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domingo, 8 de janeiro de 2012

Para mães e pais de Amor-Exigente

Imaginem a cena de uma mulher “afundando” na poltrona. Explicando-se e tentando justificar seus erros, suas falhas. Envergonhada. Voz baixa. Insegura. Olhar sofrido. Corpo cada vez mais encolhido. Mãos trêmulas. Tenta impedir as lágrimas de caírem.


Ao seu lado um jovem fazendo novas acusações. Contando o enorme impacto que os comportamentos daquela mulher tiveram em uma vida que poderia ter sido tão melhor.

A mulher ainda mais encolhidinha na poltrona, ouvindo detalhes de sua vida expostos pelo jovem.

Parece cena de um julgamento? Não é. Vejo essa cena todos os dias em meu consultório. Uma mãe (pais ainda são minoria) levando o filho querido para o tratamento. O filho, por incrível que pareça, é o paciente!

Paciente esse que, talvez sem ter consciência, tenta desviar o foco da conversa para os erros dos pais.

Pergunto com que idade os pais tiveram filhos. Pergunto ao jovem se ele pensa que com a mesma idade estará (ou já está) perfeito e completamente preparado para ser um pai (ou mãe) capaz de dar aos filhos exatamente o tipo e quantidade de afeto que cada filho precisa. Saberá o exato momento de afagar, ensinar, cuidar e se afastar? Assim, dou ao filho a chance de tentar se colocar no lugar dos pais e entender que pais são apenas pessoas que têm filhos, e não heróis.

Para os pais, conto a história do canto sedutor das sereias. Segundo a mitologia Greco-romana, as sereias habitavam os rochedos entre a ilha de Capri e a costa da Itália. Eram tão lindas e cantavam com tanta doçura que os tripulantes dos navios que passavam por ali ficavam envolvidos pelo canto, os navios colidiam com os rochedos e afundavam. Odisseu, personagem da Odisséia de Homero, conseguiu salvar-se porque colocou cera nos ouvidos dos seus marinheiros e amarrou-se ao mastro de seu navio, para poder ouvi-las sem poder aproximar-se. Assim, impediu que o canto das sereias o desviasse de sua rota e chegou ao seu destino.

Penso que pais e mães precisam aprender a “colocar cera nos ouvidos” para conseguir ajudar seus filhos. Precisam aprender a dizer:”fiz o melhor que pude naquela ocasião, com os recursos que eu tinha naquele momento”. Precisam deixar de gastar energia em explicações intermináveis, em sentimentos de culpa que só reforçam a crença de que pais precisam ser perfeitos e infalíveis.

Proponho aos pais aceitar que são pessoas com dificuldades, dúvidas, defeitos, dores, limitações. É assim que os seres humanos são.

Vamos colocar cera nos ouvidos para atingir nosso objetivo – melhorar sempre!