Pesquisar este blog

sábado, 18 de setembro de 2010

O futuro das drogas

O futuro das drogas por Carlos Salgado, psiquiatra, presidente da ABEAD



Olhar para o futuro com o foco nas drogas de abuso é, há um, tempo assustador e instigante.

Emergem algumas possibilidades: disponibilidade de mais drogas, tragédias na forma de epidemias de uso de drogas desorganizadoras, fracasso da repressão, ocupação de espaços de poder por parte dos negociantes de drogas, legitimação ampla e irrestrita da produção e consumo, seleção natural dos mais hábeis diante da grande disponibilidade e uso massivo, mudanças conceituais sociais com ritualização do uso, avanços médicos e biológicos no controle do abuso (genética, imunologia e farmacologia).

O horizonte imaginário é amplo. Nos tempos correntes, mais e mais substâncias vão ficando disponíveis, ampliando o repertório dos usuários. Relatórios internacionais de agências observadoras do fenômeno da drogas, como o UNODC, mostram uma tendência geral de restrição do uso de substâncias mais naturais e ampliação da produção e uso de substâncias, digamos, laboratoriais. Elas têm se mostrado atraentes e trazem certo charme de benignidade e confiabilidade. Lobos em peles de cordeiros rapidamente mostram sua face cruel e desorganizadora, mesmo em uso recreacional.

Mas, seguindo com os olhos no futuro, parece fazer sentido acreditar numa certa industrialização franca das drogas de abuso. Assim como ocorre na indústria farmacêutica, a produção de drogas vai introduzindo opções em número sempre crescente. A busca por drogas de uso recreacional seguro seguirá em pauta. Preservar o usuário e ao mesmo tempo mantê-lo fiel é um dos desafios objeto de ficção, como mostrado no livro O Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1931, onde o Soma trazia recreação segura para qualquer usuário.

Nosso devaneio futurístico vislumbra, então, um grande grupo de substâncias cada vez mais especializadas em vivências químicas e prazerosas. Em meio às novidades futuras, creio, teremos a preservação do álcool e provavelmente o banimento do tabaco poluente como conhecemos hoje, substituído por formas de liberação de nicotina pura.

A manipulação genética segura ainda vislumbra para muito distante sua efetividade para desligar tendências patológicas complexas, como é o comportamento relacionado ao uso de drogas. Uma visão catastrófica, por outro lado, desconsidera que a ciência possa a avançar e surpreender a todos com soluções radicais, como temos para doenças infecciosas, que já dizimaram no passado e hoje são de controle trivial, como é o caso da tuberculose.

Mesmo considerando a grande distância em termos de complexidade e, portanto, a injustiça da comparação, a ciência oferecerá soluções inimagináveis conceitualmente para o abuso de drogas. É atraente, também, pensar numa mudança conceitual da organização social que possa simplesmente banir como hoje prestigia a alteração psíquica através de drogas.

Quem sabe algo como o futebol deixar de atrair milhões de brasileiros para ser de interesse de uns poucos, fenômeno oposto ao que começa a ocorrer nos Estados Unidos, onde o esporte vai ganhando adeptos praticantes e torcedores. O sistema repressivo poderá ser enriquecido com a introdução de variáveis que mudem a auto-estima de grandes comunidades hoje à mercê do comércio ilícito de drogas, pois seguramente a disponibilidade seguirá sendo um grande determinante do volume de consumo de drogas. Podemos, enfim, optar pelo pessimismo e não faltam evidências para nos subsidiar, mas podemos também pensar na riqueza da inventividade humana, sempre à disposição para nos surpreender.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

“Pílulas, pílulas e pílulas”

Gustavo Miller Do G1, em São Paulo
“Pílulas, pílulas e pílulas”. É assim que Candy Finnigan resume o maior vício da sociedade do século 21. Segundo a famosa interventora americana, não são apenas as celebridades de Hollywood que estão à mercê dos medicamentos prescritos.

“Qualquer pessoa com US$ 1 compra comprimidos poderosíssimos. É um vício legal, que hoje mata mais que doenças cardíacas e ferimentos por bala”, comenta, em entrevista por telefone ao G1.

“Intervenção”, que ganha nesta terça-feira (7) novos episódios no A&E, a partir das 23h, é um premiado programa de TV que mostra o momento em que uma família ou amigos resolvem intervirem na vida de um viciado próximo. A atração já está no ar há cinco anos e, além de ser a maior audiência do canal, também vem ganhando prêmios – em 2009, ganhou o Emmy de melhor programa de realidade.











O papel de Candy, como interventora, é orientar o encaminhamento do viciado a uma clínica ou hospital, assim como ajudar os familiares e amigos a realizarem o “procedimento”. Todo episódio é assim. “A série mostra para o mundo o verdadeiro olhar dos vícios, da devassidão que eles causam a quem estiver próximo. É um show autêntico, toda semana temos um ‘docu-drama’ com final feliz”, explica Candy, que não vê com bons olhos a concorrência que realiza formatos semelhantes com celebridades no lugar de anônimos.

“O interventor ou médico dessas situações não conhece as pessoas com quem lida. Tem muito dinheiro envolvido, sabe? Gostamos de ver as pessoas na miséria porque nossa vida parece melhor assim. E todos gostamos de ver famosos caindo, é meio triste”, acredita.

Apesar de ser no programa uma profissional séria e compenetrada, Candy fora do ar é divertida – ela diz que adorou a paródia que a animação “South park” fez dela, assim como a de um vídeo que circulou no portal de humor Funny or die, em que a atriz Kristin Chenoweth (“Glee”) realizava uma intervenção em forma de musical.

“Não acho que eles tiraram sarro do que faço, a intervenção é algo que já está incorporado em nossas vidas. E todos temos de rir de nós mesmos, não?”, ri.

Candy só parece perder o humor quando vê alguém utilizando equipamentos eletrônicos, mais um vício do mundo moderno. “Fui outro dia a um restaurante e quando me sentei à mesa todo mundo estava lendo ou enviando mensagens pelo celular. Senti como se estivesse interrompendo eles. Esperei até alguém olhar para mim e dar ‘oi’. Isso virou tão parte de nossa cultura que não é mais rude”, cita.

“É um problema sério, essa nova geração está se tornando muito anti-social. Tecnologia controla nossas cabeças e nos faz esquecer do coração”.

Cresce o uso de antipsicóticos em crianças

Cresce o uso de antipsicóticos em crianças


Nos EUA, dobraram as prescrições de drogas contra doenças como transtorno bipolar para o público de 2 a 7 anos



Caso de um garoto que começou a tomar esses remédios aos 18 meses mostra os riscos dos efeitos colaterais



Folha de São Paulo - The New York Times - Kyle Warren, aos três anos, obeso por causa de remédios

DUFF WILSON

DO "NEW YORK TIMES", EM LOUISIANA

Kyle Warren começou a tomar um remédio antipsicótico todo dia aos 18 meses de idade, por ordem de um pediatra, para acalmar seus fortes acessos de raiva. Assim teve início a jornada do menino, de um médico para outro e de um diagnóstico para outro: autismo, transtorno bipolar, hiperatividade, insônia.

Os comprimidos dados diariamente a Kyle se multiplicaram: um antipsicótico, um antidepressivo, dois soníferos e um medicamento para transtorno de deficit de atenção. Tudo isso quando ele tinha só três anos.

Kyle ficou obeso e vivia sedado e babando, devido aos efeitos colaterais do antipsicótico. Sua mãe, Brandy Warren, estava "desesperada, sem saber o que fazer", quando recorreu ao tratamento com medicamentos, mas começou a se preocupar com as alterações de personalidade de seu filho.

"Eu tinha um garotinho medicado, apenas", disse Warren. "Não tinha meu filho. Você olhava nos olhos dele e só via um vazio."





DESINTOXICAÇÃO

Hoje, Kyle tem seis anos, está no primeiro ano da escola e tira notas altas. Ele é bagunceiro e está mais magro. Depois de ser "desmamado" das drogas por meio de um programa da Universidade Tulane (EUA) que ajuda famílias de baixa renda cujos filhos têm problemas de saúde mental, Kyle hoje ri com facilidade e brinca.

Os novos médicos que atendem o menino e sua mãe destacam os avanços de Kyle -e o diagnóstico mais comum para crianças, o de transtorno de deficit de atenção com hiperatividade- como prova de que as drogas fortes nunca deveriam ter sido receitadas a ele.

Agora, Kyle toma só um remédio, para o deficit de atenção. Sua mãe divulgou seus registros médicos para ajudar a documentar uma tendência que preocupa os especialistas: a facilidade com que médicos vêm receitando drogas fortes para tratar crianças, até bebês. De acordo com um relatório de 2009 da FDA (agência reguladora de remédios e alimentos nos EUA), mais de 500 mil crianças e adolescentes tomam antipsicóticos.

Estudo da Universidade Columbia constatou que, entre 2000 e 2007, dobraram as receitas de antipsicóticos para crianças de 2 a 7 anos cujas famílias têm plano de saúde. Muitos médicos afirmam que prescrever esses remédios para crianças cada vez menores pode gerar riscos para o desenvolvimento de seus cérebros e corpos, em crescimento acelerado.

Mesmo os médicos que mais relutam em prescrever essas drogas se deparam com uma máquina gigantesca de marketing que converteu os antipsicóticos na classe de remédios que mais fatura nos EUA -US$ 14,6 bilhões em 2009.

Na sala de espera do primeiro psiquiatra ao qual Kyle foi, crianças brincavam com Legos estampados com o nome de um antipsicótico. "A psicoterapia é a chave do tratamento a ser dado a crianças com transtornos mentais graves, e os antipsicóticos são terapia complementar, e não vice-versa", disse Lawrence L. Greenhill, presidente da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência.

SOLUÇÃO RÁPIDA

Mas é mais barato medicar crianças do que pagar psicoterapia. Pesquisa da Universidade Rutgers constatou que crianças de famílias de baixa renda, como Kyle, têm quatro vezes mais chance de receber antipsicóticos do que as com plano de saúde.

"Nunca mais vou deixar meus filhos tomarem esses remédios", disse a mãe do menino, Brandy Warren, 28. "Eu não me dei conta do que estava fazendo." Kyle era um bebê fisicamente saudável, mas que tinha medo de algumas coisas. Passava horas enfileirando brinquedos. Quando ficava bravo, atirava objetos e às vezes batia a cabeça no chão.

Edgardo R. Concepción, o primeiro psiquiatra a tratar de Kyle, disse que achou que os remédios ajudariam a tratar da depressão maníaca, ou transtorno bipolar, em crianças pequenas. "Não é fácil prescrever medicação pesada", disse o psiquiatra. "Mas, quando eles me procuram, não tenho outra escolha. Tenho que ajudar essa mãe."

Brandy admite que pediu remédios para o filho. "Mas eu estava desesperada. Não sabia mais o que fazer." "Às vezes as famílias querem uma solução rápida", disse a professora de psiquiatria Mary Margaret Gleason, que tratou de Kyle quando ele parou de tomar os remédios pesados. "Quando uma criança é atendida por alguém que prescreve remédios mas não oferece terapia, está sendo fechada a porta que pode levar a mudanças de mais longo prazo."

Tradução de CLARA ALLAIN

Documento da FEBRACT para as CTs

Documento da FEBRACT para as CTs


À todos(as) companheiros(as) de caminhada e luta, por favor, leiam o documento abaixo e encaminhem para nossos parceiros e outras CTs que têm como objetivo efetivar e qualificar nosso modelo de tratamento.

FEBRACT

Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas



Campinas, 31 de agosto de 2010.

Prezado(a) Presidente

O aumento preocupante do uso do crack despertou o Poder Público de sua letargia.

Depois de tantas décadas de omissão, abrangendo diversos governos, com raríssimas exceções, parece estar havendo um despertar e um desejo de enfrentar com decisão o flagelo das drogas.



Agora, podemos assinalar duas reações bastante promissoras: pela 1ª vez em nossa história candidatos à Presidência da República apontam com veemência o perigo representado pela dependência química e apresentam propostas para combater o problema.



Outro sinal, muito significativo para nós é a recente constituição de um Grupo de Trabalho, do qual participam representantes de Comunidades Terapêuticas.



O Ministério da Saúde, através de órgãos subordinados, deseja que as Comunidades Terapêuticas se articulem com o SUS e com as Políticas Públicas voltadas para a questão do uso do álcool e de outras drogas.



Os candidatos estão assumindo muitos compromissos em relação a problemas de vital importância para o país. Serão atendidos apenas aqueles que, ao lado de sua importância, tenham poderosos grupos de pressão, que cobrem a realização das promessas feitas. Como não temos nenhum desses grupos precisamos de um mínimo de organização para que nossa voz seja ouvida.



Algumas medidas devem ser tomadas desde já:



1. Entrar em contato com a Frente Parlamentar Antidrogas, que reúne Senadores e Deputados sensíveis aos problemas gerados pela dependência química.



Assegurar que os Parlamentares que forem reeleitos apóiem com decisão a luta contra as drogas e se comprometam a conseguir verbas para as Federações e para as Comunidades Terapêuticas que cumpram exemplarmente sua missão.



2. Cada Comunidade Terapêutica em sua área de atuação deverá entrar em contato com os candidatos a cargos executivos ou legislativos, solicitando deles compromissos concretos no combate à dependência química.



3. Publicar na mídia de cada região assuntos que ressaltam os males terríveis que as drogas causam à Sociedade.



4. Iniciar o estabelecimento de redes de prevenção e tratamento envolvendo as famílias, a rede escolar, os grupos religiosos e todas as outras forças vivas da Comunidade, lembrando que o combate às drogas é dever de todos.



5. Responder com a possível urgência o questionário anexo e mandar sugestões a respeito.



As Comunidades Terapêuticas, por suas Federações e unidades representativas sempre defenderam a realização de um trabalho dedicado, competente e apoiado em valores éticos.



Isto pode ser constatado no documento elaborado em 1996, no 1º Encontro Latino-Americano de Comunidade Terapêuticas, realizado em Brasília.



Com esse respaldo moral é que devemos nos reunir nesta Cruzada de Salvação Nacional.



Maurício Landre



Diretor Executivo da FEBRACT



DOCUMENTO_FEBRACT_PARA_AS_CTs.pdf







Maurício Landre

Coordenador Administrativo

55 (19) 3252-7919

55 (19) 9104-6566

Anandamida - Uma maconha endógena?

Anandamida

A substância é produzida pelos humanos e comparada ao THC, princípio ativo da maconha. O composto tem efeitos analgésicos e antidepressivos

Correio Brasiliense - Alfredo Durães -Publicação: 08/09/2010

Belo Horizonte — Em sânscrito, ananda significa algo como serenidade ou felicidade suprema. A palavra virou inspiração para que a comunidade científica batizasse como anandamida uma substância endógena (produzida pelo organismo; no caso, o cérebro humano) descoberta em 1992. Ela pode ter efeitos analgésicos, ansiolíticos e antidepressivos semelhantes aos do THC, componente da espécie vegetal Cannabis sativa, mais conhecida como maconha.

Entender melhor as funções dessa substância endógena, para que ela possa ser usada de forma medicinal, é o objetivo dos professores Fabrício Moreira e Daniele Cristina de Aguiar, que desenvolvem, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisas sobre a anandamida, o THC e outras propriedades da Cannabis sativa. Os estudos têm colaboração do Instituto Max Planck de Psiquiatria de Munique (Alemanha) e dos departamentos de Neurociências e de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, unidade de Ribeirão Preto.

“Não se trata de apologia à maconha”, ressalta, pela segunda vez durante a entrevista, o professor de farmacologia Fabrício Moreira, 33 anos, acrescentando que a droga causa problemas sim. “Mas é sabido que ela tem potenciais medicinais. Nossa intenção é tirar proveito da parte positiva, usando uma substância análoga. No caso, a anandamida”, explica. Em relação aos problemas causados pela maconha no organismo humano, o professor cita a perda de memória e de coordenação motora, entre outros.

Nos laboratórios da UFMG, pesquisadores lutam para descobrir o funcionamento da anandamida e como ela poderia ser utilizada como medicamento

No Laboratório de Neuropsicofarmacologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Fabrício e Daniele Aguiar testam em animais (camundongos) os efeitos da anandamida e do THC. Além disso, estudam outras substâncias da maconha, a exemplo do canabidiol, com o intuito de contornar os problemas advindos do uso do THC. “Em colaboração com a USP de Ribeirão Preto, já identificamos diversas propriedades farmacológicas do canabidiol”, diz Moreira.

O professor acrescenta que o principal desafio — e, ao mesmo tempo, a abordagem mais promissora — talvez seja aumentar os níveis da anandamida no cérebro, de modo a potencializar os efeitos benéficos da substância e evitar a administração de THC. “Desde a década de 1980, o mundo científico começou a entender como a maconha interfere em locais específicos do cérebro, mas ainda não se sabe como evitar completamente seus efeitos danosos”, explica.

Comparando resultados

Nos camundongos, os pesquisadores injetam doses de THC e também de URB 597 (uma substância sintética produzida na Universidade da Califórnia, que reproduz os efeitos da anandamida) para analisar e comparar resultados. De acordo com os professores, a conclusão dos estudos poderá servir de suporte para as indústrias farmacêuticas um dia virem a produzir um medicamento que aumentaria os níveis de anandamida no organismo, o que seria usado de forma terapêutica. Ou ainda no tratamento de dependentes com transtornos de uso da substância, que seria a terapia de substituição contra a abstinência de maconha. Dizem ainda que, no caso do tratamento da heroína, por exemplo, já existe um medicamento que serve de “substituto” da droga para minorar os efeitos da abstinência.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

E-drugs se tornam o novo fenômeno da web

E-drugs se tornam o novo fenômeno da web


Um novo fenômeno da internet nascido nos Estados Unidos começa a ganhar força em todo o mundo.





Veja Online

São as drogas digitais sonoras, chamadas de e-drugs, cujos efeitos ainda são desconhecidos. As e-drugs se baseiam em uma ação neurológica que consiste na emissão de sons diferentes em cada ouvido, que estimula o cérebro e produz sensações de euforia, estados de transe ou relaxamento. As sessões têm entre 15 e 30 minutos, e os sons podem ser obtidos em sites especializados a preços que variam de 7 a 150 euros.

Segundo fontes da missão interministerial para a luta contra as drogas e a toxicologia da França, trata-se de um fenômeno que não é "nem alarmante, nem emergente" e que, por enquanto, não tem motivo para ser proibido. No entanto, as drogas digitais invadiram a França nos últimos dois meses e, por enquanto, seus efeitos são desconhecidos e não há estudos realizados sobre o assunto no país.

Efeitos - Especialistas em neuropsicologia observam que os sons relaxam, ajudam na concentração e são usados até com fins terapêuticos para algumas doenças, como o autismo. Certas frequências estimulam a imaginação ou a criatividade, o que poderia criar as alucinações que os consumidores afirmam ter durante ou após as sessões. Portanto, existe um alerta sobre a possibilidade de que, com o passar do tempo, as drogas digitais possam provocar disfunções cerebrais.

Os possíveis perigos das e-drugs não parecem preocupar os jovens, que compartilham suas experiências nas redes sociais, onde recomendam as melhores doses. "Senti chamas em meus braços, que desciam gradualmente até os dedos dos pés, tinha a impressão de que meu braço pesava uma tonelada e um dos meus dedos estava curvado. Então, comecei a me sentir muito estranho. Foi genial", relata um usuário, que conta ainda ter visto uma tartaruga, um elefante verde e até Papai Noel aos pés de sua cama. As drogas mais populares da rede têm nomes sugestivos como orgasm, peyote, marijuana ou lucid dream.

"Meu coração batia muito forte e eu tremia como um louco. Após a dose, me acalmei e parou. Respirei forte e achei que foi ótimo. Efeitos depois da dose: excitação e vontade de fazer muitas coisas. A vida é genial", diz outra usuária. As sessões são divididas por temas. Assim, é possível encontrar algumas prescritas para desenvolver a imaginação, aproveitar mais uma partida de videogame ou atividades esportivas, ou até mesmo para aumentar o prazer das relações sexuais.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Comissão proíbe justa causa por alcoolismo

Comissão proíbe justa causa por alcoolismo


A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou um projeto de lei que proíbe a demissão por justa causa de empregados dependentes do álcool. A proposta, que modifica a Consolidação de Leis do Trabalho (CLT), foi aprovada em caráter terminativo e será encaminhada à Câmara.

De acordo com o projeto, a demissão por justa causa só ocorrerá no caso do dependente do álcool se recusar a passar por tratamento. O objetivo da proposta, segundo o relator da matéria Papaléo Paes (PSDB-AP), é alterar o tratamento que a legislação dispensa ao “trabalhador alcoolista”.

“A legislação, nos termos em que se encontra atualmente, não trata o alcoolismo como patologia. Enquanto o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos da União e o Plano de Benefícios da Previdência Social silenciam a respeito, a CLT inclui a embriaguez, habitual ou em serviço, entre as hipóteses ensejadoras de justa causa”, diz o relator.

Na justificativa da matéria, o autor da proposta, senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), afirma que o alcoolismo, há tempos, deixou de ser tido como uma “falha moral” e passou a ser reconhecido como uma “severa e altamente incapacitante moléstia”, mas que a legislação social brasileira “não acompanhou essa evolução”.

“Sendo reconhecido formalmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença e relacionado no Código Internacional de Doenças (CID) como “síndrome de dependência do álcool”, ao alcoolismo não se aplicaria o artigo 482 da CLT, que inclui a “embriaguez habitual ou em serviço” entre os motivos para tal demissão”, concluiu Crivella. (Com informações do Congresso)

Tabagismo

Uma pesquisa liderada pela Universidade Yale (Connecticut, EUA) afirma que o fator psicológico, no combate ao vício do tabaco, tem uma influência maior do que imaginamos.

Tudo se resume, segundo eles, em saber quais áreas do cérebro trabalhar para atingir o objetivo de largar o cigarro.

Os cientistas observaram os cérebros de fumantes a partir de Ressonância Magnética. Enquanto estavam sob o exame, os participantes eram expostos a imagens de cigarro e comida. Quando os pacientes tentavam resistir ao seu objeto de desejo, o cérebro mostrava intensa atividade em certas áreas e parava em outras, ou seja, é possível criar atividades para atacar o problema na raiz.

Já existe, na psicologia, uma técnica cerebral para ajudar os fumantes a combater o vício. Chamada de Terapia Cognitivo-comportamental, ela obtinha relativo sucesso no tratamento dos pacientes, mas com um problema: eles não sabiam qual era a área do cérebro responsável pelas mudanças no vício, apenas combatiam o problema. Agora, a “receita cerebral” para o fim do vício foi descoberta: o Lobo Frontal aumenta a atividade, o Corpo Estriado diminui na mesma proporção, e então o desejo se apaga.

Isso foi descoberto da seguinte maneira: os investigadores apresentaram, a 21 fumantes, imagens de cigarros e alimentos, e orientaram os pacientes a pensar nas consequências negativas de seus vícios em longo prazo, e que fizessem força mental para resistir às suas vontades. A todas as reações, as áreas do cérebro eram mapeadas ao mesmo tempo.

Os fumantes tinham desejo pelo cigarro mais forte do que aos alimentos, mas o trabalho mental que eles fizeram reduziu ambos os desejos na mesma proporção: cerca de um terço. Essa foi a redução mostrada no Corpo Estriado, o setor do cérebro responsável pelos vícios.

O Corpo Estriado, localizado na parte inferior do cérebro, próximo ao tálamo, é um dos núcleos (ou gânglios) da base cerebral, e está conectado com as demais áreas. Ele está relacionado, grosso modo, às reações de “se acostumar” com as coisas, inclusive às coisas ruins, como o vício em cigarro.

Assim que os participantes resistiam com sucesso à tentação do cigarro, aumentava o fluxo sanguíneo e a atividade no Lobo Frontal. Essa área é estimulada em situações de resistência, de negação a algo que o corpo demanda.

O desafio dos psiquiatras, agora, é trabalhar em atividades mentais que facilitem esse caminho para os viciados: ativação do Lobo Frontal combinada à inatividade do Corpo Estriado.

Reino Unido proíbe a exposição de maços de cigarro nas lojas



02 de Outubro de 2011 - Terra Notícias


O Reino Unido redobra seus esforços para reduzir o consumo do tabaco a partir deste sábado proibindo a exposição dos maços de cigarro nas lojas bem como a venda em máquinas automáticas semelhantes às de refrigerante, como é comum no país. Espera-se que a nova medida diminua a taxa de fumantes dos atuais 21,2% da população para 18,5% até 2015.

O governo britânico já havia anunciado em março que iria traçar estratégias de controle ao tabagismo, principalmente para evitar o vício em adolescentes e em grávidas. Na Inglaterra, desde julho de 2007, está proibido fumar em locais públicos fechados e no trabalho, uma lei que foi implantada na Irlanda em março de 2004, na Escócia em março de 2006 e em Gales em abril de 2007.

Para dissuadir o cidadão de fumar, os cigarros e outros produtos relacionados deverão ser recolhidos a partir de sábado das prateleiras das grandes lojas permanecendo apenas atrás dos balcões e, a partir de 2013, também dos quiosques das lojas pequenas.

Serão proibidas também as máquinas automáticas de venda de cigarros, por permitirem o acesso de menores de idade ao fumo. Segundo uma pesquisa divulgada pela BBC, 10% dos fumantes com idades entre 11 e 15 anos compram seus cigarros nas máquinas, frente a 1% dos demais fumantes.

Enquanto na Inglaterra os pubs, clubes, discotecas e restaurantes adeptos a esse tipos de venda serão multados em 2.875 euros, o País de Gales adiou a proibição até fevereiro de 2012. Contudo, o governo galês confirmou seu compromisso com a nova lei, alegando dificuldades logísticas para justificar o atraso na implementação.

Nesta guerra ao consumo tabagista, serão vetadas ainda as exibições de anúncios e imagens desse produto nas máquinas vendedoras de varejo em geral. Tudo para tentar dissuadir o fumante, que gasta atualmente em torno de 8 euros por maço de 20 cigarros, preço que varia de acordo com a região e com o local de venda.

Apesar do elevado custo em comparação aos outros países (na Espanha, por exemplo, o mesmo maço custa 3,5 euros), que se explica pelos impostos, o Reino Unido conta com 10 milhões de fumantes, conforme os dados mais recentes da organização londrina World Cancer Research Fund. Os impostos sobre o tabaco subiram em março de 2% acima do Índice de Preços do Varejo (RPI), até 7%.

Uma polêmica consulta está nos planos do governo questionando a possibilidade da obrigatoriedade dos fabricantes de empacotar os cigarros em maços sem rótulo. Caso essa pratica seja adotada, o Reino Unido será o primeiro país a ter essa lei. A ideia de proibir a exposição de maços de cigarros ao público partiu do governo anterior trabalhista. O projeto foi revisado pelo atual governo, sendo muito bem recebido pelo setor de saúde.

Para a diretora de comunicação da British Heart Foundation, Betty McBride, "as políticas efetivas que protegem as pessoas desse perigoso hábito podem, e já o fazem, salvar vidas" disse para a revista especializada The Lancet. "Os fumantes têm quase o dobro de probabilidades de sofrer um ataque ao coração do que aqueles que nunca tocaram em um cigarro", lembrou Betty.

Curiosamente, uma recente pesquisa do YouGov revela que 47% dos britânicos fumantes apoiam a nova norma, contra 38% que se opõe.


Proibir cigarro em locais públicos não aumenta fumo em casa

Um estudo feito em cinco países europeus (Irlanda, França, Alemanha, Holanda e Grã-Bretanha) mostrou que a proibição de tabagismo em locais públicos não fez com que as pessoas fumassem mais em casa. A pesquisa contou com a participação de 4.634 fumantes e foi feita em duas fases: antes e depois da legislação restritiva entrar em vigor.

Em vez de as pessoas fumarem mais em casa para compensar, muitas largaram o cigarro de vez. Na Irlanda, 25% dos entrevistados deixaram de fumar em casa após a implantação das leis. Na França a taxa foi de 17%, na Alemanha 38%, na Holanda 28% e na Grã-Bretanha 22%. Antes da proibição, a maioria dos fumantes já restringia o fumo em casa, principalmente aqueles que queriam parar de fumar ou que tinham acabado de ter um filho, por exemplo.

Cannabis e humor

Cannabis e humor


Revista Brasileira de Psiquiatria

Rafael Faria SanchesI, II; João Mazzoncini de Azevedo MarquesI

IDepartamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil

IIInstituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (CNPq), Ribeirão Preto, SP, Brasil

IDepartamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil

IIInstituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (CNPq), Ribeirão Preto, SP, Brasil


Observam-se elevados índices de comorbidade entre abuso/dependência de cannabis e transtornos afetivos em estudos transversais e em amostras clínicas. Estudos longitudinais indicam que, em longo prazo, o uso mais intenso de cannabis está relacionado com um risco maior de desenvolvimento de doença bipolar e, talvez, depressão maior em indivíduos inicialmente sem quadros afetivos; porém, os mesmos não encontraram maior risco de uso de cannabis entre aqueles com mania ou depressão sem esta comorbidade. Outra importante observação é que o uso de substâncias psicoativas em bipolares pode estar associado a uma série de características negativas, como dificuldade na recuperação dos sintomas afetivos, maior número de internações, piora na adesão ao tratamento, risco aumentado de suicídio, agressividade e a uma pobre resposta ao lítio. Tratamentos psicossociais e farmacológicos são indicados para o manejo da comorbidade entre cannabis e transtornos afetivos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Maconha não Trata Dependência de Crack

A nova polêmica da maconha


Zero Hora

Especialistas criticam pesquisador paulista que defende uso da droga como terapia para derrotar crack

A pesquisa paulista que aponta a maconha como remédio para derrotar o vício em crack é considerada inválida e até mesmo irresponsável na comunidade científica brasileira. O assunto ganhou repercussão no fim de semana, quando o trabalho foi citado pelo jornalista Marcos Rolim em artigo da edição dominical de Zero Hora.No texto intitulado Maconha, porta de saída?, Rolim afirma que a pesquisa representa o "mais impressionante resultado de superação de crack no Brasil", critica a falta de repercussão que ela teve e utiliza o estudo para defender o uso medicinal da maconha. O artigo motivou forte reação de leitores.

Vários enviaram e-mails de protesto ao jornal.



A pesquisa citada por Rolim foi realizada pelo psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Tratamento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A experiência consistiu em oferecer maconha a um grupo de 50 usuários de crack. Conforme os dados, 68% haviam trocado de droga depois de seis meses. Após um ano, quem fez a substituição deixou também a maconha. Em reportagem recente da Folha de S.Paulo, Silveira descreveu o experimento como "um sucesso".

– A dependência de maconha é muito menos agressiva do que a do crack. Nesses casos, a maconha funcionou como porta de saída do vício – disse o pesquisador.

Não é o que pensam especialistas em dependência química. Ex-presidente e atual membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), o psiquiatra gaúcho Sérgio de Paula Ramos é enfático na hora de criticar o trabalho de Silveira. Ele cita um episódio ocorrido em um Congresso Brasileiro de Psiquiatria, alguns anos atrás, na época em que o experimento foi divulgado. Ramos e Silveira foram agendados para uma mesma mesa, durante a qual discutiriam. Segundo o gaúcho, Silveira, que estava presente no congresso, não apareceu e "escapou do debate científico sério".

– Ele não teve peito de ir. O experimento não tem a menor credibilidade científica. Foi muito criticado quando veio a público, anos atrás. Foi feito com poucas pessoas, seguidas durante pouco tempo. Dizer que a maconha pode fazer algum bem beira a irresponsabilidade. É dar as costas para a ciência – diz Ramos.



Psiquiatra diz que estudo é contestado na metodologia

Conforme ele, chefe da unidade de dependência química do Hospital Mãe de Deus, há uma biblioteca inteira de trabalhos científicos brasileiros e internacionais demonstrando que a maconha é prejudicial à saúde e serve de porta para drogas mais pesadas.

– O brasileiro começa com álcool. Quem evolui para as drogas ilícitas passa primeiro pela maconha e depois para a cocaína. Em 40 anos, nunca tratei um usuário de cocaína e de crack que não tivesse começado pelo álcool e pela maconha – afirma.

O psiquiatra Félix Kessler, do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também afirma que o estudo de Silveira é muito contestado em termos metodológicos. Uma das falhas seria o trabalho não levar em conta se outros fatores, como família e emprego, conduziram os dependentes observados à abstinência.

– Do jeito como o estudo foi feito, não é possível dizer que foi a maconha que fez os pacientes deixarem de usar crack, como dá a entender – disse Kessler.



Folha de São Paulo - Tendências/Debates


SIDARTA RIBEIRO, JOÃO R. L. MENEZES, JULIANA PIMENTA e STEVENS K. REHEN

"Causa-nos estranheza que psiquiatras venham a público negar o potencial terapêutico da maconha, medicamento fitoterápico de baixo custo"

O artigo contra o uso medicinal da maconha de Ronaldo Laranjeira e Ana C. P. Marques ("Maconha, o dom de iludir", "Tendências/Debates", 22/7) contém inverdades que exigem um esclarecimento.

A fim de desqualificar a proposta de criação de uma agência brasileira para pesquisar e regulamentar os usos medicinais da maconha, os autores citam de modo capcioso o livro "Cannabis Policy: Beyond the Stalemate".

Exatamente ao contrário do que o artigo afirma, o livro provém de um relatório com recomendações claramente favoráveis à legalização regulamentada da maconha.

Conclui o livro: "A dimensão dos danos entre os usuários de maconha é modesta comparada com os danos causados por outras substâncias psicoativas, tanto legais quanto ilegais, a saber, álcool, tabaco, anfetaminas, cocaína e heroína (...) O padrão generalizado de consumo da maconha indica que muitas pessoas obtêm prazer e benefícios terapêuticos de seu uso (...)

O que é proibido não pode ser regulamentado.

Qualquer substância pode ser usada ou abusada, dependendo da dose e do modo como é utilizada.

A política do Ministério da Saúde para usuários de drogas tem como estratégia a redução de danos, que não exige a abstinência como condição ou meta para o tratamento, e em alguns casos preconiza o uso de drogas mais leves para substituir as mais pesadas.

O uso da maconha é extremamen te eficiente nessas situações. A maconha foi selecionada ao longo de milênios por suas propriedades terapêuticas, e seu uso medicinal avança nos EUA, Canadá e em outros países.
Dezenas de artigos científicos atestam a eficácia da maconha no tratamento de glaucoma, asma, dor crônica, ansiedade e dificuldades resultantes de quimioterapia, como náusea e perda de peso.

Em respeito aos grupos de excelência no Brasil que pesquisam aspectos terapêuticos da maconha, é preciso esclarecer que seu uso médico não está associado à queima da erva. Diretores da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) afirmam frequentemente que maconha causa câncer. Entretanto, ao contrário do que diz a Abead, a maconha medicinal, nos países onde este uso é reconhecido, é inalada por meio de vaporizadores, e não fumada.
Isso elimina por completo os danos advindos da queima, sem reduzir o poder medicinal dos componentes da maconha, alguns c omprovadamente anticarcinogênicos.

Causa, portanto, estranheza que psiquiatras venham a público negar o potencial terapêutico da maconha, medicamento fitoterápico de baixo custo e sem patente em poder de companhias farmacêuticas.

Num momento em que o fracasso doloroso da guerra às drogas é denunciado por ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso, em que a ciência compreende com profundidade os efeitos da maconha e em que se buscam alternativas inteligentes para tirá-la da esfera policial rumo à saúde pública, é inaceitável a falsificação de ideias praticada por Laranjeira e Marques.
O antídoto contra o obscurantismo pseudocientífico é mais informação, mais sabedoria e menos conflitos de interesses.

SIDARTA RIBEIRO é professor titular de neurociências da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
JOÃO R. L. MENEZES é professor adjunto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do simpósio sobre drogas da Reunião SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento) 2010.
JULIANA PIMENTA é psiquiatra da Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro.
STEVENS K. REHEN é professor adjunto da UFRJ.

domingo, 4 de julho de 2010

Quem vai resolver o problema do Álcool no Brasil?

É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é o álcool

Um bar em São Paulo, próximo à PUC, decidiu cobrar bebida por hora: a pessoa paga uma quantia fixa e bebe o que quiser durante o tempo estipulado. Esse tipo de promoção ilustra uma informação revelada, na semana passada, por uma pesquisa da USP: 1 em cada 5 universitários brasileiros corre o risco de desenvolver dependência do álcool.

Esse dado surpreende a opinião pública, para quem, segundo recentes pesquisas, as drogas são objeto de crescente preocupação, mas o álcool não. Essas pesquisas refletem-se nas posições assumidas por Dilma Rousseff e José Serra, os principais candidatos à Presidência.

Dilma apresentou seu projeto contra o crack. José Serra arrumou uma briga com a Bolívia, acusando (e com certa razão, diga-se) suas autoridades policiais de conivência com o tráfico. Por tabela, o ataque bate em Lula, aliado de Evo Morales. É eleitoralmente compreensível, portanto, que o ex-governador, embora metido nas universidades nos anos 60 e 70, tenha dito que nunca sequer experimentou maconha.



É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é a bebida.

Neste ano, depois de descobrir que 30% dos estudantes das escolas particulares da cidade de São Paulo se tinham embebedado no mês anterior à pesquisa, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) decidiu estender o levantamento para todo o Brasil, incluindo também a rede pública. "Não tínhamos a menor ideia de que faríamos essa descoberta", conta a coordenadora da pesquisa, Ana Regina Noto, do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas).



Os dados da Unesp e da USP ajudam a explicar a polêmica provocada na semana passada pela notícia de que a festa de formatura organizada por estudantes de uma tradicional escola paulistana ofereceria "open bar".

Segundo o trabalho da Unifesp, são os estudantes das escolas mais caras que revelam maior propensão a exagerar na bebida.

Temos, no Brasil, cerca de 50 milhões de jovens. Se 30% deles (15 milhões de pessoas) ficam "altos" pelo menos uma vez por mês, é fácil imaginar a dimensão dos riscos de acidentes, de prática de sexo inseguro ou da própria dependência.



Em São Paulo, a cada 39 minutos, o trânsito despeja uma pessoa no pronto-socorro do Hospital das Clínicas. Todos sabemos que boa parte dos acidentes está associada ao álcool. Mais graves ainda são os registros de atos de violência ligados à bebida.

Por falta de informação, a sociedade aceita muito mais um adolescente tomando um porre por mês do que fumando um "baseado". Toleram-se até mesmo as mensagens que glamorizam o álcool, a exemplo do que se fazia no passado, quando fumar era charmoso e sexy.

Cientificamente está provado que a maconha provoca muito menos danos do que o álcool, a principal causa de internação nos hospitais psiquiátricos. Nem a cocaína e o crack causam tantos danos. O crack, por exemplo, quase não aparece na pesquisa da Unifesp.

Pergunto: quantos bares são punidos por vender bebida a menores de 18 anos?

Não há solução simples. Além de fazer cumprir a lei que proíbe a venda de álcool a menores de 18 anos, é preciso alertar sobre os perigos do vício nas famílias, nas escolas e nos meios de comunicação.



O levantamento da Unifesp dá uma boa notícia: entre jovens, cai o consumo de tabaco. Isso é resultado de décadas de campanhas que associam o fumo não ao charme e à sensualidade, mas ao câncer e até à impotência sexual.

Cigarro não é igual a álcool. Beber moderadamente e com responsabilidade dá prazer e não prejudica a saúde. O desafio para os governos e para a sociedade, além da indústria da bebida e dos publicitários, é encontrar um meio de gerar essa atitude responsável.



Debater o tema nas eleições sem preconceitos e moralismos já seria um bom começo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Entrevista Jornal PUCCAMP Junho/2010

- Quais os efeitos/consequencias do uso do crack para o corpo? Quais os órgãos mais afetados pela droga?


O crack é uma droga utilizada a partir da queima da pedra, que emite um som que deu nome à droga. A fumaça liberada entra bastante quente pela boca (fumada em cachimbos ou latas de alumínio) e queima dedos, lábios, vias aéreas e pulmões, onde predispõe o aparecimento de pneumonia, tuberculose e enfizema pulmonar. O uso da lata de alumínio causa intoxicação por alumínio.

Em 10 segundos a droga atinge o sistema nervoso central, o cérebro e, mais especificamente o córtex frontal. Lesa o centro do controle do prazer já nos primeiros usos (pode ser já na primeira vez), o que faz com que o usuário não seja mais capaz de sentir prazer em nenhuma outra atividade que não seja o uso do crack. O usuário torna-se, então, apático e indiferente. Pode causar depressão, ansiedade e até esquizofrenia. Também causa alterações da marcha, da memória, da atenção, da concentração e da coordenação motora, a pessoa perde a noção de tempo e de espaço.

A droga tira a necessidade de dormir e de se alimentar, podendo gerar desnutrição - que é ainda mais grave em crianças pois compromete todo o desenvolvimento.

Lesa os vasos sanguineos causando vasculite crônica, causandi Infarto e AVC.











-Como funciona essa droga no organismo e o que a torna tão potencial na questão da dependência?

A droga atua alterando a liberação de dopamina - neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar - causando sensação de prazer e euforia. O curto tempo de ação (10 segundos) e o baixo preço são os atrativos para o primeiro uso, a incapacidade de sentir prazer em qualquer outra atividade cria a necessidade de novos usos e desenvolve a dependencia em período de tempo tão curto.







- Há efeitos psicológicos/mentais causados em função do uso do crack? Que tipos?

Sim, muitos. Desde ansiedade, depressão, apatia até alteração da própria personalidade, o que explica as mudanças de comportamento - agressividade, mentiras, prostituição, roubos, homicídios.





- * Na sua opinião, quais as formas de tratamento mais adequadas?

O tratamento deve ser global, sempre digo a meus pacientes que precisamos nos preparar e nos fortalecer para entrar na "batalha" contra o crack. Precisamos de aliados como os grupos de NA, AE (Amor-Exigente), psicoterapia individual e familiar. No caso da dependencia de crack, indico internação em comunidade terapeutica durante cerca de 6 meses com uso simultâneo de antidepressivos, para que seja possível recuperar parte do dano cerebral causado e para que a pessoa volte a sentir prazer em outras atividades, conseguindo, assim, viver sem a droga.





- * Por que a grande dificuldade em sair do vício do crack? Qual a diferença nesse sentido em relação às outras drogas?

A dependência se instala muito rapidamente e o usuário rompe mais rápido com sua família e rede social que com outras drogas, passando a desreipeitar regras da sociedade, tornando-se "marginalizado". Quando tenta ficar sem a substância entra em depressão, sente um vazio imenso e insuportável, já que é neuroquimicamente incapaz de se sentir bem. Pensa em usar apenas 1 pedra para alívio dessa angústia e acaba retomando o padrão anterios de consumo.

domingo, 28 de março de 2010

CHÁ DO SANTO DAIME - ayahuasca (HOASCA OU VEGETAL) - DIMETILTRIPTAMINA (DMT)

Revista Veja - Por Natalia Cuminale

Ao liberar o uso do chá da ayahuasca para fins religiosos, no começo deste ano, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad) também reconheceu, ao menos implicitamente, que o consumo do alucinógeno é arriscado. Daí a existência, na mesma resolução, de regras como a proibição de que pessoas com histórico de transtornos mentais ou sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas ingiram a droga, e a obrigatoriedade de que as seitas do Daime "exerçam rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos". Faltou, no entanto, o mais importante: prever os mecanismos para que essas regras sejam implementadas com alguma eficácia. Quem fiscaliza as seitas para saber se elas estão controlando o ingresso dos novos adeptos? Quem identifica os portadores de transtornos mentais - os líderes religiosos? Quem será responsabilizado caso a resolução não seja seguida? Fazer essas perguntas às autoridades leva, hoje, a um série de contradições... alucinante.

Segundo Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, chefe da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) - que exerce a função executiva do Conad –, a fiscalização acerca do uso do chá cabe tanto "às instâncias que congreguem as entidades usuárias" (ou seja, entidades como Cefluris e a União Vegetal, que têm vários templos espalhados pelo país) como "aos diversos órgãos da administração pública, conforme suas competências específicas". Vladimir de Andrade Stempliuk, coordenador-geral do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas, subordinado ao Senad, é mais específico: "Compete aos diversos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas a fiscalização e a imposição de medidas legais caso estas sejam pertinentes", explica. Dessa forma, se tornariam responsáveis, por exemplo, o próprio Conad e, indiretamente, entidades como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Polícia Federal (PF), que compõem o Conselho Nacional.

Mas nem todos entendem assim. Procurada pela reportagem, a Anvisa afirmou que a ayahuasca não faz parte da lista de substâncias que caem sob seu controle. Já o Ministério da Saúde encaminhou a reportagem para o Conad, alegando com razão ter sido esse órgão "quem regulamentou o uso religioso dessa bebida no Brasil". Igualmente, o Ministério Público Federal, apontou para o Conad. Os promotores, contudo, podem agir caso haja descumprimento da fiscalização. Ainda segundo o MPF, "nenhum procedimento nesse sentido" está registrado na base de dados da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC).

A resolução do Conad recomenda ainda que a produção da bebida seja auto-sustentável, veta seu comércio e propaganda do composto e estabelece que o cultivo e o transporte só devem ocorrer para fins religiosos. Mas quem, de fato, fiscaliza a produção e comércio dessas plantas? A Polícia Federal, por exemplo, alega que sua função se restringe ao controle do DMT (n-dimetiltriptamina), a substância alucinógena do chá da ayahuasca. "Se isolado, o DMT passa a ser droga proibida, portanto conduzi-la ou comercializá-la será crime a ser enquadrado na lei contra uso e tráfico de entorpecentes", explica em nota. Fiscalizar o plantio da erva-rainha ou do cipó-jagube, dos quais são extraídos o DMT, portanto, não seria atribuição da PF.

Buracos na lei - Para os juristas, os furos no sistema criado pela resolução do Conad são gritantes. "O poder público pecou em não regulamentar mais clara e objetivamente o uso do chá", diz o advogado criminalista André Alves Wlodarczyk. Ao que o advogado constitucionalista João Wiegerinck acrescenta: "Por eliminação, percebemos que a fiscalização só será feita quando provocada: quando alguém passar mal ou surtar com a bebida. Obviamente, é uma falha." Não há dúvida de que a própria entidade religiosa que faz uso do chá poderá ser responsabilizada em caso de dano a um fiel, se não forem observadas as orientações da resolução do Conad. "A igreja tem o dever de indenizar, se for provado que ministrou sem os cuidados que a resolução determinava", diz Wlodarczyk. Pode, em tese, vir a ser o caso da Céu de Maria, seita fundada pelo cartunista Glauco e onde seu assassino, Carlos Eduardo, bebia o daime. Isso porque, Carlos Grecchi, pai de Carlos Eduardo, afirma ter pedido a Glauco que parasse de dar o daime ao filho em 2007. Não teria sido atendido.

Saúde pública – A resolução também é criticada por profissionais da saúde pública. Ela entrega aos próprios religiosos a responsabilidade de dizer quem está apto a tomar ou não o chá. Mas essa deveria ser uma tarefa de psicológos ou psiquiatras. Segundo Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente do Grupo Multidisciplinar de Trabalho do Conad, "o uso do chá é arriscado para pessoas que tomam antidepressivos e é contra-indicado a pessoas com diagnóstico de psicose, já que aumenta muito a produção de certas substâncias no cérebro". Para ele, o Conad deveria desenvolver algum tipo de instrumento para aferir se as entidades religiosas estão realizando o questionário ou não. "A falta de fiscalização pode levar o aparecimento de vários casos graves”, diz Silveira.

Preocupado com as brechas deixas pela resolução do governo sobre o daime, o psiquiatra Emmanuel Fortes, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) e novo representante do órgão no Conad, acredita que o atual estado de coisas pode desaguar em um problema de saúde pública. "É uma temeridade. As pessoas não saem por aí dizendo se têm doença mental ou não. Isso merece uma reflexão por parte do Conselho Federal de Medicina", diz, criticando abertamente a capacidade de as entidades religiosas decidirem quem pode ou não tomar o chá. "Com a ampliação e o crescimento organizado de novas seitas, os casos de efeitos colaterais indesejados e o agravamento de estados psíquicos começarão a aparecer", acredita Carlos José Renaut Filho, psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que presta consultoria a uma entidade daimista no Rio de Janeiro.




Ação terapêutica da ayahuasca divide opiniões de especialistas - Por Equipe AE



 Há argumentos e argumentadores de peso para os dois lados da questão: aqueles que apostam na ação terapêutica da ayahuasca - também chamada de hoasca e vegetal - e os que defendem os riscos que ela, usada por várias linhas religiosas no Brasil, poderia provocar à saúde. "É uma substância com propriedades alucinógenas, que promove mudanças químicas no cérebro, levando a distorções no sistema senso perceptivo do indivíduo, ou seja, na capacidade de sentir, ouvir, ver", explica o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo e PhD em Dependência Química. "É complicado afirmar que um alucinógeno é completamente inócuo para o cérebro."

As alucinações desencadeadas pelo chá - que no ambiente religioso são chamadas de mirações e têm o objetivo de promover o autoconhecimento - se devem à ação da dimetiltriptamina (DMT), substância presente nas folhas da chacrona, um das plantas do chá. "A hoasca, assim como a maioria de outros alucinógenos, como LSD e ecstasy, não tem grande risco de dependência. O problema é o risco de dano cerebral associado, já que se trata de uma substância que desregula o cérebro", comenta Laranjeira. "É muito difícil dimensionar qual é o efeito disso mediante um uso crônico ou em pessoas predispostas a desenvolver quadros mentais, como é o caso de filhos de pais com esquizofrenia."

A interação entre os efeitos provocados pela hoasca e outros elementos que interferem na química cerebral, como os quadros psiquiátricos, veio à tona no último dia 12, quando o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes - que tem histórico de esquizofrenia na família e, além de ingerir hoasca, era consumidor de drogas - assassinou o cartunista Glauco Villas Boas. "Nem sempre uma predisposição genética para quadros psiquiátricos é tão facilmente reconhecida. E também não é possível mensurar qual será o grau de suscetibilidade de cada um à substância", diz. Para Laranjeira, o consumo seria contraindicado sobretudo para as crianças.

Em janeiro passado, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad) publicou no "Diário Oficial" a regulamentação para o uso da ayahuasca no Brasil com fins ritualísticos, inclusive por crianças. Em algumas comunidades há batismos de bebês com o vegetal, ministrado em conta-gotas. "Para mim, não deveria ser permitido em crianças. Nelas, o ideal é se evitar ao máximo qualquer substância diferente, até mesmo medicamentos, para minimizar o risco de intoxicação. Em uma vida psíquica se cristalizando, é difícil saber as consequências", declara o médico Elisaldo de Araújo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas. "A liberação, contudo, baseou-se em estudos com crianças que usavam a hoasca. Constatou-se que não havia alterações importantes entre elas", conta.

Apesar de ver com cautela o uso da hoasca por crianças, o profissional não contra-indica a prática dos rituais com o chá. "Tudo depende do meio em que se toma. Em um círculo religioso, pressupomos que haverá gente experiente orientando e controlando os rumos das alucinações."

Carlini desaconselha a hoasca por pessoas com limitações de saúde. "Quem tem problema cardíaco deve evitar", diz. Para ele, interações com alguns remédios também devem ser vetadas. "A hoasca pode inibir o efeito dos hipnóticos, usados contra insônia", completa.

O pesquisador Rafael Guimarães dos Santos, doutorando em farmacologia pela Universidade Autônoma de Barcelona, com ênfase nos efeitos da ayahuasca, pede cautela para quem usa antidepressivos que inibem a enzima monoamina oxidase (MAO) - efeito que o chá também produz. "Ao inibir a MAO, que controla os níveis de serotonina, a quantidade desta substância aumenta. Se a pessoa ingerir o chá e também o remédio, o nível de serotonina poderá subir demais, levando à síndrome serotoninérgica, com tremores, agitação e até mesmo morte", relata.

Santos diz que a interação do chá com a substância tiramina também é problemática. "Esta substância, encontrada em alimentos envelhecidos, como vinho tinto e alguns tipos de queijo, é degradada pela MAO. Com a inibição da enzima, a tiramina pode se acumular no corpo, levando à hipertensão", explica. Segundo ele, "não existem evidências científicas de que o chá possa ser usado com fins terapêuticos, embora muitos usuários defendam este uso".

Diretor do Departamento Médico da União do Vegetal, uma das linhas religiosas ligadas à hoasca, o médico José Roberto Souza é contrário à 'medicalização' do chá. "Nosso objetivo é o uso no ritual e não se pode afirmar que as melhorias de saúde nos praticantes se devem às propriedades bioquímicas do chá. É o envolvimento com a doutrina, a mudança de paradigmas com relação aos hábitos de vida, deixando o álcool e o fumo, que trazem os benefícios para a saúde", diz.

O QUE DIZ A MEDICINA

Pessoas que sofrem de hipertensão ou que apresentem problemas cardiovasculares não devem fazer uso do chá porque ele pode desencadear taquicardia e alterações de pressão

- Indivíduos que tenham passado por transtornos mentais ou que tenham uma predisposição conhecida para este tipo de quadro (filhos de pais esquizofrênicos, por exemplo) não devem usar o chá porque ele, ao provocar alucinações, age sobre o sistema de senso percepção cerebral, que é um mecanismo afetado em vários tipos de transtornos psiquiátricos

- A administração do chá em crianças é admitida pelo Conad, embora seja alvo de crítica por parte de alguns médicos. Parte deles afirma que não há estudos que comprovem o comprometimento cerebral em crianças usuárias do chá, outros alegam que promover efeitos psicoativos em cérebros ainda em formação é arriscado

O QUE DIZ O CONAD

O chá deve ter uso restrito a rituais religiosos e está vedada sua associação a substâncias psicoativas ilícitas - como crack e LSD, por exemplo

- O processo de produção, armazenamento, distribuição e consumo da ayahuasca não pode estar associado à comercialização das espécies usadas no chá

- As entidades religiosas devem aplicar entrevistas a novos integrantes e evitar que o chá seja dado a pessoas com histórico de transtornos mentais, bem como a indivíduos sob o efeito de bebidas alcoólicas e outras substâncias psicoativas

- O uso da ayahuasca pressupõe que a extração das espécies vegetais busque a autossustentabilidade, desenvolvendo cultivo próprio e evitando a depredação de espécies florestais nativas

quinta-feira, 11 de março de 2010

EPTV - Crack prejudica desenvolvimento de crianças

Reportagem da EPTV acompanhou jovens e adolescentes que consomem crack no centro de Campinas



11/03/2010 - 14:17

EPTV

O crack é a droga mais agressiva que existe hoje no Brasil. A afirmação é baseada nos efeitos que o consumo da droga causa no corpo do usuário. A psiquiatra Débora Ribas D'Ávila, a droga é muito quente e, à medida que é consumido, queima os dedos, a boca e o pulmão.

Durante vários dias, a reportagem da EPTV acompanhou o comportamento de jovens e adolescentes que consomem crack no centro de Campinas. Em uma imagem gravada, um menino sentado em uma praça fuma a pedra e em segundos começa a se agitar. Depois que o crack é queimado, a fumaça da cocaína presente na droga passa pelo pulmão, cai na circulação e atinge o sistema nervoso central. No cérebro, aumenta a quantidade da sustância dopamina, que dá uma sensação maior de euforia e poder. A coordenação motora diminui e altera os sentidos da audição, do paladar e do olfato.

De acordo com os médicos, esse caminho que o crack percorre no organismo ocorre em apenas dez segundos. Além de afetar os sentidos, o crack provoca uma sensação de prazer que não é comparada a nenhuma outra atividade, inclusive o sexo e por isso a dependência pode ocorrer na primeira vez, quando a pessoa experimenta a droga.

Uma vez ingerido, o crack já pode provocar vários problemas de saúde, explica a psiquiatra. A especialista diz ainda que no caso das crianças, as consequências podem ser irreversíveis, que que prejudica o desenvolvimento cerebral.

No caso de mulheres grávidas, o efeito não atinge apenas a mãe, explica a médica. A criança já nasce dependente, com dificuldades para mamar, além de ter irritação de humor e problemas durante o crescimento.

Mas apesar da agressividade do crack, a psiquiatra reforça que o tratamento é possível, dependendo somente da intenção da pessoa de se recuperar.

quarta-feira, 10 de março de 2010

COMO O CRACK MATA

Uma droga de rápida absorção, prazer efêmero e devastadora para o organismo. Forma menos pura da cocaína, o crack causa danos ainda maiores ao corpo humano pela velocidade e potência com que seus componentes chegam ao pulmão e ao cérebro. Hipertensão, problemas cardíacos, acidente vascular cerebral (AVC) e enfisema são alguns dos efeitos do seu consumo. Apesar de todos esses males, a violência e o vírus HIV ainda são apontados como as principais causas de morte dos usuários de crack.


O psiquiatra Fernando Madalena Volpe - que fez um estudo sobre a relação entre a vasculite cerebral e o uso de cocaína e crack - explica que o crack provoca uma má circulação aguda, o que deixa os usuários mais suscetíveis a problemas que podem acometer órgãos nobres, como o cérebro e o coração. Ele ressalta, no entanto, que o risco de o usuário ter tais disfunções ocorre independentemente da dose consumida:

''No senso comum, diz-se que todo mundo que morre após consumir drogas foi por overdose, o que transmite a mensagem de que apenas se usar demais é que se pode morrer por causa da droga. Isto é um mito, pois mesmo com doses usuais, um indivíduo pode sofrer infartos cerebrais ou cardíacos. Até mesmo na primeira cheirada ou pipada.'', Conta.

Segundo Volpe, o AVC pode acontecer até mesmo depois de o usuário ter parado de usar a droga por um tempo, pois ele pode ter desenvolvido uma inflamação crônica das pequenas artérias, chamada de vasculite.

O pulmão é outro órgão seriamente atingido pelas substâncias do crack. A fumaça do crack gera lesões nos pulmões que causam problemas respiratórios agudos, tosse e dores no peito: em seis meses de uso, já pode ter o enfisema. O usuário aspira uma fumaça quente, que chega aos pulmões em alta temperatura. O usuário queima a boca, os dedos, as vias aéreas e o pulmão. Em alguns casos, chegam a ser feitas feridas, úlceras junto ao lábio pela alta temperatura do cachimbo ou da latinha.

Violência é a principal causa de morte entre usuários de crack

O emagrecimento repentino também é um dos efeitos do crack porque o organismo passa a funcionar em função da droga, e o dependente mal come ou dorme. Assim, os casos de desnutrição são comuns. A pessoa só para por exaustão. O uso do crack altera o centro da fome: há uma hiperdosagem de neurotransmissores, e a pessoa não sente necessidade de outras coisas.

Apesar do efeito devastador que o crack causa no organismo, a violência ainda é a principal causa de morte entre os usuários da droga. Uma pesquisa realizada na década de 90 com pacientes que se internaram em um serviço de desintoxicação, em São Paulo, mostrou que, após cinco anos, 56,6% das mortes por crack foram homicídios. O segundo maior fator foi o vírus HIV, que causou 26,1% dos óbitos. Menos de 10% dos pacientes morreram de overdose.

A morte por violência é a mais comum. Mas, é preciso que o Sistema Único de Saúde (SUS) passe a fazer exames toxicológicos para que os números reais apareçam e possam gerar estudos. Nos prontos-socorros, você não sabe porque a pessoa está tendo um AVC. Não tem protocolo para se identificar o usuário de droga.

Embora uma overdose ou o uso contínuo de crack não necessariamente mate, pode deixar sequelas que vão desde problemas neurológicos, cefaleias, alterações na marcha e até distúrbios na fala.

“Nunca experimente o crack - Ele causa dependência e mata”. Esse é o slogan da Campanha Nacional de Alerta e Prevenção do Uso de Crack lançada pelo Ministério da Saúde para prevenir o consumo da droga. A peça está sendo veiculada em mídias de todo o país. O alvo são jovens de 15 a 29 anos, de todas as classes sociais. A meta é alertar sobre os riscos e conseqüências do consumo do crack, um derivado da cocaína.

A veiculação da campanha seguirá até o dia 31 de janeiro.

De forma complementar, a campanha também terá material informativo sobre as opções de tratamento oferecidas no Sistema Único de Saúde (SUS). A partir desta quarta-feira, será disponibilizado mais um instrumento para dar suporte ao familiar e ao usuário da droga: o Disque Saúde (0800 61 1997) terá um ramal exclusivo para informações sobre o crack e orientações para tratamento dos usuários na rede do SUS, com profissionais especialmente treinados.

O número será divulgado nas peças publicitárias da campanha e em grandes adesivos, que serão afixados em orelhões públicos nas principais cidades brasileiras, a partir de janeiro. As chamadas “cracolândias” – regiões onde usuários e traficantes de crack se concentram nas cidades – serão os locais prioritários de afixação desses adesivos.

Usários potenciais

“A campanha faz parte de um conjunto de medidas tomadas antes da expansão do crack no país. O Ministério assume o protagonismo do combate à droga, entendendo que o problema ultrapassa a esfera da saúde”, explicou José Luiz Telles, diretor do Dapes (Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas) do Ministério da Saúde.

“É uma postura crítica frente ao tema. A droga é barata; por isso, atinge principalmente os jovens das camadas mais baixas. Mas não se enganem, qualquer jovem é considerado um usuário em potencial", disse Telles.

Os consumidores de crack são expostos a riscos sociais e a diversas formas de violência. Geralmente, quando os efeitos da droga diminuem no organismo da pessoa, ela sente sintomas de depressão e tem sensação de perseguição. Outros sintomas comuns são desnutrição, rachadura nos lábios, sangramento na gengiva e corrosão dos dentes; tosse, lesões respiratórias e maior risco para contrair o vírus HIV e hepatites.

A droga surgiu nos Estados Unidos na década de 80, e é derivada das sobras do refino da cocaína. Geralmente vendida em pedras, nenhuma outra droga tem tanto poder de criar dependência. Apesar de ser menos consumida que outras substâncias, como álcool, tabaco, maconha e cocaína, os danos causados pelo crack são muito mais graves segundo especialistas.

terça-feira, 9 de março de 2010

COMBATE AOS ANABOLIZANTES

A Câmara analisa o Projeto de Lei 6696/09, do deputado Capitão Assumção (PSB-ES), que trata de esteróides anabolizantes e substâncias similares. A proposta modifica a Lei 11.343/06, que criou o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas.

Pelo texto, passa-se a considerar, como drogas, os esteróides androgênicos ou peptídeos anabólicos - conhecidos como anabolizantes hormonais - que causem dependência humana.

O projeto prevê também que receberá as mesmas penas previstas para traficantes, fabricantes e vendedores de drogas ilícitas o agente que promover a venda, oferecer, entregar ou fornecer a consumo, ainda que gratuitamente, medicamentos do grupo terapêutico dos esteróides ou peptídeos anabolizantes, sem a devida apresentação e retenção da cópia da prescrição emitida por médico ou dentista devidamente registrados nos respectivos conselhos profissionais.

O autor afirma que, com o crescimento do "mercado da beleza" cada vez mais exibicionista e exigente para os padrões sociais, nasce a necessidade de ter um corpo aparentemente sadio e musculoso, o que impulsiona a procura por subterfúgios para o alcance rápido e sem esforço desse chamado padrão de beleza.

"Neste anseio, jovens, adultos e até idosos utilizam mecanismos rápidos para obtenção de um corpo esbelto e musculoso, como é o caso dos medicamentos do grupo terapêutico dos esteróides ou peptídeos anabolizantes", explica.

O deputado lembra que, atualmente, a venda desses esteróides ainda é feita às escuras, e até mesmo um menor de idade consegue obtê-las sem qualquer prescrição médica.

Na opinião do parlamentar, o resultado disso são os inúmeros casos de intervenções médicas pelo uso indevido ou excessivo de anabolizantes, além de altos índices de morte ocasionados pelo uso indiscriminado desses medicamentos.

Testoterona

"Os esteroides anabólicos, ou anabolizantes, são drogas relacionadas ao hormônio masculino testosterona que destinam-se, especialmente, a repor a falta de hormônio masculino ou de musculatura corpórea, melhorando, momentaneamente, enquanto perdurar o uso e seus efeitos, a 'performance' dos usuários em atividades físicas", argumenta.

O parlamentar lembra que essas drogas causam dependência psicológica. O usuário não consegue mais ficar sem o seu uso contínuo. O corpo escultural passa a fazer parte da dependência psicológica, mesmo que a custo de um elevado preço, pago pelo organismo do usuário, ainda que sabidamente possa resultar em morte.

Ele acrescenta que a necessidade ou não do uso desses medicamentos depende da avaliação do profissional habilitado. "Infelizmente essas drogas anabolizantes continuam sendo vendidas ilegalmente no País e sem que exista o devido controle e punição", disse.

Assumção recorda ainda que muitas pessoas produzem anabolizantes caseiros ou misturam fórmulas para animais para uso como coadjuvantes anabólicos e colocam esses produtos à venda em diversas localidades, até mesmo na internet, sem qualquer controle sanitário.

Tramitação

A proposta será analisada pelas comissões de Seguridade Social e Família; de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, antes de ser votada pelo Plenário.

domingo, 7 de março de 2010

EUA : Venezuela e Bolívia não colaboram no combate às drogas

Washington, 1 mar - Os Estados Unidos voltaram hoje a suspender a Bolívia e a Venezuela no combate às drogas, ao considerar que sua cooperação foi novamente insuficiente em 2009, enquanto destacou os progressos "significativos" da Colômbia e anunciou mais ajudas para o México.

O departamento de Estado enviou hoje ao Congresso seu relatório anual sobre a luta global contra o narcotráfico e a lavagem de dinheiro, que servirá para determinar, em setembro, possíveis sanções aos países que, segundo Washington, não fazem o suficiente para colaborar nessa área, e que no ano passado incluía Bolívia e Venezuela.Washington considerou que Caracas "não coopera de maneira constante com os EUA e outros países para reduzir o tráfico de cocaína que passa por seu território". Além disso, também julgou que a colaboração com La Paz continua sendo um "desafio".

O relatório lembrou que grupos armados ilegais na Colômbia, entre eles as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), estão vinculados a organizações narcotraficantes que distribuem sua mercadoria através da Venezuela.

Esses grupos teriam estabelecido na Venezuela seus meios e recursos "para facilitar as atividades de tráfico, para descansar, e para escapar das forças de segurança colombianas", assinalou.Os EUA asseguraram que há "fortes evidências" de que "alguns elementos" das forças de segurança venezuelanas "prestam socorro direto" a esses grupos terroristas.

Desde que a Venezuela suspendeu em 2005 a cooperação antidrogas com os EUA, a colaboração entre os dois países nessa área se limitou à troca de informações, a coordenação de deportações e a intercepção marítima.

De acordo com os dados disponibilizados pela Venezuela, foram confiscadas no ano passado 60,2 toneladas de drogas ilegais nesse país, diante das 40 toneladas do ano anterior. No entanto, esse número está muito longe das 152 toneladas confiscadas em 2005, assinalaram os Estados Unidos.

Os EUA reconheceram que a Venezuela fez esforços para lutar contra a lavagem de dinheiro e que o país instalou sistemas de radares. No entanto, Washington criticou que a estratégia venezuelana contra as drogas, que começaria em 2008, foi adiada e ainda não foi publicada.Um ambiente "permissivo e corrupto" transformou a Venezuela "em uma das rotas preferidas para o tráfico de drogas ilícitas da América do Sul", sentenciou o relatório.Os Estados Unidos lembraram que a falta de cooperação da Venezuela é um reflexo das "gélidas" relações bilaterais entre os dois países.Também no caso da Bolívia, os EUA estão dispostos a aprofundar a cooperação bilateral, dado que no ano passado o país sul-americano tomou menos medidas para impedir a produção e o tráfico de drogas, segundo o relatório.De fato, o potencial de produção de cocaína aumentou 50% desde 2005 na Bolívia. O Governo do presidente Evo Morales permite um maior cultivo da folha de coca, tradicionalmente usada pelos indígenas para mascar.

Além disso, os EUA se mostraram "preocupados com a eficácia das políticas e ações antinarcóticos" do Governo Morales, devido ao aumento dos níveis de produção da droga, à presença de narcotraficantes mexicanos e colombianos em território boliviano e a possíveis conflitos entre os cultivadores e o Governo.

Mas nem tudo foi objeto de crítica por parte dos Estados Unidos. No caso da Colômbia, Washington louvou os progressos "significativos" na luta antidrogas no ano passado e destacou que o país deve fazer mais para combater o surgimento de novos cartéis e "nacionalizar" vários programas antinarcóticos.Segundo o relatório, a Colômbia continuou em 2009 uma agressiva campanha de apreensão e erradicação de drogas, além de manter um forte recorde de extradição de pessoas acusadas de narcotráfico aos Estados Unidos.Em relação ao México, os EUA indicaram que enviarão mais ajuda nos próximos anos ao país vizinho para contribuir com a desmilitarização do combate ao narcotráfico. Além disso, o Governo americano se comprometeu a combater o consumo de drogas no México.Segundo o relatório, a ajuda americana servirá para preparar a Polícia civil mexicana a assumir tarefas de segurança e o desmantelamento dos cartéis da droga, desempenhadas agora pelos militares.O Governo de Washington disse que quando os militares mexicanos retornarem às "tarefas tradicionais", haverá um aumento nas atividades para a erradicação de cultivos de maconha e ópio.

Já na América Central, o relatório observou que o golpe de Estado em Honduras prejudicou gravemente a luta contra o narcotráfico nesse país. Quanto ao Panamá, o relatório advertiu sobre os perigos representados pelas organizações criminosas para a democracia do país.

O Brasil, maior consumidor de cocaína do mundo depois dos Estados Unidos, passou a ser em 2009 um importante canal para o transporte de drogas rumo a Europa e África, revelou o relatório. Seguno o texto, a cada ano passam pelo território brasileiro, por ar, terra e rios, toneladas de drogas.

O Departamento de Estado americano aponta que as quadrilhas brasileiras usam os lucros da venda de drogas para comprar armas e aumentar seu controle sobre as favelas de São Paulo, Rio de

Abuso e dependencia de analgésicos leva a perda auditiva

Folha de São Paulo - IARA BIDERMAN - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um estudo norte-americano que acompanhou 26 mil homens por 18 anos mostra que o uso regular de aspirina, acetaminofen (substância ativa de analgésicos como o Tylenol) e anti-inflamatórios não esteroides (como o ibuprofeno) aumenta o risco de perda auditiva, especialmente nos homens com menos de 60 anos.

Os autores apontam que o consumo regular (duas ou mais vezes por semana) de acetaminofen aumenta em 99% o risco de deficiência auditiva em homens com menos de 50 anos e em 38% em homens entre 50 e 59. A partir dos 60 anos, o risco cai para 16%.

"A relação entre o acetaminofen e a perda auditiva nunca havia sido estudada", disse à Folha Sharon Curhan, do Brigham and Women's Hospital, a principal autora do estudo.

Entre os que usam regularmente aspirina, o risco de perda auditiva foi 33% maior para homens abaixo dos 59 anos. Não foi observado aumento de risco nos participantes com mais de 60 anos. O uso regular de aspirina, que diminui o risco de formação de coágulos, é indicado na prevenção de doenças cardiovasculares.

Quanto aos anti-inflamatórios não esteroides, o risco foi 61% maior para homens abaixo dos 50 anos, 32% maior para a faixa entre 50 e 59 anos e 16% para os com 60 anos ou mais.

"Os efeitos ototóxicos [que agridem o aparelho auditivo] de altas doses de aspirina estão bem documentados e há suspeitas de que altas doses de anti-inflamatórios não esteroides causem danos auditivos. Nós investigamos o uso regular de doses moderadas desses analgésicos. É o maior estudo prospectivo mostrando essa relação", diz Curhan.

Os pesquisadores fizeram ajustes para fatores que pudessem distorcer os resultados, como alcoolismo, tabagismo, doenças cardiovasculares, hipertensão e uso de outros tipos de medicamento com efeitos comprovados na audição.

O trabalho, que acaba de ser publicado na edição de março do "American Journal of Medicine", foi realizado por pesquisadores das universidades Harvard e Vanderbilt, do Brigham and Women's Hospital e da Massachusetts Eye and Ear Infirmary, em Boston.

A perda auditiva é considerada a desordem sensorial mais comum nos EUA. Estima-se que afete 10% da população geral e pelo menos metade da população com mais de 65 anos. "Não temos números precisos no Brasil, mas provavelmente a situação aqui é igual ou maior. Os distúrbios auditivos são um problema de saúde pública", afirma o otorrinolaringologista Marcelo Ribeiro de Toledo Piza, diretor da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia.

"A deficiência auditiva afeta a capacidade de comunicação, reduz a autonomia e pode levar ao isolamento social e à depressão", completa Curhan.

Uso prolongado de maconha pode dobrar risco de psicose

Entre jovens que fumam maconha há seis anos ou mais, o risco de apresentar episódios psicóticos de alucinação ou delírios pode chegar a ser o dobro do verificado entre as pessoas que nunca consumiram a droga, segundo um estudo publicado no periódico "Archives of General Psychiatry". De acordo com o trabalho, quanto maior a duração do uso da maconha, maior o risco de se manifestarem os sintomas da psicose.

A pesquisa, que estudou 3.801 homens e mulheres de 26 a 29 anos, é a primeira a analisar o skunk -maconha mais forte, com maiores quantidades do ingrediente psicoativo THC (tetrahidrocannabinol). A pesquisa também avaliou 228 pares de irmãos, o que sugere que fatores genéticos ou ambientais têm menos chance de serem responsáveis pela psicose e pelas alucinações.

"Já desconfiava-se da relação entre o uso crônico da maconha e o aparecimento de casos psicóticos, mas este parece ser o primeiro estudo que dá uma base científica a essa visão que nós tínhamos", afirma Arthur Guerra, psiquiatra responsável pelo Grupo de Drogas da Faculdade de Medicina da USP.

A ONU estima que 190 milhões de pessoas usem maconha no mundo todo.

Brasil lidera vendas de Cerveja

No ano da pior crise global, foram as vendas de cerveja no Brasil que impediram a AB InBev (a maior empresa mundial do setor) de ter uma contração ainda maior no seu resultado.

A companhia vendeu 0,8% menos cerveja no mundo no ano passado do que em 2008, com queda disseminada. O Brasil (AmBev) foi exceção entre os grandes mercados, com alta de 9,9% nas vendas em volume.

Segundo a fabricante de cervejas como Skol e Brahma, o crescimento das vendas no país se deve à melhora das condições econômicas e ao lançamento de produtos. Com isso, ela disse que conquistou no ano passado mais 1,2 ponto percentual na participação de mercado brasileiro, atingindo 68,7%.

No resto do mundo, o cenário foi bem diferente, mesmo em países que evitaram a recessão, caso da China, onde a AB InBev vendeu 2,4% menos cerveja que em 2008. Na Rússia, que foi, dos grandes emergentes, o mais atingido pela crise, a empresa teve queda de 13,1%.

No mundo rico, onde a crise foi ainda mais aguda, as quedas foram expressivas: na Alemanha, a contração foi de 4,9%, e, no Reino Unido, de 2,7%. Nos EUA (onde a InBev comprou, em 2008, por US$ 52 bilhões a Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser), o recuo foi de 1,9%.

O cenário da AB InBev não é muito diferente do registrado pela sua principal rival, a SABMiller. O último balanço de vendas da fabricante de origem sul-africana é de abril a setembro de 2009 e mostra queda de 1% nas vendas em volume.

Para este ano, a AB InBev, que lucrou US$ 4,6 bilhões em 2009, disse que espera um avanço "modesto nas vendas". No último trimestre de 2009, as vendas globais de cerveja cresceram 0,8% -no Brasil, a alta foi de 12,1%.

A AmBev teve lucro líquido de R$ 5,789 bilhões em 2009, alta de 11,8% na comparação com o resultado de 2008.

Festas regadas a álcool atraem adolescentes

Um movimento de adolescentes com idades entre 11 e 14 anos e que combinam encontros pela Internet, tem provocado aumento no número de atendimentos médicos por bebidas alcóolicas em Hortolândia. Grupos de até 500 jovens se reúnem em praças da cidade para consumir álcool e drogas, além de praticar sexo.
O número de atendimentos na rede pública de saúde por excesso de bebidas entre adolescentes neste ano já se iguala ao total do período de 2009. O Conselho Tutelar foi acionado 12 vezes pelo Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência).

Os encontros são agendados pelo site de relacionamento MEADD, abreviação que significa "me adicione", em menção aos programas de relacionamento virtual. Uma adolescente de 14 anos ouvida pela reportagem explicou que as reuniões surgiram para que os jovens trocassem endereços de e-mail. Segundo a garota, que esteve em dois encontros, os participantes permanecem com o endereço virtual pendurados em partes do corpo.

"Parei de ir aos encontros porque vi muita coisa errada. Eles consomem muita bebida e fazem 'baderna'", contou. Vizinhos de uma pista de skate no Jardim do Bosque, ponto de encontro usado pelo grupo, contam que as reuniões chegam a atrair cerca de 300 adolescentes. "Eles ficam dançando, consumindo álcool e drogas. Tomam vinho e vodka em muita quantidade", conta o vendedor Paulo César Ferreira, 25, que mora em frente à praça. "Já vimos criança tendo convulsão de tanto beber", garante.

O Conselho Tutelar confirmou denúncias de encontros MEADD com até 500 jovens. "Eles fecham as ruas e fazem de tudo: usam drogas, mantém relações sexuais e abusam do álcool", relata o conselheiro Renato Bueno Franceschini. Segundo ele, uma professora ouviu de um menino de 10 anos que ele já havia frequentado o encontro.

O aumento das festas de MEADD em Hortolândia levou o Conselho Tutelar a convocar uma reunião com polícias Civil e Militar, Guarda Municipal e o setor de Fiscalização da prefeitura no ano passado. As instituições foram notificadas e houve uma instrução para coibir a reunião de jovens com intensificação de rondas e fiscalização. "A polícia tomava a praça, antes do começo das festas", conta o conselheiro. De acordo com ele, o aumento no número de casos com bebidas - que, segundo ele, tem relação direta com as festas - mostram que há necessidade de retomar as ações.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ENERGÉTICOS

O que é um energético?



Energéticos são bebidas à base de cafeína e outras substâncias estimulantes, como a taurina e a glucoronolactona, que potencializam a resposta do cérebro aos estímulos, deixando o corpo mais ativo ou acelerado.



Sua fórmula faz com que a pessoa se sinta revigorada durante algumas horas o que causa uma disposição aparente. Mas a ação dos energéticos também tem efeito rebote para o organismo. Passado o efeito, você fica ainda mais cansado e sente os efeitos do estresse muscular.



As substâncias estimulantes causam ansiedade, agitação, cefaleia e, em alguns casos, apresentam grau de toxidade questionável, como a taurina e a glucoronolactona.


Um energético hidrata o corpo?



Não, pelo contrário, é uma bebida diurética, que faz o organismo eliminar líquido.


Por que a combinação com álcool é perigosa?



Quando são consumidos em combinação com álcool, os energéticos provocam aumento da adrenalina, palpitações, suor e dependendo da quantidade ingerida, podem levar à desidratação já que os dois são diuréticos.


O álcool é um depressor do sistema nervoso central (ele retarda as respostas do cérebro aos estímulos), enquanto o energético é um estimulante, por isso, quando ingerimos álcool é preciso aumentar a dose de energéticos para se alcançar o efeito de euforia. A pessoa que bebe a mistura fica mais acelerada pela ação do estimulante e mais corajosa pela ação do álcool, o que pode ser perigoso.




Faz mal tomar o energético em jejum?



Um energético ingerido em jejum pode comprometer as funções do estômago e de todo o aparelho digestivo, além de potencializar os efeitos da bebida na medida em que sua absorção se torna mais rápida e os efeitos mais intensos.



Tomar só energético, sem combinar com álcool, pode prejudicar a saúde?



Apesar de serem muito mais perigosos quando combinados com bebidas e outras substâncias, acabam comprometendo a saúde mesmo quando consumidos isoladamente, em função da alta dose de cafeína e de outros estimulantes.



Eles prejudicam o sono?



Sim. Em um primeiro momento você perde o sono e fica acelerado, porém, acabado o efeito, o organismo precisa compensar as horas de sono perdidas e daí a pessoa tende a dormir mais.


Há interações perigosas com medicamentos?




Sim. O resultado da combinação de energético com medicamentos pode ser bastante prejudicial ao organismo. Se a pessoa já tem algum problema de saúde, tende a piorar. O uso isolado de estimulantes já altera as funções do organismo.


Vicia o organismo a ponto de perder o efeito?



Sim. Assim como os demais estimulantes químicos (cafeína ou drogas, como a cocaína, dentre outros), eles deixam de fazer efeito se tiverem o uso contínuo e a pessoa passa a ingerir quantidades cada vez maiores para obter o mesmo resultado.



Criança pode tomar? Por que é chamado de refrigerante para adultos?


Apesar de não serem alcoólicos, apresentam uma dose alta de cafeína e de substâncias com nível toxicológico questionável, e o organismo de uma criança não está preparado para receber tamanhas doses. Se um adulto já fica acelerado, imagine uma criança. Ela pode apresentar tremedeira, ficar nervosa e muito acelerada. Não é apropriado.



Tem limite de consumo? Pode consumir todo dia?



Não deve ser consumido todos os dias, principalmente substituindo sucos, água ou refrigerantes tradicionais nas refeições. Não há nenhuma indicação positiva comprovada em relação aos energéticos e ingeri-los uma ou duas vezes na semana não faz mal, mas consumir este tipo de bebida todos os dias pode trazer complicações, assim como ocorre com a ingestão excessiva de qualquer outro estimulante.



A quantidade exata permitida depende do organismo e da receptividade de cada pessoa, mas em geral deve-se manter cautela com o consumo destas bebidas. "Tudo o que altera o funcionamento do nosso organismo deve ser consumido com moderação.



Atleta pode consumir? Dá dopping? O treino rende mais após tomar um energético?



O rendimento físico de qualquer pessoa aumenta depois da ingestão deste tipo de bebida: a pessoa rende mais por que os energéticos aumentam a frequência cardíaca e a temperatura do corpo, melhorando a resistência e a performance do atleta. Porém, apesar de serem liberadas pelo Comitê Olímpico, as substâncias que compõem os energéticos, quando ingeridas em excesso, podem caracterizar dopping.



Eles são vistos como bebidas naturais, mas a quantidade ingerida poderia caracterizar dopping se os seus membros entendessem que o atleta fez uso destas substâncias intencionalmente para render mais na competição.



Dá para tomar pensando em rebater os sintomas da gripe, como o cansaço?



Os energéticos podem comprometer a recuperação de um paciente com gripe ou com algum outro problema. O problema é combinar energético e remédios e acelerar um organismo que já está mais debilitado.


O energético engorda?



Contêm valor calórico semelhante a quantidade de um copo de refrigerante ou suco de laranja e, por isso, quem deseja emagrecer deve consumir com moderação.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

25% da população toma 80% do álcool consumido no Brasil

25% da população toma 80% do álcool consumido no Brasil


Metade da população é abstêmia (não bebe).

O consumo moderado de álcool não é regra no país. Enquanto metade da população brasileira se diz abstêmia, os bebedores apresentam alto nível de consumo de risco -bebem regularmente e em grande quantidade. Apenas um quarto dos brasileiros consome 80% do álcool ingerido no país (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), "Revista Brasileira de Psiquiatria").

O estudo, o primeiro levantamento do gênero no país, entrevistou 2.346 indivíduos com mais de 18 anos em 143 cidades. Os resultados mostram que 48% não haviam ingerido álcool nos últimos 12 meses. Por outro lado, do total da amostra, 28% relataram pelo menos um episódio de crise de ingestão ("binge drinking", mais de cinco doses em homens e quatro em mulheres em uma ocasião).

Um quarto da amostra relatou ao menos um tipo de problema relacionado ao álcool (entre questões de saúde, familiares, no trabalho e violência), 3% preencheram os critérios para abuso e 9%, para dependência química. No Sul consome-se com maior frequência; nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, em maior quantidade.

Outro problema apontado é que o alto consumo de álcool continua até por volta dos 40 anos de idade. Em outros países, a ingestão cai após os 20.

Segundo a pesquisa, a bebida mais ingerida é a cerveja (mais de 60%), seguida do vinho.


"Trata-se de uma das principais causas de morte e de violência doméstica", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, líder do trabalho.

No mês passado, a OMS publicou uma resolução recomendando aos países membros a adoção de uma estratégia global, nos padrões das ações contra o tabaco, para reduzir o consumo abusivo de álcool. "Na prática, a resolução indica que a OMS se esforçará para convencer os países membros a se adaptarem a essa nova política. Isso fortalece a busca de soluções", afirma Laranjeira.

FUMO DE TERCEIRO GRAU

Perigos do chamado fumo de terceiro grau

Mesmo após apagado, o cigarro continua sendo prejudicial à saúde de quem não fuma. Isso porque as toxinas deixadas pela fumaça no ambiente, que aderem a uma variedade de superfícies, podem contaminar outras pessoas com substâncias potencialmente cancerígenas, mostra uma pesquisa realizada pelo Lawrence Berkeley National Laboratory, nos Estados Unidos, e publicada no "Proceedings of the National Academy of Sciences".

O chamado "thirdhand smoke" ou fumo de terceiro grau -contaminação pelas substâncias maléficas do tabaco depois de o cigarro ser apagado- atinge mais as crianças.

As crianças pequenas são mais suscetíveis a esse tipo de exposição porque brincam e engatinham em lugares contaminados e levam as mãos à boca com mais frequência.

Além disso, as partículas ficam nos cabelos e nas roupas, aumentando o risco especialmente para os bebês.

HEROÍNA COM ANTRAZ NA EUROPA

Heroína com antraz preocupa autoridades de saúde da Europa

A heroína, uma droga derivada da morfina e fabricada a partir da papoula, passou a ser um problema de saúde pública desde os anos 60, atingindo duramente a juventude europeia e norte-americana. Especialmente depois da guerra do Vietnã, onde os soldados americanos tiveram acesso a essa droga mortal, o tráfico tornou-se uma atividade criminosa muito rentável e base de parte da economia de países como o Afeganistão.

Desde dezembro passado, casos de viciados em heroína internados e morrendo por antraz estão sendo registrados. Inicialmente o surto foi detectado na Escócia, com cerca de 19 casos e pelo menos 8 mortes.

Na semana passada, um homem viciado nessa droga morreu na Alemanha com sintomas típicos de infecção por antraz, com confirmação laboratorial posterior.

Dia 5 de fevereiro marca a chegada da droga contaminada à Inglaterra com o registro do primeiro caso em Londres após a internação da primeira vitima.

As análises mostraram que a droga contaminada nos três países tem a mesma origem, o que aumenta a suspeita de que um lote inteiro esteja contaminado com o esporos dessa bactéria.

O antraz é uma bactéria que vive no solo de forma natural e pode contaminar os seres humanos através da pele ou das vias aéreas.

A associação de uma bactéria que tem sua forma mais grave de infecção quando atinge os pulmões com uma droga que é usada através da inalação torna a contaminação da heroína uma situação de difícil controle.

A infecção por antraz nos pulmões pode ser fatal em 3 dias se não for identificada a tempo e tratada adequadamente. Como os viciados nessa droga muitas vezes têm sua saúde debilitada, a evolução pode ser fatal mais rapidamente.

As autoridades de saúde dos países europeus vão se reunir para discutir o tema em Londres.