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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Entrevista Jornal PUCCAMP Junho/2010

- Quais os efeitos/consequencias do uso do crack para o corpo? Quais os órgãos mais afetados pela droga?


O crack é uma droga utilizada a partir da queima da pedra, que emite um som que deu nome à droga. A fumaça liberada entra bastante quente pela boca (fumada em cachimbos ou latas de alumínio) e queima dedos, lábios, vias aéreas e pulmões, onde predispõe o aparecimento de pneumonia, tuberculose e enfizema pulmonar. O uso da lata de alumínio causa intoxicação por alumínio.

Em 10 segundos a droga atinge o sistema nervoso central, o cérebro e, mais especificamente o córtex frontal. Lesa o centro do controle do prazer já nos primeiros usos (pode ser já na primeira vez), o que faz com que o usuário não seja mais capaz de sentir prazer em nenhuma outra atividade que não seja o uso do crack. O usuário torna-se, então, apático e indiferente. Pode causar depressão, ansiedade e até esquizofrenia. Também causa alterações da marcha, da memória, da atenção, da concentração e da coordenação motora, a pessoa perde a noção de tempo e de espaço.

A droga tira a necessidade de dormir e de se alimentar, podendo gerar desnutrição - que é ainda mais grave em crianças pois compromete todo o desenvolvimento.

Lesa os vasos sanguineos causando vasculite crônica, causandi Infarto e AVC.











-Como funciona essa droga no organismo e o que a torna tão potencial na questão da dependência?

A droga atua alterando a liberação de dopamina - neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar - causando sensação de prazer e euforia. O curto tempo de ação (10 segundos) e o baixo preço são os atrativos para o primeiro uso, a incapacidade de sentir prazer em qualquer outra atividade cria a necessidade de novos usos e desenvolve a dependencia em período de tempo tão curto.







- Há efeitos psicológicos/mentais causados em função do uso do crack? Que tipos?

Sim, muitos. Desde ansiedade, depressão, apatia até alteração da própria personalidade, o que explica as mudanças de comportamento - agressividade, mentiras, prostituição, roubos, homicídios.





- * Na sua opinião, quais as formas de tratamento mais adequadas?

O tratamento deve ser global, sempre digo a meus pacientes que precisamos nos preparar e nos fortalecer para entrar na "batalha" contra o crack. Precisamos de aliados como os grupos de NA, AE (Amor-Exigente), psicoterapia individual e familiar. No caso da dependencia de crack, indico internação em comunidade terapeutica durante cerca de 6 meses com uso simultâneo de antidepressivos, para que seja possível recuperar parte do dano cerebral causado e para que a pessoa volte a sentir prazer em outras atividades, conseguindo, assim, viver sem a droga.





- * Por que a grande dificuldade em sair do vício do crack? Qual a diferença nesse sentido em relação às outras drogas?

A dependência se instala muito rapidamente e o usuário rompe mais rápido com sua família e rede social que com outras drogas, passando a desreipeitar regras da sociedade, tornando-se "marginalizado". Quando tenta ficar sem a substância entra em depressão, sente um vazio imenso e insuportável, já que é neuroquimicamente incapaz de se sentir bem. Pensa em usar apenas 1 pedra para alívio dessa angústia e acaba retomando o padrão anterios de consumo.