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domingo, 21 de agosto de 2011

Eles têm culpa, sim - ANTHONY DANIELS - Revista Veja, 17 de agosto de 2011



OPsiquiatra e escritor inglês diz que as teorias sociológicas e psicológicas para explicar o Crime e o vício em drogas produzem cidadãos que não assumem suas responsabilidades.



Entrevista ANTHONY DANIELS



Revista Veja, 17 de agosto de 2011



O psiquiatra inglês Anthony Da­niels, de 61 anos, é mais conhe­cido em seu país como Theodore Dalrymple, pseudônimo utili­zado por ele em artigos com análises impiedosas mas realistas sobre o siste­ma prisional, o comportamento dos cri­minosos e o vício em drogas, entre ou­tros temas.



Aposentado desde 2005, começou a escrever sobre sua expe­riência de quinze anos como Médico em prisões britânicas quando ainda es­tava na ativa, daí a necessidade de assi­nar com outro nome. Antes, trabalhou em países africanos como Tanzânia, África do Sul e Zimbábue. Daniels é autor de 22 livros e colaborador regular de publicações como a revista The Spectator e o jornal The Telegraph. Re­centemente, escritos seus sobre a im­portância da religião foram citados no manifesto de Anders Breivik, o autor do massacre na Noruega. "Não fiquei nada feliz com isso", diz Daniels. Na semana passada, em visita ao Brasil, ele falou a VEJA.



O senhor costuma dizer que a influência das teses do suíço Jean-Jacques Rous­seau (1712-1778) prejudicou a noção de responsabilidade no mundo atual. Por quê?



Rousseau difundiu a idéia de que o ser humano é naturalmente bom, e que a: sociedade o corrompe. Eu não sou religioso, mas considero a visão cristã de que o homem nasce com o pecado original mais realista. Isso não significa que o homem é ine­vitavelmente mau, mas que tem de lu­tar· contra o mal dentro de si. Por in­fluência de Rousseau, nossas socieda­des relativizaram a responsabilidade dos indivíduos. O pensamento intelec­tual dominante procura explicar o comportamento das pessoas como uma conseqüência de seu passado, de suas circunstâncias psicológicas e de suas condições econômicas. Infeliz­mente, essas teses são absorvidas pela população de todos os estratos sociais. Quando trabalhava como médico em prisões inglesas, com freqüência ouvia detentos sem uma boa educação formal repetindo teorias sociológicas e psicológicas difundidas pelas uni­versidades. Com isso, não apenas se sentiam menos culpados por seus atos criminosos, como de fato eram trata­dos dessa maneira. Trata-se de uma situação muito conveniente para os bandidos, pois permite manter a cons­ciência tranqüila. Podem dizer que roubam porque não tiveram oportuni­dades de estudo, porque nasceram na pobreza ou porque sofreram algum trauma de infância, entre outras des­culpas. "Enquanto a sociedade não mudar, não se pode esperar que eu me comporte de outra forma", tal é o dis­curso corrente entre os presos.



Por que os intelectuais incentivam esse pensamento?



Intelectuais são, em geral, pessoas muito desonestas. Eles não pensam em si mesmos como irrespon­sáveis, mas costumam atribuir essa ca­racterística a outras pessoas com gran­de facilidade. Ao criarem explicações sociológicas e psicológicas para des­vios de comportamento, eles acabam por desumanizar os criminosos. Um exemplo disso ocorreu na Inglaterra anos atrás, quando houve uma onda de furtos de cano. Os bandidos envolvi­dos nesses crimes, além de lucrar com isso, realmente gostavam da emoção de furtar muitos veículos em um curto pe­ríodo de tempo. Alguns criminologis­tas e psicólogos, ao analisar o fenôme­no, começaram a dizer que furtar car­ros era uma forma de vício. Sobre essa teoria, produziram-se inúmeros estu­dos, alguns dos quais incluíam até exa­mes de ressonância magnética do cére­bro dos bandidos, para provar que se tratava de uma doença neurológica. Em pouco tempo, os ladrões de carro co­meçaram a me dizer na cadeia que eram viciados em furtar veículos. Eles obviamente não chegaram a essa con­clusão sozinhos. Apenas estavam repe­tindo urna tese produzida por arrogan­tes intelectuais de classe média que desconsideravam o fato de os bandidos serem capazes de escolher entre o certo e o errado independentemente de fato­res externos. Negar sua capacidade de discernimento é o mesmo que diminuir sua humanidade.



Isso também vale para criminosos com prováveis distúrbios mentais, como An­ders Breivik, que matou 77 pessoas no mês passado na Noruega?



Sim. Breivik pode ser louco, mas nem por isso é menos responsável por seus atos. Na tradição legal anglo-saxônica, o mero fato de você ser doente mental não sig­nifica que não esteja apto a responder por um crime. Depende do tipo e do grau da loucura. Suponhamos que os médicos descubram que Breivik tem um tumor no lobo frontal do cérebro. Em casos como esse, o indivíduo pode, sim, ser menos responsável por seus atos. Da mesma forma, muitos idosos com Alzheimer perdem a inibição se­xual e comportam-se de maneira ina­propriada. Há, portanto, algumas doen­ças neurológicas que atrapalham a ca­pacidade da pessoa de ter consciência plena de seus atos criminosos ou antis­sociais. Não acho que Breivik se encai­xe em nenhuma dessas categorias.



É possível arriscar um diagnóstico sobre Breivik?



O assassino norueguês é, ob­viamente, um homem muito estranho. , Ele tentou justificar a matança com um manifesto de 1500 páginas. A leitura de algumas páginas é suficiente para notar características muito claras.



A primeira é que ele acredita ter en­contrado as respostas para todos os problemas do mundo. A segunda é que ele é paranóico, pois pensa que há uma grande conspiração destruindo seu país. Terceiro, ele é narcisista. Breivik tem uma idéia muito elevada e exage­rada de sua própria aparência. À parte tudo isso, ele também tem inúmeros ressentimentos pessoais. Seu pai o abandonou quando ele era ainda muito jovem, por exemplo. A verdade, po­rém, é que nada disso serve para traçar o perfil de um assassino como ele. É possível encontrar muitas pessoas com as mesmas características e que nunca fizeram ou farão o que ele fez.



Em seu manifesto, a frieza de Breivik es­tá expressa na convicção de uma verda­de absoluta sobre o mundo. O senhor identificou frieza parecida, beirando a psicopatia, ao analisar a obra de ficção de Cesare Battisti, o terrorista de es­querda que foi condenado por quatro as­sassinatos na Itália e ganhou visto de permanência para viver no Brasil. O se­nhor vê semelhanças entre os dois?



Há semelhanças, sim. Ambos tinham certeza de que, com seus crimes, estavam fazendo o bem. Isso, evidentemente, demonstra que não tinham nenhum senso de proporção. Eles não conse­guiam perceber que sua irritação em relação à sociedade, ao sistema político e ao governo de seu país era, na verda­de, irrelevante e de uma dimensão muito inferior comparada a todos os outros problemas da humanidade. Sem esse freio psicológico ou moral, eles se con­sideraram no direito de dispor da vida de inocentes como bem entenderam.



Como explicar a simpatia de intelectuais e políticos brasileiros por Battisti?





Acho que, na visão dessas pessoas, Battisti teve coragem de exibir uma brutalidade que elas gostariam de ter tido em algum momento da vida. Ao apoiá-lo, elas dão respaldo simbólico a um passado pessoal perdido. Além disso, os crimes perpetrados por esta­dos e grupos totalitários de esquerda ainda encontram justificativa ideológi­ca. Muita gente acredita piamente que os erros cometidos em nome do co­munismo foram por uma causa nobre, o que é um absurdo. Em especial, os intelectuais que compactuavam com o marxismo. Dá para entender: eles eram levados a acreditar que tinham um papel de liderança na sociedade. Com o desmoronamento do Muro de Berlim, foram empurrados para a irre­levância. Tudo o que esses intelec­tuais mais odeiam é uma sociedade que não precisa deles. Por isso, prote­gem indivíduos como Battisti: para reviver um período idealizado.



O senhor é a favor de prender consumidores de drogas?



A maneira como ve­mos o vício de drogas é errada. Trata­mos os viciados como vítimas, incapa­zes de ser responsabilizados por suas escolhas. Isso é falso. Eles não são ví­timas de seu próprio comportamento. Não existe droga tão viciante a ponto de ser impossível livrar-se dela. Os drogados usam os entorpecentes por uma decisão pessoal. Isso não significa que eu não me solidarize com essas pessoas. O estado mental que as drogas induzem é muito atraente para elas, em comparação com sua realidade. Mas, quando cometessem algum crime, ain­da que pequeno, sob efeito de drogas ou para comprá-las, os viciados deve­riam ser forçados a entrar em uma clínica de reabilitação. Se não aceitassem o tratamento, deveriam ser mandados para a prisão. Isso lhes daria motivação para levar a sério o processo de reabili­tação, pois o maior problema com o ví­cio é que as pessoas não encontram ra­zões para parar. O medo da prisão pode ser uma delas. A outra é a certeza de ter uma vida melhor livre das drogas.



A prisão pode ser eficiente mesmo com a facilidade de conseguir drogas atrás das grades?



Sim, porque o indivíduo não estará na rua, violando a lei. A prisão não é uma instituição terapêuti­ca. Sua função principal é prevenir crimes que um condenado poderia co­meter se estivesse solto. Há também evidências de que, quanto mais tempo uma pessoa fica na cadeia, menor a probabilidade de voltar à bandidagem depois de ser libertada.



Penas longas são mais eficientes?



Sim. Na Inglaterra, por exemplo, temos pe­nas muito brandas e poucos detentos. Isso não é bom. A polícia inglesa, muito incompetente, prende apenas um em cada doze assaltantes de casas .. Destes, um em cada treze recebe pena de prisão. Isso significa que apenas um em cada 156 assaltantes cumpre pena em presídio. A média para esse tipo de crime é de um ano de cadeia. Na In­glaterra, isso significa que o bandido é solto em apenas seis meses. Com uma punição tão leve, a pergunta não é por que ocorrem tantos assaltos, mas por que há tão poucos. Meu país deixou de ser uma sociedade ordeira para se tor­nar uma das mais afetadas pela crimi­nalidade, quando comparada a outras da Europa. O número de presos caiu em proporção ao de crimes. Em 1900, para cada 6,5 crimes registrados, havia um detento. Em 2000, eram 114 cri­mes para cada preso. Claro que penas curtas são melhores do que nada. Um bandido reincidente comete, em mé­dia, 140 crimes por ano. Ou seja, se ele for mantido na prisão por seis me­ses, setenta crimes serão evitados, o que também é bom. Um dos argumen­tos contra as penas de prisão é que a maioria dos detentos é pobre, e que is­so é injusto. Ocorre que a maior parte de suas vítimas também é pobre.

E, como o número de vítimas é sempre muito maior do que o de bandidos, prendê-los não é uma punição aos pobres, mas um benefício a eles.



A Justiça brasileira passou a ter à sua disposição medidas altemativas à prisão preventiva, como monitoramento eletrô­nico e pagamento de fiança. Isso é bom?



Pela experiência britânica, tais medidas são um desastre. Um terço de to­dos os crimes da Escócia, inclusive es­tupros e assassinatos, é cometido por pessoas em liberdade condicional. Sou a favor desse recurso em algumas cir­cunstâncias, como para crimes não violentos, mas para uso geral é uma tragédia. As tornozeleiras eletrônicas são uma temeridade em lugares onde a administração pública não é eficiente. Nem na Inglaterra a polícia consegue monitorar os criminosos com esses equipamentos. A pena de prestação de serviços comunitários também é um pesadelo. A taxa de reincidência para bandidos condenados a prestar servi­ços comunitários é a mesma dos que recebem pena de prisão: 70%. O pro­blema é que a estatística conta apenas os crimes cometidos após o fim da pe­na. Nada garante que, enquanto estão soltos, prestando serviços comunitá­rios, eles não cometam novos crimes. Por fim, em média, cada detento na In­glaterra já foi condenado outras dez vezes a penas alternativas. Ou seja, não adiantou nada. Basicamente, ao saber que cumprirão penas alternativas e ficarão soltos, os bandidos se con­vencem de que não têm nada a perder ao cometer um crime. É melhor man­tê-los presos, e por bastante tempo.













segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ministério Público X FIFA: álcool na Copa no Brasil?

Para promotores, a possível liberação da venda de bebidas alcoólicas nos jogos da Copa é retrocesso

Gazeta do Povo - VANESSA PRATEANO

Regras em vigor

Veja como avançou a proibição no país e qual é o temor do MP:

Estatuto do Torcedor

O artigo 13 prevê que o torcedor não pode “portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência” em estádios.

Regulamentações

Antes de 2010, quando a lei de 2003 foi regulamentada, o que prevalecia era o protocolo de intenções firmado pela CBF e as legislações estaduais e municipais ou Termos de Ajustamento de Conduta para jogos das federações.

Lei geral

Após 2010, a lei federal suplanta todas as demais e, para que a Fifa possa comercializar cerveja dentro dos estádios, será preciso que o Congresso suspenda ou invalide o artigo atual. Isso também pode ocorrer via Medida Provisória, emitida pelo Executivo.

Risco

O receio do Ministério Público é que, ao ser suspenso, o artigo perca força, e isso abra precedentes para que a CBF e as federações exijam a liberação nos jogos de sua competência, sepultando a lei.

Médicos criticam ação

A possível mudança da lei provocou reações entre a comunidade científica e médica. A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) tem se posicionado contra a mudança desde 2009, quando o órgão soltou uma nota criticando a postura da Fifa e a intenção da CBF de apoiar a entidade internacional.

O presidente da Abead, o psiquiatra gaúcho Carlos Salgado, afirma que ficou chocado com a notícia. “Como cidadão, eu lamento o recuo do poder público diante do poder econômico. E como médico, igualmente, pois a medida tem efeito comprovado e amplo apoio da comunidade científica e da população.”

O psiquiatra Dagoberto Requião, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, lembra que, por ser uma droga depressora da atividade cerebral, o álcool diminui a noção de autocrítica da pessoa, fazendo com que ela aja por meio de estímulos do grupo. “Num ambiente com tanta gente, a personalidade já se dilui rapidamente. Com o estímulo do álcool, isso se potencializa e podem surgir confrontos.”

O médico paranaense critica duramente a medida. “Seria como permitir que, durante a Copa, os motoristas pudessem cometer infrações sem receber punição. Uma vergonha.”

Segurança

País tem regras contraditórias

Pelo artigo 17 do Estatuto do Torcedor, cada entidade organizadora de eventos esportivos no país precisa elaborar um plano de segurança para garantir o bem-estar e o conforto dos torcedores, o que envolve desde o transporte e acomodação até a alimentação. Nos níveis nacional e estadual, os planos de segurança da CBF e das federações estão contemplados em protocolos de intenções e em Termos de Ajustamento de Conduta.

No caso da Fifa, o plano equivale a um Caderno de Diretrizes de Segurança, elaborado pela entidade. O que intriga o Ministério Público é que um caderno publicado em 2004 proíbe o consumo de álcool nos estádios, mas um caderno posterior, de 2008, libera a prática. No momento, mesmo com movimentações do Ministério dos Esportes no sentido de ceder à pressão da entidade, o MP espera que a lei em prática seja respeitada.

Para o procurador de justiça José Antônio Baeta, a pressão feita pela Budweiser acarretaria mais prejuízos do que benefícios, pois iria na direção contrária de uma medida consolidada e apoiada pela população.

Retrocesso. Este é o termo que vem sendo utilizado por membros do Ministério Público (MP) de todo o país para qualificar a possível suspensão, durante a Copa do Mundo de 2014, da legislação que proíbe a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios brasileiros.

A polêmica surgiu após o ministro dos Esportes, Orlando Silva, declarar que o Estatuto do Torcedor, de 2003, pode deixar de vigorar durante o torneio para atender a um pedido da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Um dos patrocinadores da Copa é a cervejaria belgo-brasileira Budweiser.

Desde 2008, nos jogos das séries A e B do Campeo­nato Brasileiro, nenhum torcedor pode consumir bebida de teor alcoólico dentro dos estádios. Naquele ano, a Confe deração Brasileira de Futerbol (CBF) assumiu o compromisso de cumprir a lei ao assinar um protocolo de intenções junto ao Conselho Nacional de Procura dores-Gerais de Justiça (CNPG).

Avanço ameaçado

Para o promotor do Ministério Público paulista Paulo Castilho, o artigo 13-A da lei, que determina a proibição, é um avanço num país onde casos de violência no futebol ainda são recorrentes. “É sabido que o álcool num ambiente de competição ge ra violência. Isso já está provado. A mudança, sem dúvida ne nhuma, será um retrocesso”, avalia ele, que já afirmou que entrará com ações para fazer valer a lei.

O procurador de Justiça do MP de Minas Gerais José Antônio Baeta, coordenador nacional da Comissão Permanente de Prevenção e Combate à Violência nos Estádios de Futebol do CNPG, conta que, em 2006, quando a proibição foi adotada em Minas, o número de ocorrências baixou para zero dentro dos estádios.

Na capital mineira, um estudo da PM mostrou que foi necessário aumentar em 30% o efetivo policial feminino para revistar o maior número de mulheres que passou a ir aos jogos. O tempo de dispersão dos torcedores na saída das partidas passou de 70 para 30 minutos em média. “Essa lei é uma das mais avançadas do mundo. Não tenho dúvidas de que se for suspensa, potencializará a violência.”

Legitimidade

O receio do órgão é que, ao ceder à Fifa, o governo tenha de manter a exceção quando a Copa terminar. “A lei pode perder a força e a legitimidade. Se permitimos o ato por parte de uma entidade que vem de fora, como proibir a CBF e as federações de fazer o mesmo?”, indaga a promotora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor do MP-PR Cristina Ruaro. “Com a suspensão da lei, abre-se um estado de exceção.”

Para Cristina, há outro aspecto que fere não apenas o Estatuto, mas a Constituição: por contrato, apenas a Budweiser pode ser comercializada nos estádios, o que colocaria em risco o princípio de livre-concorrência. “O que temos de refletir é: até que ponto vamos aceitar isso? A Copa é um desejo de todos os brasileiros, mas não pode ser realizada a qualquer custo.”

O governo brasileiro está inclinado a ceder à Fifa e permitir a venda de bebidas alcoólicas em estádios durante a Copa do Mundo de 2014. A concessão viria com algum condicionante de pequeno impacto, como proibir a comercialização apenas nos minutos finais das partidas, quando os torcedores estão prestes a deixar os estádios.

O consumo de álcool em em eventos esportivos é vedado por legislações estaduais. O Estatuto do Torcedor, uma lei nacional, diz que é proibido o "ingresso de pessoa com bebidas e substâncias que possam causar a prática de atos de violência. "Contudo, a Fifa tem entre seus principais patrocinadores uma empresa de cerveja e insiste na liberação para garantir visibilidade e pontos de venda exclusivos ao parceiro.

Em audiência na Câmara o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, sustentou que a venda não causa incidentes graves, desde que seja feita com regras.

- É verdade que limitar o álcool reduz muito os atos de violência. Mas, na Alemanha e na África do Sul, a venda controlada nunca provocou problemas. Temos esse acordo com a Budweiser. A bebida não pode ser distribuída em garrafas, mas copos de plástico - exemplificou.

Valcke explicou que a Rússia, cuja legislação considera mais rigorosa que a do Brasil, entendeu que a Copa é um evento privado e, por sua condição especial, liberou o consumo nos estádios em 2018.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Slides da Palestra "Doenças Mentais que facilitam o abuso de substâncias"

TRANSTORNO MENTAL

É o conjunto de sintomas ou comportamentos associado a sofrimento e interferência em funções sociais.


DEPENDÊNCIA QUÍMICA

CID 10 – SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA:

Desejo forte ou compulsão para o uso

Dificuldade em controlar início, término ou nível de consumo

Síndrome de abstinência

Abandono de outros prazeres ou interesses

Persistência do uso apesar de comprometimentos físicos, emocionais e cognitivos


Diagnóstico Duplo ou Comorbidades

É a ocorrência de dois diagnósticos (doenças) em um mesmo indivíduo.

Das 10 doenças mais comuns hoje, 5 são Psiquiátricas:

Depressão

Alcoolismo

Transtorno Afetivo Bipolar

Esquizofrenia

Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Diagnóstico Duplo ou Comorbidades



Em portadores de Transtornos Mentais, o abuso ou dependência de substância é a comorbidade mais freqüente.

Platão: mania e uso de álcool.

Conseqüências mais sérias

Aumento de incidência.

Como diagnosticar as Comorbidades

História familiar

Exames laboratoriais

Questionários direcionados

Testes psicológicos

Observação clínica

Uso do CID10 ou DSM IV


Transtorno de Personalidade (TP)
Kurt Schneider: “Psicopata é aquele que sofre ou que faz sofrer a sociedade. Não aprende com seus erros” (1887)

TP Borderline 10:8 Abuso de substâncias
TP Antissocial 10:9 Abuso de substâncias

Não se vinculam
Resistentes às mudanças de estágio
Baixa aderência
Abandono precoce do tratamento
Dificuldade em seguir regras e em aceitar figuras de autoridade
Manipuladores
Insensível “ao outro”
Baixíssima tolerância às frustrações.


T P Borderline (Emocionalmente Instável)


Mulheres 3:1 Homens

Não há identidade ou autoimagem

Relações intimas como “elásticos” que se esticam ao máximo

“Crateras” emocionais

Fantasias de abandono

Ciúme patológico

Tentativas crônicas de suicídio

Autolesões/tatuagens



Automutilações

Esmurrar-se, chicotear-se, enforcar-se

Morder mãos, lábios, língua, ou braços

Reabrir feridas (dermatotilexomania)

Arrancar os cabelos (tricotilomania)

Queimar-se (cigarro, produto químico, sal e gelo)

Furar-se (agulhas, arames, pregos, canetas)

Beliscar-se,

Ingerir agentes corrosivos, alfinetes

Envenenar-se, medicar-se


O Sociopata e a Borderline

Combinação comum,

Brigas freqüentes,

Demonstrações exageradas de amor, ciúme, raiva,

Agressões verbais e físicas

Relação sado-masoquista

Transtorno de Personalidade (TP)





Tratamento Farmacológico:

Não há medicação específica

Controle de sintomas – reação ao estresse e impulsividade

Evitar benzodiazepínicos

Usar antidepressivos ou antipsicóticos em baixas doses.


Exagerado Cazuza

Amor da minha vida Daqui até a eternidade Nossos destinos Foram traçados na maternidade

Paixão cruel desenfreada Te trago mil rosas roubadas Pra desculpar minhas mentiras Minhas mancadas

Eu nunca mais vou respirar Se você não me notar Eu posso até morrer de fome Se você não me amar

E por você eu largo tudo Vou mendigar, roubar, matar Até nas coisas mais banais Prá mim é tudo ou nunca mais

Exagerado Jogado aos teus pés Eu sou mesmo exagerado Adoro um amor inventado

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Medicina do vício - THE NEW YORK TIMES

A Medicina do vício - THE NEW YORK TIMES


Faculdades de Medicina dos EUA criam programas de residência para estudar a relação entre vício e a química do cérebro

Há um debate antigo sobre o alcoolismo: é problema na cabeça do sofredor – algo que pode superar a terapia da força de vontade, espiritualidade e diálogo, talvez – ou é uma doença física, que precisa de tratamento médico contínuo da mesma forma que exigem diabete ou epilepsia? Cada vez mais o estabelecimento médico está se sobrepondo ao último diagnóstico.

Nas evidências mais recentes, dez faculdades de medicina nos Estados Unidos apresentaram os primeiros programas de residência credenciados sobre a medicina do vício, nos quais médicos que concluíram a faculdade de Medicina e a residência primária poderão passar um ano estudando a relação entre o vício e a química do cérebro.


“Este é o primeiro passo rumo ao reconhecimento, respeito e rigor à medicina do vício”, disse David Withers, que supervisiona o novo programa de residência no Centro de Tratamento de Dependência de Álcool e Entorpecentes Marworth, em Waverly, Pensilvânia.

Médica relata dificuldade para tratar pacientes

Christine Pace, de 31 anos, formada pela Faculdade de Medicina de Harvard, é a primeira residente da medicina do vício no Centro Médico da Universidade de Boston. Ela se interessou pelo assunto na adolescência, quando trabalhou como voluntária em uma organização de tratamento da aids e ouvia viciados em heroína reclamarem dos médicos que não podiam ou não queriam ajudá-los.

Neste ano, quando se tornou médica interna de uma clínica de metadona em Boston, ela ficou consternada ao descobrir que as reclamações não mudaram.

“Vi médicos repetidas vezes deixando isso de lado, apenas chamando um assistente social para lidar com pacientes que lutam contra o vício”, conta Pace.

O objetivo dos programas de residência, que começaram no dia 1.º de julho com 20 alunos de várias faculdades, é estabelecer a medicina do vício como padrão especialmente com as linhas de pediatria, oncologia e dermatologia.

Os residentes tratarão os pacientes com uma série de vícios: álcool, drogas, remédios controlados, nicotina e muito mais – e o estudo da química do cérebro envolvida e o papel da hereditariedade.

“Antigamente, a especialidade estava muito mais voltada para os psiquiatras”, diz Nora D. Volkow, neurocientista encarregada do Instituto Nacional de Abuso de Drogas. “É uma falha do nosso programa de treinamento”.

Ela considera a falta de educação so bre o abuso de substâncias entre os mé dicos em geral “um problema muito sério”.

A reconsideração do vício como pa tologia em vez de uma doença estritamente psicológica começou há cerca de 15 anos, quando pesquisadores descobriram via exames de alta ressonância que o vício das drogas resultou em alterações físicas do cérebro.

Munidos dessa informação, “o tratamento dos pacientes com vício torna-se bem mais parecido com o tratamento de outras doenças crônicas, como asma, hipertensão ou diabete”, afirma Da niel Alford, que supervisiona o programa no Centro Médico da Universidade de Boston. “É difícil curar necessariamente as pessoas, mas certamente você pode controlar o problema ao ponto de elas poderem viver bem com uma combinação de remédios e terapia.”

A essência do entendimento do vício como doença física é a crença de que o tratamento deve ser contínuo para evitar a recaída. Assim como ninguém espera que um paciente seja curado após seis semanas de dieta e administração de insulina, argumenta Alford, não faz sentido esperar que a maioria dos viciados em drogas seja curada depois de 28 dias em uma clínica de desintoxicação.

“Não é surpresa para nós agora que quando você interrompe o tratamento, as pessoas têm recaída”, diz ele. “Isso não significa que o tratamento não funciona, apenas significa que é preciso continuar o tratamento”. Essas alterações físicas no cérebro também poderiam explicar por que alguns fumantes ainda desejam o cigarro depois de 30 anos sem fumar, observa Alford.

Se a ideia do vício como doença crônica demorou em entrar no círculo da medicina, deve ser porque os médicos às vezes relutem em entender o funcionamento do cérebro, reitera Volkow. “Embora seja muito simples entender uma doença do coração (o coração é muito simples, é apenas um músculo), é muito mais complexo entender o cérebro.”

O aumento do interesse na medicina do vício é uma série de novos medicamentos promissores, mais notavelmente a buprenorfina (vendida sob nomes como Suboxone), que provou amenizar os sintomas da abstinência em viciados em heroína e subsequentemente bloquear o desejo do consumo, embora cause efeitos colaterais. Outros medicamentos para o tratamento da dependência do ópio e do álcool também se mostraram promissores.

Poucos especialistas em medicina do vício defendem um caminho para recuperação que dependa exclusivamente de remédios, porém.

“Quanto mais aprendemos sobre o tratamento do vício, mais percebemos que uma regra não vale para todos”, diz Petros Levounis, encarregado da residência no Instituto do Vício de Nova York no St. Luke’s-Roosevelt Hospital.

Igualmente maligna é a ideia de que a psiquiatria ou o programa de 12 passos sejam adequados para curar uma doença com raízes físicas no cérebro. Muitas pessoas que abusam de substâncias não têm problemas psiquiátricos, observou Alford, que acrescenta: “Acho que há absolutamente uma função para os psiquiatras do vício”.

Embora cada faculdade tenha desenvolvido sua própria grade curricular, as competências básicas que cada uma procura transmitir são as mesmas. Os re sidentes aprenderão a reconhecer e diagnosticar abuso de substâncias em pacientes, conduzir breves intervenções que apresentam as opções de tratamento e prescrever os medicamentos adequados.

Espera-se também que os médicos entendam as implicações legais e práticas do abuso de substâncias.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Viciado em jogos morre aos 20 anos

O inglês Chris Staniforth, de 20 anos, morreu de uma trombose venosa profunda causada pelo vicio em vídeo game. Ele jogava Xbox por, pelo menos, doze horas sem descanso.

Chris passou mal durante uma entrevista de emprego. Um amigo que o acompanhava chamou a ambulância, mas o jovem não resistiu e morreu a caminho do hospital.

A TVP é um coágulo no sangue que está geralmente associada a longos períodos de inatividade, como sentar em um voo de longa distância.