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domingo, 28 de outubro de 2012

revista Veja 31/10/2012: MACONHA

"AS NOVAS DESCOBERTAS DA MEDICINA CORTAM O BARATO DE QUEM ACHA QUE ELA NÃO FAZ MAL"

A matéria é capa da revista Veja de 31/10/2012, por Adriana Dias Lopes e mostra que o atual liberalismo está em descompasso com as pesquisas Medicas.

Treze Universidades respeitadas, entre elas Duke (EUA) e Otago (Nova Zelandia) acompanharam 1000 voluntários de 13 anos ao logo de 25 anos. Os adolescentes que mantiveram o hábito de fumar até a idade adulta tiveram queda de 8 pontos na escala de QI, apresentaram memória, atenção e raciocínio rápido prejudicado, o que impede o usuário de atingir toda a sua capacidade.

O Instituto de Saúde Pública da Suécia acompanhou 50.000 pessoas durante 35 anos. Perceberam que pessoas SEM antecedentes genéticos para doença mental apresentam mais chance de desenvolver esquizofrenia e depressão quando existe uso de maconha na adolescencia.

Como a cannabis age no cérebro de modo similar ao endocanabióides (produzidos pelo organismo) ela se liga a um numero muito maior de receptores do que o álcool, a cocaína, o crack e outras drogas. Mesmo após o uso a maconha deixa danos nas sinapses.

Na adolescencia ocorre a "poda neuronal" - triagem das conexoes que devem ser preservadas e as que dévem ser eliminadas para o resto da vida. O uso de maconha faz com que essa poda seja desorganizada, eliminando sinapses importantes.

domingo, 7 de outubro de 2012

Dr. Harold Koenig nas páginas amarelas da Revista Veja de 10 de Outubro de 2012


Dr.Harold Koenig (Formado pela Universidade da Califórnia em São Francisco, especialização em geriatria, psiquiatria e bioestatística, diretor do Centro para o Estudo da Religião, Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, e editor de duas revistas médicas especializadas: International Journal of Psychiatry in Medicine e Research News & Opportunities in Science and Theology)
Medicina e Espiritualidade devem andar juntas. Dos 114 estudos realizados, 91 concluíram que os religiosos são mais felizes e têm bem-estar mais elevado que os não crentes.
 
A oração faz o indivíduo afastar a dor da mente e focalizar o pensamento em outras coisas.
 
Pesquisas mostram a diminuição de casos de depressão e suicídio em indivíduos que têm alguma prática religiosa.
 
Ansiedade, medo e vícios também atingem menos as pessoas que acreditam em uma força superior. A recuperação dos doentes que sofrem desses males também é mais rápida.
 
Reação do corpo
 
Segundo o Dr. Harold Koenig, o corpo físico tem dentro de si o poder da cura. As crenças religiosas e as emoções influenciam em sua fisiologia. Por meio de fatores sociais, psicológicos e comportamentais, tenta-se entender a influência da religião na saúde física. O sistema imunológico de alguma forma é influenciado pela prática religiosa. Segundo pesquisa, as células das mulheres que não sofriam de stress aparentavam aspecto mais jovem.
 
Foi comprovada, por meio de estudos americanos, que a alimentação adequada somada a exercícios físicos e à prática religiosa levam à diminuição da mortalidade por câncer devido à presença de um volume maior de células que atacam as cancerosas. Por baixar a pressão sangüínea, casos de hipertensão também são menores. As infecções diminuem e o poder de cicatrização é maior. Pesquisas, ainda não publicadas, afirmam que idosos com forte crença religiosa apresentam o mesmo nível de atividade cardiovascular que os jovens.

Como abordar o paciente
 
“Apesar de 77% dos médicos pensarem que a crença religiosa pode trazer benefícios aos pacientes, a maioria deles não sabe como chegar ao doente e introduzir a espiritualidade na conversa. Prevalece ainda o desconhecimento dessa importância para o diagnóstico, prognóstico e tratamento de pacientes”, explicou dr. Harold Koenig. “Mas, a maioria dos pacientes quer que os médicos abordem a questão da religiosidade”.
     
As recomendações são: apoiar a crença espiritual do paciente, sem discutir com ele; descobrir seu histórico espiritual; certificar-se de que as necessidades espirituais sejam atendidas e até rezar com o paciente. É importante não prescrever a religião a pessoas atéias, nem dar conselhos espirituais.

Histórico
 
Até 1970, a Igreja e o atendimento médico sempre estiveram interligados. Até porque, a Igreja foi a pioneira na construção dos hospitais. As enfermeiras não podiam se casar e moravam próximas às instituições onde trabalhavam. Com o desenvolvimento científico e tecnológico, porém, a religião e a medicina tornaram-se independentes uma da outra. Os profissionais de saúde começaram a ver a espiritualidade como algo distante, que não poderia estar aliada ao tratamento e cura dos doentes.
 
A comunidade científica tem mostrado interesse em entender como a espiritualidade pode auxiliar os médicos a obter melhores resultados no exercício da profissão. Desde o ano 2000, cerca de três mil artigos sobre religião e saúde mental foram publicados, mais da metade no último ano envolvendo a religiosidade na educação médica.
 
O dr. Koenig partiu para a sistematização das pesquisas depois de questionar pacientes sobre o que as ajudava a suportar a doença e ouvir respostas do tipo: “Doutor, é a minha oração”.
 
Religião, espiritualidade e psiquiatria:
uma nova era na atenção à saúde mental


Muitos dos primeiros hospitais destinados ao cuidado de pessoas com doenças mentais foram organizados por monges e sacerdotes.
O tratamento “moral” (que valorizava o papel da religião e as contribuições dos clérigos nos cuidados) tornou-se o tipo dominante de cuidado psiquiátrico nos Estados Unidos e Europa no começo do século XIX.
Entretanto, este cenário mudou no início do século XX com os escritos de Sigmund Freud na psiquiatria e de G. Stanley Hall na psicologia (Koenig, 1995).
 Esses autores acreditavam que religião gerava neurose e que teorias psicológicas iriam substituir as religiões como propiciadoras de visão de mundo e fonte de tratamento.
 Tais atitudes negativas em relação à religião não eram baseadas em pesquisas científicas nem em estudos sistemáticos, mas primordialmente nas crenças e opiniões pessoais desses pioneiros. Como conseqüência, durante a maior parte do século XX, o campo dos cuidados à saúde mental subestimou e freqüentemente desqualificou as crenças e práticas religiosas dos pacientes. Tais posturas estão refletidas em textos fortemente anti-religiosos escritos ainda nas décadas de 1980 e 1990 (Ellis, 1988; Watters, 1992).

Contudo, mudanças começaram a ocorrer na área da saúde mental na década de 1990 e na virada para o século XXI. Investigações sistemáticas passaram a demonstrar que pessoas religiosas não eram sempre neuróticas ou instáveis e que indivíduos com fé religiosa profunda na realidade pareciam lidar melhor com estresses da vida, recuperar-se mais rapidamente de depressão e apresentar menos ansiedade e outras emoções negativas que as pessoas menos religiosas (Larson et al., 1992; Koenig et al., 1992; 1993; Koenig et al., 1998; Koenig, 2006). Além disso, esses achados provinham não apenas de grupos de pesquisadores dos Estados Unidos, mas também de cientistas no Canadá (Baetz et al., 2002; Gee e Veevers, 1990; Harvey et al., 1987; O’Connor e Vallerand, 1989), Grã-Bretanha (Shams e Jackson, 1993; Cook et al., 1997), Irlanda (Maltby, 1997), Espanha (Luna et al., 1992), Suíça (Pfeifer e Waelty, 1995), Alemanha (Schwab e Petersen, 1990; Siegrist, 1996; Becker et al., 2006), Holanda e outras áreas da Europa (Braam et al., 1997; Braam et al., 2004), Malásia (Razali et al., 1998; Azhar et al., 1994), Tailândia (Tapanya et al., 1997), Austrália (Francis e Kaldor, 2002; Wollin et al., 2003), Nigéria (Ndom, 1996), Egito (Thorson, 1998), Oriente Médio (Anson et al., 1990; Abdel-Kalek, 2006) e Índia (Verghese et al., 1989).

De fato, uma pesquisa on-line na PsycINFO (uma base de dados que contém 2,3 milhões de pesquisas e artigos acadêmicos de 49 países em 27 idiomas), usando as palavras-chave “religion”, “religiosity”, “religious beliefs” e “spirituality”, revela algumas tendências interessantes. Quando restringi os anos da busca de 1971 a 1975, foram identificados 1.113 artigos, mas ao repetir a pesquisa restringindo-a aos anos entre 2001 e 2005, obtive 6.437 artigos, havendo um aumento de mais de 600% em 30 anos. Assim, parece ocorrer um rápido incremento na pesquisa e discussão acadêmicas relacionadas à relação entre religião, espiritualidade e saúde mental.

Dado que religião é importante para a maioria dos brasileiros e outros sul-americanos, não causa surpresa que haja interesse na ligação entre envolvimento religioso e saúde mental. Dos 6.437 artigos sobre religião/espiritualidade publicados entre 2001 e 2005, 20 envolveram artigos sobre religião, espiritualidade e saúde de brasileiros. Seis desses 20 artigos relatavam resultados de estudos quantitativos e quatro dessas pesquisas eram focadas em saúde mental.
Revisarei brevemente estes últimos aqui.

O primeiro estudou abordou 110 espíritas que freqüentavam um centro espírita bem conhecido em
São Paulo. Socialização, felicidade, religiosidade, mediunidade, personalidade e experiências dissociativas gerais foram medidas usando escalas padronizadas (Negro et al., 2002). Atividade mediúnica foi associada com mais experiências dissociativas, mas com bons escores em socialização e adaptação. Um segundo estudo envolveu 989 pacientes consecutivamente admitidos em uma unidade psiquiátrica em um hospital brasileiro (Dalgalarrondo et al., 2004a). Católicos e protestantes (a maioria era pentecostal) foram comparados em termos de sintomas, diagnóstico, tempo de internação e resultados clínicos. Protestantes eram mais jovens, mulheres, com menor nível educacional e tinham menor probabilidade de ser casados. Comparados com católicos, protestantes tinham maior probabilidade de ter esquizofrenia e menor probabilidade de ter transtornos por abuso de substâncias. Não houve diferenças quanto ao tempo de internação ou condição clínica no momento da alta. Os autores interpretaram que esses resultados poderiam ser devidos a padrões de busca de tratamento dos protestantes pentecostais, um grupo predominantemente de menor nível socioeconômico.

Um terceiro estudo examinou 2.287 estudantes de quatro escolas publicas e três escolas privadas (Dalgalarondo et al., 2004b). O uso de álcool, tabaco, medicamentos e drogas ilícitas no ultimo mês foi investigado. Estudantes sem uma filiação religiosa ou sem educação religiosa tinham um uso significativamente maior de drogas ilícitas (êxtase ou cocaína). O último estudo investigou os efeitos da filiação religiosa (pentecostais, espíritas e católicas) no uso de substâncias e na saúde mental (esta última medida pelo GHQ-12, em que pontuações maiores indicam maior morbidade psicológica) em 1.796 estudantes (Dalgalarondo et al., 2005). Pentecostais usaram menos tabaco, álcool e drogas e pontuaram menos no GHQ-12; espíritas usaram mais substâncias psicoativas e obtiveram maiores pontuações no
GHQ-12; e os católicos alcançaram escores intermediários entre os dois grupos. Esses quatro estudos dão ao leitor uma noção do tipo de pesquisa que está sendo realizada nesta área no Brasil.

Por que todo esse interesse nesta área? Porque estudos entre religião, espiritualidade e saúde mental? Há várias razões. Os resultados dessas pesquisas têm importantes implicações para o cuidado clínico dos pacientes. O conhecimento do impacto que as crenças religiosas podem ter na etiologia, diagnóstico e evolução dos transtornos psiquiátricos ajudará os psiquiatras a compreender melhor seus pacientes, avaliar quando as crenças religiosas ou espirituais são utilizadas para lidar melhor com a doença mental e quando podem estar exacerbando essa doença. A vasta maioria das pesquisas em populações saudáveis sugere que as crenças e práticas religiosas estão associadas com maior bem-estar, melhor saúde mental e um enfrentamento mais exitoso de situações estressantes. Essas associações entre religiosidade e melhor saúde mental são encontradas de modo mais marcante em situações de alto estresse. De
certo modo, esses achados também são verificados entre pacientes psiquiátricos, já que estes enfrentam um enorme estresse ambiental e psicossocial em razão de seus transtornos, necessitando de estratégias eficazes de enfrentamento. Por outro lado, alguns poucos estudos indicam associação entre envolvimento religioso e maior psicopatologia (veja artigo sobre religião e transtornos psicóticos nesta edição).

Em virtude do papel que as crenças religiosas e espirituais podem ter na doença psiquiátrica, é importante que psiquiatras coletem uma história espiritual em que sejam exploradas as crenças do paciente que podem estar influenciando a doença mental e como o paciente está lidando com a doença. Além disso, são necessárias muito mais pesquisas para melhor compreender como os diversos sistemas de crenças religiosas no Brasil e em outros países da América do Sul interagem com e influenciam os transtornos mentais.

A área da religião e da saúde mental é um campo clínico e de pesquisa com enorme potencial. Espero que este volume pioneiro da Revista de Psiquiatria Clínica possa estimular e abrir caminho a novas pesquisas e discussões que, em última instância, permitirão que os clínicos reconheçam a importância das crenças espirituais na saúde e nas doenças mentais dos pacientes que servimos, desse modo conduzindo a uma nova era de cuidados psiquiátricos culturalmente sensíveis à pessoa como um todo.