da­niels, de 61 anos, é mais conhe­cido em seu país como Theodore Dalrymple, pseudônimo utili­zado por ele em artigos com análises impiedosas mas realistas sobre o siste­ma prisional, o comportamento dos cri­minosos e o vício em drogas, entre ou­tros temas.



Aposentado desde 2005, começou a escrever sobre sua expe­riência de quinze anos como Médico em prisões britânicas quando ainda es­tava na ativa, daí a necessidade de assi­nar com outro nome. Antes, trabalhou em países africanos como Tanzânia, África do Sul e Zimbábue. Daniels é autor de 22 livros e colaborador regular de publicações como a revista The Spectator e o jornal The Telegraph. Re­centemente, escritos seus sobre a im­portância da religião foram citados no manifesto de Anders Breivik, o autor do massacre na Noruega. "Não fiquei nada feliz com isso", diz Daniels. Na semana passada, em visita ao Brasil, ele falou a VEJA.



O senhor costuma dizer que a influência das teses do suíço Jean-Jacques Rous­seau (1712-1778) prejudicou a noção de responsabilidade no mundo atual. Por quê?



Rousseau difundiu a idéia de que o ser humano é naturalmente bom, e que a: sociedade o corrompe. Eu não sou religioso, mas considero a visão cristã de que o homem nasce com o pecado original mais realista. Isso não significa que o homem é ine­vitavelmente mau, mas que tem de lu­tar· contra o mal dentro de si. Por in­fluência de Rousseau, nossas socieda­des relativizaram a responsabilidade dos indivíduos. O pensamento intelec­tual dominante procura explicar o comportamento das pessoas como uma conseqüência de seu passado, de suas circunstâncias psicológicas e de suas condições econômicas. Infeliz­mente, essas teses são absorvidas pela população de todos os estratos sociais. Quando trabalhava como médico em prisões inglesas, com freqüência ouvia detentos sem uma boa educação formal repetindo teorias sociológicas e psicológicas difundidas pelas uni­versidades. Com isso, não apenas se sentiam menos culpados por seus atos criminosos, como de fato eram trata­dos dessa maneira. Trata-se de uma situação muito conveniente para os bandidos, pois permite manter a cons­ciência tranqüila. Podem dizer que roubam porque não tiveram oportuni­dades de estudo, porque nasceram na pobreza ou porque sofreram algum trauma de infância, entre outras des­culpas. "Enquanto a sociedade não mudar, não se pode esperar que eu me comporte de outra forma", tal é o dis­curso corrente entre os presos.



Por que os intelectuais incentivam esse pensamento?



Intelectuais são, em geral, pessoas muito desonestas. Eles não pensam em si mesmos como irrespon­sáveis, mas costumam atribuir essa ca­racterística a outras pessoas com gran­de facilidade. Ao criarem explicações sociológicas e psicológicas para des­vios de comportamento, eles acabam por desumanizar os criminosos. Um exemplo disso ocorreu na Inglaterra anos atrás, quando houve uma onda de furtos de cano. Os bandidos envolvi­dos nesses crimes, além de lucrar com isso, realmente gostavam da emoção de furtar muitos veículos em um curto pe­ríodo de tempo. Alguns criminologis­tas e psicólogos, ao analisar o fenôme­no, começaram a dizer que furtar car­ros era uma forma de vício. Sobre essa teoria, produziram-se inúmeros estu­dos, alguns dos quais incluíam até exa­mes de ressonância magnética do cére­bro dos bandidos, para provar que se tratava de uma doença neurológica. Em pouco tempo, os ladrões de carro co­meçaram a me dizer na cadeia que eram viciados em furtar veículos. Eles obviamente não chegaram a essa con­clusão sozinhos. Apenas estavam repe­tindo urna tese produzida por arrogan­tes intelectuais de classe média que desconsideravam o fato de os bandidos serem capazes de escolher entre o certo e o errado independentemente de fato­res externos. Negar sua capacidade de discernimento é o mesmo que diminuir sua humanidade.



Isso também vale para criminosos com prováveis distúrbios mentais, como An­ders Breivik, que matou 77 pessoas no mês passado na Noruega?



Sim. Breivik pode ser louco, mas nem por isso é menos responsável por seus atos. Na tradição legal anglo-saxônica, o mero fato de você ser doente mental não sig­nifica que não esteja apto a responder por um crime. Depende do tipo e do grau da loucura. Suponhamos que os médicos descubram que Breivik tem um tumor no lobo frontal do cérebro. Em casos como esse, o indivíduo pode, sim, ser menos responsável por seus atos. Da mesma forma, muitos idosos com Alzheimer perdem a inibição se­xual e comportam-se de maneira ina­propriada. Há, portanto, algumas doen­ças neurológicas que atrapalham a ca­pacidade da pessoa de ter consciência plena de seus atos criminosos ou antis­sociais. Não acho que Breivik se encai­xe em nenhuma dessas categorias.



É possível arriscar um diagnóstico sobre Breivik?



O assassino norueguês é, ob­viamente, um homem muito estranho. , Ele tentou justificar a matança com um manifesto de 1500 páginas. A leitura de algumas páginas é suficiente para notar características muito claras.



A primeira é que ele acredita ter en­contrado as respostas para todos os problemas do mundo. A segunda é que ele é paranóico, pois pensa que há uma grande conspiração destruindo seu país. Terceiro, ele é narcisista. Breivik tem uma idéia muito elevada e exage­rada de sua própria aparência. À parte tudo isso, ele também tem inúmeros ressentimentos pessoais. Seu pai o abandonou quando ele era ainda muito jovem, por exemplo. A verdade, po­rém, é que nada disso serve para traçar o perfil de um assassino como ele. É possível encontrar muitas pessoas com as mesmas características e que nunca fizeram ou farão o que ele fez.



Em seu manifesto, a frieza de Breivik es­tá expressa na convicção de uma verda­de absoluta sobre o mundo. O senhor identificou frieza parecida, beirando a psicopatia, ao analisar a obra de ficção de Cesare Battisti, o terrorista de es­querda que foi condenado por quatro as­sassinatos na Itália e ganhou visto de permanência para viver no Brasil. O se­nhor vê semelhanças entre os dois?



Há semelhanças, sim. Ambos tinham certeza de que, com seus crimes, estavam fazendo o bem. Isso, evidentemente, demonstra que não tinham nenhum senso de proporção. Eles não conse­guiam perceber que sua irritação em relação à sociedade, ao sistema político e ao governo de seu país era, na verda­de, irrelevante e de uma dimensão muito inferior comparada a todos os outros problemas da humanidade. Sem esse freio psicológico ou moral, eles se con­sideraram no direito de dispor da vida de inocentes como bem entenderam.



Como explicar a simpatia de intelectuais e políticos brasileiros por Battisti?





Acho que, na visão dessas pessoas, Battisti teve coragem de exibir uma brutalidade que elas gostariam de ter tido em algum momento da vida. Ao apoiá-lo, elas dão respaldo simbólico a um passado pessoal perdido. Além disso, os crimes perpetrados por esta­dos e grupos totalitários de esquerda ainda encontram justificativa ideológi­ca. Muita gente acredita piamente que os erros cometidos em nome do co­munismo foram por uma causa nobre, o que é um absurdo. Em especial, os intelectuais que compactuavam com o marxismo. Dá para entender: eles eram levados a acreditar que tinham um papel de liderança na sociedade. Com o desmoronamento do Muro de Berlim, foram empurrados para a irre­levância. Tudo o que esses intelec­tuais mais odeiam é uma sociedade que não precisa deles. Por isso, prote­gem indivíduos como Battisti: para reviver um período idealizado.



O senhor é a favor de prender consumidores de drogas?



A maneira como ve­mos o vício de drogas é errada. Trata­mos os viciados como vítimas, incapa­zes de ser responsabilizados por suas escolhas. Isso é falso. Eles não são ví­timas de seu próprio comportamento. Não existe droga tão viciante a ponto de ser impossível livrar-se dela. Os drogados usam os entorpecentes por uma decisão pessoal. Isso não significa que eu não me solidarize com essas pessoas. O estado mental que as drogas induzem é muito atraente para elas, em comparação com sua realidade. Mas, quando cometessem algum crime, ain­da que pequeno, sob efeito de drogas ou para comprá-las, os viciados deve­riam ser forçados a entrar em uma clínica de reabilitação. Se não aceitassem o tratamento, deveriam ser mandados para a prisão. Isso lhes daria motivação para levar a sério o processo de reabili­tação, pois o maior problema com o ví­cio é que as pessoas não encontram ra­zões para parar. O medo da prisão pode ser uma delas. A outra é a certeza de ter uma vida melhor livre das drogas.



A prisão pode ser eficiente mesmo com a facilidade de conseguir drogas atrás das grades?



Sim, porque o indivíduo não estará na rua, violando a lei. A prisão não é uma instituição terapêuti­ca. Sua função principal é prevenir crimes que um condenado poderia co­meter se estivesse solto. Há também evidências de que, quanto mais tempo uma pessoa fica na cadeia, menor a probabilidade de voltar à bandidagem depois de ser libertada.



Penas longas são mais eficientes?



Sim. Na Inglaterra, por exemplo, temos pe­nas muito brandas e poucos detentos. Isso não é bom. A polícia inglesa, muito incompetente, prende apenas um em cada doze assaltantes de casas .. Destes, um em cada treze recebe pena de prisão. Isso significa que apenas um em cada 156 assaltantes cumpre pena em presídio. A média para esse tipo de crime é de um ano de cadeia. Na In­glaterra, isso significa que o bandido é solto em apenas seis meses. Com uma punição tão leve, a pergunta não é por que ocorrem tantos assaltos, mas por que há tão poucos. Meu país deixou de ser uma sociedade ordeira para se tor­nar uma das mais afetadas pela crimi­nalidade, quando comparada a outras da Europa. O número de presos caiu em proporção ao de crimes. Em 1900, para cada 6,5 crimes registrados, havia um detento. Em 2000, eram 114 cri­mes para cada preso. Claro que penas curtas são melhores do que nada. Um bandido reincidente comete, em mé­dia, 140 crimes por ano. Ou seja, se ele for mantido na prisão por seis me­ses, setenta crimes serão evitados, o que também é bom. Um dos argumen­tos contra as penas de prisão é que a maioria dos detentos é pobre, e que is­so é injusto. Ocorre que a maior parte de suas vítimas também é pobre.

E, como o número de vítimas é sempre muito maior do que o de bandidos, prendê-los não é uma punição aos pobres, mas um benefício a eles.



A Justiça brasileira passou a ter à sua disposição medidas altemativas à prisão preventiva, como monitoramento eletrô­nico e pagamento de fiança. Isso é bom?



Pela experiência britânica, tais medidas são um desastre. Um terço de to­dos os crimes da Escócia, inclusive es­tupros e assassinatos, é cometido por pessoas em liberdade condicional. Sou a favor desse recurso em algumas cir­cunstâncias, como para crimes não violentos, mas para uso geral é uma tragédia. As tornozeleiras eletrônicas são uma temeridade em lugares onde a administração pública não é eficiente. Nem na Inglaterra a polícia consegue monitorar os criminosos com esses equipamentos. A pena de prestação de serviços comunitários também é um pesadelo. A taxa de reincidência para bandidos condenados a prestar servi­ços comunitários é a mesma dos que recebem pena de prisão: 70%. O pro­blema é que a estatística conta apenas os crimes cometidos após o fim da pe­na. Nada garante que, enquanto estão soltos, prestando serviços comunitá­rios, eles não cometam novos crimes. Por fim, em média, cada detento na In­glaterra já foi condenado outras dez vezes a penas alternativas. Ou seja, não adiantou nada. Basicamente, ao saber que cumprirão penas alternativas e ficarão soltos, os bandidos se con­vencem de que não têm nada a perder ao cometer um crime. É melhor man­tê-los presos, e por bastante tempo.













segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ministério Público X FIFA: álcool na Copa no Brasil?

Para promotores, a possível liberação da venda de bebidas alcoólicas nos jogos da Copa é retrocesso

Gazeta do Povo - VANESSA PRATEANO

Regras em vigor

Veja como avançou a proibição no país e qual é o temor do MP:

Estatuto do Torcedor

O artigo 13 prevê que o torcedor não pode “portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência” em estádios.

Regulamentações

Antes de 2010, quando a lei de 2003 foi regulamentada, o que prevalecia era o protocolo de intenções firmado pela CBF e as legislações estaduais e municipais ou Termos de Ajustamento de Conduta para jogos das federações.

Lei geral

Após 2010, a lei federal suplanta todas as demais e, para que a Fifa possa comercializar cerveja dentro dos estádios, será preciso que o Congresso suspenda ou invalide o artigo atual. Isso também pode ocorrer via Medida Provisória, emitida pelo Executivo.

Risco

O receio do Ministério Público é que, ao ser suspenso, o artigo perca força, e isso abra precedentes para que a CBF e as federações exijam a liberação nos jogos de sua competência, sepultando a lei.

Médicos criticam ação

A possível mudança da lei provocou reações entre a comunidade científica e médica. A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) tem se posicionado contra a mudança desde 2009, quando o órgão soltou uma nota criticando a postura da Fifa e a intenção da CBF de apoiar a entidade internacional.

O presidente da Abead, o psiquiatra gaúcho Carlos Salgado, afirma que ficou chocado com a notícia. “Como cidadão, eu lamento o recuo do poder público diante do poder econômico. E como médico, igualmente, pois a medida tem efeito comprovado e amplo apoio da comunidade científica e da população.”

O psiquiatra Dagoberto Requião, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, lembra que, por ser uma droga depressora da atividade cerebral, o álcool diminui a noção de autocrítica da pessoa, fazendo com que ela aja por meio de estímulos do grupo. “Num ambiente com tanta gente, a personalidade já se dilui rapidamente. Com o estímulo do álcool, isso se potencializa e podem surgir confrontos.”

O médico paranaense critica duramente a medida. “Seria como permitir que, durante a Copa, os motoristas pudessem cometer infrações sem receber punição. Uma vergonha.”

Segurança

País tem regras contraditórias

Pelo artigo 17 do Estatuto do Torcedor, cada entidade organizadora de eventos esportivos no país precisa elaborar um plano de segurança para garantir o bem-estar e o conforto dos torcedores, o que envolve desde o transporte e acomodação até a alimentação. Nos níveis nacional e estadual, os planos de segurança da CBF e das federações estão contemplados em protocolos de intenções e em Termos de Ajustamento de Conduta.

No caso da Fifa, o plano equivale a um Caderno de Diretrizes de Segurança, elaborado pela entidade. O que intriga o Ministério Público é que um caderno publicado em 2004 proíbe o consumo de álcool nos estádios, mas um caderno posterior, de 2008, libera a prática. No momento, mesmo com movimentações do Ministério dos Esportes no sentido de ceder à pressão da entidade, o MP espera que a lei em prática seja respeitada.

Para o procurador de justiça José Antônio Baeta, a pressão feita pela Budweiser acarretaria mais prejuízos do que benefícios, pois iria na direção contrária de uma medida consolidada e apoiada pela população.

Retrocesso. Este é o termo que vem sendo utilizado por membros do Ministério Público (MP) de todo o país para qualificar a possível suspensão, durante a Copa do Mundo de 2014, da legislação que proíbe a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios brasileiros.

A polêmica surgiu após o ministro dos Esportes, Orlando Silva, declarar que o Estatuto do Torcedor, de 2003, pode deixar de vigorar durante o torneio para atender a um pedido da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Um dos patrocinadores da Copa é a cervejaria belgo-brasileira Budweiser.

Desde 2008, nos jogos das séries A e B do Campeo­nato Brasileiro, nenhum torcedor pode consumir bebida de teor alcoólico dentro dos estádios. Naquele ano, a Confe deração Brasileira de Futerbol (CBF) assumiu o compromisso de cumprir a lei ao assinar um protocolo de intenções junto ao Conselho Nacional de Procura dores-Gerais de Justiça (CNPG).

Avanço ameaçado

Para o promotor do Ministério Público paulista Paulo Castilho, o artigo 13-A da lei, que determina a proibição, é um avanço num país onde casos de violência no futebol ainda são recorrentes. “É sabido que o álcool num ambiente de competição ge ra violência. Isso já está provado. A mudança, sem dúvida ne nhuma, será um retrocesso”, avalia ele, que já afirmou que entrará com ações para fazer valer a lei.

O procurador de Justiça do MP de Minas Gerais José Antônio Baeta, coordenador nacional da Comissão Permanente de Prevenção e Combate à Violência nos Estádios de Futebol do CNPG, conta que, em 2006, quando a proibição foi adotada em Minas, o número de ocorrências baixou para zero dentro dos estádios.

Na capital mineira, um estudo da PM mostrou que foi necessário aumentar em 30% o efetivo policial feminino para revistar o maior número de mulheres que passou a ir aos jogos. O tempo de dispersão dos torcedores na saída das partidas passou de 70 para 30 minutos em média. “Essa lei é uma das mais avançadas do mundo. Não tenho dúvidas de que se for suspensa, potencializará a violência.”

Legitimidade

O receio do órgão é que, ao ceder à Fifa, o governo tenha de manter a exceção quando a Copa terminar. “A lei pode perder a força e a legitimidade. Se permitimos o ato por parte de uma entidade que vem de fora, como proibir a CBF e as federações de fazer o mesmo?”, indaga a promotora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor do MP-PR Cristina Ruaro. “Com a suspensão da lei, abre-se um estado de exceção.”

Para Cristina, há outro aspecto que fere não apenas o Estatuto, mas a Constituição: por contrato, apenas a Budweiser pode ser comercializada nos estádios, o que colocaria em risco o princípio de livre-concorrência. “O que temos de refletir é: até que ponto vamos aceitar isso? A Copa é um desejo de todos os brasileiros, mas não pode ser realizada a qualquer custo.”

O governo brasileiro está inclinado a ceder à Fifa e permitir a venda de bebidas alcoólicas em estádios durante a Copa do Mundo de 2014. A concessão viria com algum condicionante de pequeno impacto, como proibir a comercialização apenas nos minutos finais das partidas, quando os torcedores estão prestes a deixar os estádios.

O consumo de álcool em em eventos esportivos é vedado por legislações estaduais. O Estatuto do Torcedor, uma lei nacional, diz que é proibido o "ingresso de pessoa com bebidas e substâncias que possam causar a prática de atos de violência. "Contudo, a Fifa tem entre seus principais patrocinadores uma empresa de cerveja e insiste na liberação para garantir visibilidade e pontos de venda exclusivos ao parceiro.

Em audiência na Câmara o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, sustentou que a venda não causa incidentes graves, desde que seja feita com regras.

- É verdade que limitar o álcool reduz muito os atos de violência. Mas, na Alemanha e na África do Sul, a venda controlada nunca provocou problemas. Temos esse acordo com a Budweiser. A bebida não pode ser distribuída em garrafas, mas copos de plástico - exemplificou.

Valcke explicou que a Rússia, cuja legislação considera mais rigorosa que a do Brasil, entendeu que a Copa é um evento privado e, por sua condição especial, liberou o consumo nos estádios em 2018.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Slides da Palestra "Doenças Mentais que facilitam o abuso de substâncias"

TRANSTORNO MENTAL

É o conjunto de sintomas ou comportamentos associado a sofrimento e interferência em funções sociais.


DEPENDÊNCIA QUÍMICA

CID 10 – SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA:

Desejo forte ou compulsão para o uso

Dificuldade em controlar início, término ou nível de consumo

Síndrome de abstinência

Abandono de outros prazeres ou interesses

Persistência do uso apesar de comprometimentos físicos, emocionais e cognitivos


Diagnóstico Duplo ou Comorbidades

É a ocorrência de dois diagnósticos (doenças) em um mesmo indivíduo.

Das 10 doenças mais comuns hoje, 5 são Psiquiátricas:

Depressão

Alcoolismo

Transtorno Afetivo Bipolar

Esquizofrenia

Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Diagnóstico Duplo ou Comorbidades



Em portadores de Transtornos Mentais, o abuso ou dependência de substância é a comorbidade mais freqüente.

Platão: mania e uso de álcool.

Conseqüências mais sérias

Aumento de incidência.

Como diagnosticar as Comorbidades

História familiar

Exames laboratoriais

Questionários direcionados

Testes psicológicos

Observação clínica

Uso do CID10 ou DSM IV


Transtorno de Personalidade (TP)
Kurt Schneider: “Psicopata é aquele que sofre ou que faz sofrer a sociedade. Não aprende com seus erros” (1887)

TP Borderline 10:8 Abuso de substâncias
TP Antissocial 10:9 Abuso de substâncias

Não se vinculam
Resistentes às mudanças de estágio
Baixa aderência
Abandono precoce do tratamento
Dificuldade em seguir regras e em aceitar figuras de autoridade
Manipuladores
Insensível “ao outro”
Baixíssima tolerância às frustrações.


T P Borderline (Emocionalmente Instável)


Mulheres 3:1 Homens

Não há identidade ou autoimagem

Relações intimas como “elásticos” que se esticam ao máximo

“Crateras” emocionais

Fantasias de abandono

Ciúme patológico

Tentativas crônicas de suicídio

Autolesões/tatuagens



Automutilações

Esmurrar-se, chicotear-se, enforcar-se

Morder mãos, lábios, língua, ou braços

Reabrir feridas (dermatotilexomania)

Arrancar os cabelos (tricotilomania)

Queimar-se (cigarro, produto químico, sal e gelo)

Furar-se (agulhas, arames, pregos, canetas)

Beliscar-se,

Ingerir agentes corrosivos, alfinetes

Envenenar-se, medicar-se


O Sociopata e a Borderline

Combinação comum,

Brigas freqüentes,

Demonstrações exageradas de amor, ciúme, raiva,

Agressões verbais e físicas

Relação sado-masoquista

Transtorno de Personalidade (TP)





Tratamento Farmacológico:

Não há medicação específica

Controle de sintomas – reação ao estresse e impulsividade

Evitar benzodiazepínicos

Usar antidepressivos ou antipsicóticos em baixas doses.


Exagerado Cazuza

Amor da minha vida Daqui até a eternidade Nossos destinos Foram traçados na maternidade

Paixão cruel desenfreada Te trago mil rosas roubadas Pra desculpar minhas mentiras Minhas mancadas

Eu nunca mais vou respirar Se você não me notar Eu posso até morrer de fome Se você não me amar

E por você eu largo tudo Vou mendigar, roubar, matar Até nas coisas mais banais Prá mim é tudo ou nunca mais

Exagerado Jogado aos teus pés Eu sou mesmo exagerado Adoro um amor inventado

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Medicina do vício - THE NEW YORK TIMES

A Medicina do vício - THE NEW YORK TIMES


Faculdades de Medicina dos EUA criam programas de residência para estudar a relação entre vício e a química do cérebro

Há um debate antigo sobre o alcoolismo: é problema na cabeça do sofredor – algo que pode superar a terapia da força de vontade, espiritualidade e diálogo, talvez – ou é uma doença física, que precisa de tratamento médico contínuo da mesma forma que exigem diabete ou epilepsia? Cada vez mais o estabelecimento médico está se sobrepondo ao último diagnóstico.

Nas evidências mais recentes, dez faculdades de medicina nos Estados Unidos apresentaram os primeiros programas de residência credenciados sobre a medicina do vício, nos quais médicos que concluíram a faculdade de Medicina e a residência primária poderão passar um ano estudando a relação entre o vício e a química do cérebro.


“Este é o primeiro passo rumo ao reconhecimento, respeito e rigor à medicina do vício”, disse David Withers, que supervisiona o novo programa de residência no Centro de Tratamento de Dependência de Álcool e Entorpecentes Marworth, em Waverly, Pensilvânia.

Médica relata dificuldade para tratar pacientes

Christine Pace, de 31 anos, formada pela Faculdade de Medicina de Harvard, é a primeira residente da medicina do vício no Centro Médico da Universidade de Boston. Ela se interessou pelo assunto na adolescência, quando trabalhou como voluntária em uma organização de tratamento da aids e ouvia viciados em heroína reclamarem dos médicos que não podiam ou não queriam ajudá-los.

Neste ano, quando se tornou médica interna de uma clínica de metadona em Boston, ela ficou consternada ao descobrir que as reclamações não mudaram.

“Vi médicos repetidas vezes deixando isso de lado, apenas chamando um assistente social para lidar com pacientes que lutam contra o vício”, conta Pace.

O objetivo dos programas de residência, que começaram no dia 1.º de julho com 20 alunos de várias faculdades, é estabelecer a medicina do vício como padrão especialmente com as linhas de pediatria, oncologia e dermatologia.

Os residentes tratarão os pacientes com uma série de vícios: álcool, drogas, remédios controlados, nicotina e muito mais – e o estudo da química do cérebro envolvida e o papel da hereditariedade.

“Antigamente, a especialidade estava muito mais voltada para os psiquiatras”, diz Nora D. Volkow, neurocientista encarregada do Instituto Nacional de Abuso de Drogas. “É uma falha do nosso programa de treinamento”.

Ela considera a falta de educação so bre o abuso de substâncias entre os mé dicos em geral “um problema muito sério”.

A reconsideração do vício como pa tologia em vez de uma doença estritamente psicológica começou há cerca de 15 anos, quando pesquisadores descobriram via exames de alta ressonância que o vício das drogas resultou em alterações físicas do cérebro.

Munidos dessa informação, “o tratamento dos pacientes com vício torna-se bem mais parecido com o tratamento de outras doenças crônicas, como asma, hipertensão ou diabete”, afirma Da niel Alford, que supervisiona o programa no Centro Médico da Universidade de Boston. “É difícil curar necessariamente as pessoas, mas certamente você pode controlar o problema ao ponto de elas poderem viver bem com uma combinação de remédios e terapia.”

A essência do entendimento do vício como doença física é a crença de que o tratamento deve ser contínuo para evitar a recaída. Assim como ninguém espera que um paciente seja curado após seis semanas de dieta e administração de insulina, argumenta Alford, não faz sentido esperar que a maioria dos viciados em drogas seja curada depois de 28 dias em uma clínica de desintoxicação.

“Não é surpresa para nós agora que quando você interrompe o tratamento, as pessoas têm recaída”, diz ele. “Isso não significa que o tratamento não funciona, apenas significa que é preciso continuar o tratamento”. Essas alterações físicas no cérebro também poderiam explicar por que alguns fumantes ainda desejam o cigarro depois de 30 anos sem fumar, observa Alford.

Se a ideia do vício como doença crônica demorou em entrar no círculo da medicina, deve ser porque os médicos às vezes relutem em entender o funcionamento do cérebro, reitera Volkow. “Embora seja muito simples entender uma doença do coração (o coração é muito simples, é apenas um músculo), é muito mais complexo entender o cérebro.”

O aumento do interesse na medicina do vício é uma série de novos medicamentos promissores, mais notavelmente a buprenorfina (vendida sob nomes como Suboxone), que provou amenizar os sintomas da abstinência em viciados em heroína e subsequentemente bloquear o desejo do consumo, embora cause efeitos colaterais. Outros medicamentos para o tratamento da dependência do ópio e do álcool também se mostraram promissores.

Poucos especialistas em medicina do vício defendem um caminho para recuperação que dependa exclusivamente de remédios, porém.

“Quanto mais aprendemos sobre o tratamento do vício, mais percebemos que uma regra não vale para todos”, diz Petros Levounis, encarregado da residência no Instituto do Vício de Nova York no St. Luke’s-Roosevelt Hospital.

Igualmente maligna é a ideia de que a psiquiatria ou o programa de 12 passos sejam adequados para curar uma doença com raízes físicas no cérebro. Muitas pessoas que abusam de substâncias não têm problemas psiquiátricos, observou Alford, que acrescenta: “Acho que há absolutamente uma função para os psiquiatras do vício”.

Embora cada faculdade tenha desenvolvido sua própria grade curricular, as competências básicas que cada uma procura transmitir são as mesmas. Os re sidentes aprenderão a reconhecer e diagnosticar abuso de substâncias em pacientes, conduzir breves intervenções que apresentam as opções de tratamento e prescrever os medicamentos adequados.

Espera-se também que os médicos entendam as implicações legais e práticas do abuso de substâncias.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Viciado em jogos morre aos 20 anos

O inglês Chris Staniforth, de 20 anos, morreu de uma trombose venosa profunda causada pelo vicio em vídeo game. Ele jogava Xbox por, pelo menos, doze horas sem descanso.

Chris passou mal durante uma entrevista de emprego. Um amigo que o acompanhava chamou a ambulância, mas o jovem não resistiu e morreu a caminho do hospital.

A TVP é um coágulo no sangue que está geralmente associada a longos períodos de inatividade, como sentar em um voo de longa distância.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Embaixadores da Prevenção

Oi, gente,




Estou participando de um projeto que tem como objetivo realizar prevenção ao uso de álcool, tabaco e drogas entre crianças, já que o primeiro contato com tais substâncias tem acontecido entre 10 e 12 anos!!!



Gravei 2 entrevistas para o programa AÇÃO NACIONAL, apresentado na TV Séc XXI às quintas-feiras 22:30h - o primeiro deles foi ao ar ontem e o segundo será apresentado dia 4/08.



Amanhã, sábado 30/07/2011, participarei de um debate ao vivo na mesma emissora, de 09:30 às 11:30h, no programa ORIENTE-SE, com Ivan Capelato e Ricardo Galhardo. O Programa é interativo e os telespectadores podem enviar perguntas.



Esse projeto é muito especial para mim, estou bastante envolvida com ele e gostaria de compartilhá-lo com vocês, convidá-los a participar e pedir sua ajuda para divulgá-lo.



Muito obrigada!



Débora

sábado, 23 de julho de 2011

Amy Winehouse morre aos 27 anos

A cantora inglesa Amy Winehouse foi encontrada morta em sua casa às 16h (horário de Londres) deste sábado, em sua casa em Londres. Suspeita-se que a artista tenha sofrido overdose de drogas.
a cantora tinha 27 anos e possuía um longo histórico de uso de drogas e álcool.

Drogas, agressão à pele em forma de enfeite, perda da autoimagem. Os fãs se identificavam com seu comportamento, mas não notaram a gravidade de sua doença psiquiátrica
Antonio Carlos Prado

Não houve glamour na vida e muito menos na morte de Amy Wine house. Houve doença, uma intrincada enfermidade psiquiátrica denominada Transtorno da Personalidade Borderline – suas portadoras (predomina em mulheres na proporção de gênero de três para um entre a população mundial adulta) são invadidas constantemente por avassaladores sentimentos imaginários de abandono e sofrem terrível desmoronamento do ego, desintegração da identidade e da autoimagem. São impulsivas, mantêm suas relações interpessoais como um elástico que se tensiona ao máximo, as suas emoções e humor são fios desencapados em curto-circuito.

Sentem-se esburacadas e autolesionam a pele para aplacar a dor da alma, sempre encharcada pela sensação, quase nunca real, de perda de pessoas que lhes são queridas. Assim, nesse inferno psíquico, viveu Amy Winehouse, falecida em Londres no sábado 23 e cremada na terça-feira segundo os preceitos religiosos judaicos. O funeral ocorreu sem que se soubesse com precisão a causa da morte, e isso só virá a público em algumas semanas, assim que a médica legista Suzanne Greenaway concluir os exames toxicológicos das vísceras retiradas do cadáver da cantora. Seja qual for a causa, no entanto, um fato está dado: mais do que simplesmente morrer, Amy descansou um corpo maltratado, um cérebro embotado e um músculo cardíaco esmagado pelo uso ininterrupto, abusivo e nocivo de vodca e coquetéis de outras drogas que chegaram a cruzar cocaína, heroína, anfetaminas, ecstasy e até quetamina (anestésico de cavalo). Em outras palavras, ainda que a causa mortis não revele overdose, sua precoce partida aos 27 anos foi acelerada pelo Transtorno de Abuso de Substâncias como um transatlântico que se dirige loucamente para espatifá-lo contra um iceberg.

O Transtorno de Abuso de Substâncias é, digamos assim, uma das franjas visíveis, concretas e palpáveis do Transtorno da Personalidade Borderline, e também uma de suas marcantes características. Essa expressão inglesa significa fronteira ou fronteiriço e foi utilizada pela primeira vez para determinar um tipo específico de distúrbio patológico da personalidade no final da década de 1960 pelo pesquisador Otto Kernberg – nos primórdios da psicanálise ela servia para designar a fronteira entre a neurose e a psicose, serventia essa totalmente desconsiderada pela psiquiatria moderna, que cravou um diagnóstico próprio da doença. A rigor, ser Amy Winehouse não é para a mulher que quer, é para a mulher que pode. Isso vale para sua fenomenal voz de branca a cantar como uma diva negra do soul, mas esqueçamos a voz e continuemos concentrados em seu comportamento. Ou seja, para ser a turbulenta Amy há de trazer consigo “pesadas ferramentas” biológicas, psicológicas e ambientais para desenvolver tal tipo de personalidade. É por isso que se diz, aqui, que não é para quem quer, mas, tristemente, para quem pode – e, creiam, a mulher que possui tais ferramentas agradeceria à ciência ou a Deus se com elas pudesse nunca ter entrado em contato, assim como Amy, aos berros e na impulsividade, ou aos prantos e na depressão, muitas vezes implorava querer “ser trocada por outra”.

No campo psicobiológico, aquilo que se chamou de “ferramenta” pode ser traduzido tecnicamente pelo funcionamento descompassado no cérebro do neurotransmissor serotonina. Tentativas recorrentes de suicídio são traços do transtorno e estudos recentes constataram concentrações mínimas do ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA, metabólito da serotonina) em pessoas deprimidas que haviam tentado suicídio. No campo ambiental, pesa na infância a negligência ou a desatenção dos pais, abusos físicos, emocionais ou sexuais da criança. Pois bem, tentativas de suicídio – praticamente crônicas – não faltaram na vida da cantora ao utilizar drogas e cruzar vodca (sua dependência química prevalente) com medicamentos (cerca de 6% das borderlines que tentam suicídio conseguem consumá-lo, aproximadamente 60% de mulheres em ambientes institucionais psiquiátricos ou prisionais são borderlines). Quanto ao ambiente, sabe-se que seu pai, Mitch, disputava desde cedo com ela a atenção da mãe, Janis.

Na idade adulta, o que se viu foi novamente o pai taxista tentando pegar carona na fama da filha a ponto de lançar-se como cantor, atitude que arrastou Amy para uma profunda depressão – tal comportamento de Mitch voltou a ser criticado nos últimos dias pela imprensa inglesa e americana.

TRANSFERÊNCIA

Os fãs põem litros de vodca em frente à casa de Amy: identificação com seu alcoolismo

Falou-se antes da constante oscilação e perda da autoimagem e identidade como fortes componentes do Transtorno da Personalidade Borderline, e nesse buraco da identidade é que entram, por exemplo, a droga e o “lance da pele” (é como se faltasse uma pele protetora do ego), que vai da dermatotilexomania (provocar escoriações no próprio corpo) ao prazer ou autoagressão em se cobrir de tatuagens. Ao não ter fixada uma identidade em si nem um ego consistente, Amy, até por viver sobre palcos e sob refletores, fez da sua pseudoimagem de adicta a sua própria identidade enquanto pessoa – ou, na inteligente e sensível expressão do professor de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo Ronaldo Laranjeira, para a cantora “a doença fazia parte de uma liberdade poética”. Os seus fãs incondicionais, o público em geral e a indústria da música, por sua vez, “compravam” e “vendiam” essa identidade, era cada vez mais essa a identidade que esperavam de Amy e, perversamente, de forma involuntária ou não, a reforçavam. Em meio a tudo isso e a todos, ela era idealizada e idolatrada quando parava em pé no palco, desvalorizada e ridicularizada quando se exibia cambaia, como aconteceu ainda esse ano em seu último show, na Sérvia. Incrível, poucos viram que ali não havia nada além de doença.

O público sempre é passional e volúvel. Quanto aos fãs, com certeza é com carinho e boa intenção, mas também com grande dose de ignorância sobre saúde mental, que levam garrafas de vodca ao santuário que se montou diante da casa da cantora no bairro boêmio londrino de Camden Town – se Amy só se identificava com a Amy alcoolista, os seus fãs, num processo quase psicoterapêutico de transferência, também se identificam com essa Amy. Para a indústria do som, cifras nos olhos, o que não é lucro não está no mundo, e já festeja que o álbum “Back to Black”, de 2006, saltou para o primeiro posto na lista de mais vendidos nos EUA assim que a morte da artista foi anunciada.

Nos buracos do cenário borderline, cenário com simbólicos pregos emocionais por todos os cantos, a portadora do transtorno vai pondo tranqueira atrás de tranqueira na busca desesperada de preencher o seu vazio e aliviar o “torno psíquico” que não cessa de apertar. É comum encontrar-se mulheres presas que são borderlines e deveriam estar em tratamento e não encarceradas – acabam presidiárias porque, na ânsia de se “colarem” ao outro para ter uma identidade psíquica, muitas vezes se “colam” em tranqueiras traficantes. Elas anônimas, Amy Winehouse famosa, a história é a mesma. A cantora, no auge de uma de suas crises, casou-se em 2007 com o produtor e traficante (olha aí!) Blake Fielder-Civil. O relacionamento durou dois anos e a maior parte dele Blake passou na cadeia – e lá continua por roubo e posse de arma que não era verdadeira, era de brinquedo (ele não foi autorizado a sair da prisão para ir ao funeral). Agora, funeral feito, o que não faltam são vozes a dizer que Amy errou, não se tratou medicamente, não aproveitou as internações: “tentaram me mandar para reabilitação/eu disse não, não, não/ele tentou me mandar para reabilitação/mas eu não vou, vou, vou”, diz uma de suas famosas canções, chamada “Rehab”. Os que agora a criticam, e certamente entre eles há os que depositam garrafas de vodca diante de sua casa vazia, precisam saber que Amy era, em essência, enferma. Em “Beat The Point To Death”, ela cantou: “além disso estou doente/de ter de encontrar alguma paz”. Amy hoje tem paz, o “torno” borderline afrouxou-se, a montanha-russa borderline cessou de despencar, mas é a inútil paz dos mortos, não a fecunda paz dos vivos. De fato, não houve nenhum glamour em sua vida e muito menos em sua morte.