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sábado, 18 de setembro de 2010

O futuro das drogas

O futuro das drogas por Carlos Salgado, psiquiatra, presidente da ABEAD



Olhar para o futuro com o foco nas drogas de abuso é, há um, tempo assustador e instigante.

Emergem algumas possibilidades: disponibilidade de mais drogas, tragédias na forma de epidemias de uso de drogas desorganizadoras, fracasso da repressão, ocupação de espaços de poder por parte dos negociantes de drogas, legitimação ampla e irrestrita da produção e consumo, seleção natural dos mais hábeis diante da grande disponibilidade e uso massivo, mudanças conceituais sociais com ritualização do uso, avanços médicos e biológicos no controle do abuso (genética, imunologia e farmacologia).

O horizonte imaginário é amplo. Nos tempos correntes, mais e mais substâncias vão ficando disponíveis, ampliando o repertório dos usuários. Relatórios internacionais de agências observadoras do fenômeno da drogas, como o UNODC, mostram uma tendência geral de restrição do uso de substâncias mais naturais e ampliação da produção e uso de substâncias, digamos, laboratoriais. Elas têm se mostrado atraentes e trazem certo charme de benignidade e confiabilidade. Lobos em peles de cordeiros rapidamente mostram sua face cruel e desorganizadora, mesmo em uso recreacional.

Mas, seguindo com os olhos no futuro, parece fazer sentido acreditar numa certa industrialização franca das drogas de abuso. Assim como ocorre na indústria farmacêutica, a produção de drogas vai introduzindo opções em número sempre crescente. A busca por drogas de uso recreacional seguro seguirá em pauta. Preservar o usuário e ao mesmo tempo mantê-lo fiel é um dos desafios objeto de ficção, como mostrado no livro O Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1931, onde o Soma trazia recreação segura para qualquer usuário.

Nosso devaneio futurístico vislumbra, então, um grande grupo de substâncias cada vez mais especializadas em vivências químicas e prazerosas. Em meio às novidades futuras, creio, teremos a preservação do álcool e provavelmente o banimento do tabaco poluente como conhecemos hoje, substituído por formas de liberação de nicotina pura.

A manipulação genética segura ainda vislumbra para muito distante sua efetividade para desligar tendências patológicas complexas, como é o comportamento relacionado ao uso de drogas. Uma visão catastrófica, por outro lado, desconsidera que a ciência possa a avançar e surpreender a todos com soluções radicais, como temos para doenças infecciosas, que já dizimaram no passado e hoje são de controle trivial, como é o caso da tuberculose.

Mesmo considerando a grande distância em termos de complexidade e, portanto, a injustiça da comparação, a ciência oferecerá soluções inimagináveis conceitualmente para o abuso de drogas. É atraente, também, pensar numa mudança conceitual da organização social que possa simplesmente banir como hoje prestigia a alteração psíquica através de drogas.

Quem sabe algo como o futebol deixar de atrair milhões de brasileiros para ser de interesse de uns poucos, fenômeno oposto ao que começa a ocorrer nos Estados Unidos, onde o esporte vai ganhando adeptos praticantes e torcedores. O sistema repressivo poderá ser enriquecido com a introdução de variáveis que mudem a auto-estima de grandes comunidades hoje à mercê do comércio ilícito de drogas, pois seguramente a disponibilidade seguirá sendo um grande determinante do volume de consumo de drogas. Podemos, enfim, optar pelo pessimismo e não faltam evidências para nos subsidiar, mas podemos também pensar na riqueza da inventividade humana, sempre à disposição para nos surpreender.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

“Pílulas, pílulas e pílulas”

Gustavo Miller Do G1, em São Paulo
“Pílulas, pílulas e pílulas”. É assim que Candy Finnigan resume o maior vício da sociedade do século 21. Segundo a famosa interventora americana, não são apenas as celebridades de Hollywood que estão à mercê dos medicamentos prescritos.

“Qualquer pessoa com US$ 1 compra comprimidos poderosíssimos. É um vício legal, que hoje mata mais que doenças cardíacas e ferimentos por bala”, comenta, em entrevista por telefone ao G1.

“Intervenção”, que ganha nesta terça-feira (7) novos episódios no A&E, a partir das 23h, é um premiado programa de TV que mostra o momento em que uma família ou amigos resolvem intervirem na vida de um viciado próximo. A atração já está no ar há cinco anos e, além de ser a maior audiência do canal, também vem ganhando prêmios – em 2009, ganhou o Emmy de melhor programa de realidade.











O papel de Candy, como interventora, é orientar o encaminhamento do viciado a uma clínica ou hospital, assim como ajudar os familiares e amigos a realizarem o “procedimento”. Todo episódio é assim. “A série mostra para o mundo o verdadeiro olhar dos vícios, da devassidão que eles causam a quem estiver próximo. É um show autêntico, toda semana temos um ‘docu-drama’ com final feliz”, explica Candy, que não vê com bons olhos a concorrência que realiza formatos semelhantes com celebridades no lugar de anônimos.

“O interventor ou médico dessas situações não conhece as pessoas com quem lida. Tem muito dinheiro envolvido, sabe? Gostamos de ver as pessoas na miséria porque nossa vida parece melhor assim. E todos gostamos de ver famosos caindo, é meio triste”, acredita.

Apesar de ser no programa uma profissional séria e compenetrada, Candy fora do ar é divertida – ela diz que adorou a paródia que a animação “South park” fez dela, assim como a de um vídeo que circulou no portal de humor Funny or die, em que a atriz Kristin Chenoweth (“Glee”) realizava uma intervenção em forma de musical.

“Não acho que eles tiraram sarro do que faço, a intervenção é algo que já está incorporado em nossas vidas. E todos temos de rir de nós mesmos, não?”, ri.

Candy só parece perder o humor quando vê alguém utilizando equipamentos eletrônicos, mais um vício do mundo moderno. “Fui outro dia a um restaurante e quando me sentei à mesa todo mundo estava lendo ou enviando mensagens pelo celular. Senti como se estivesse interrompendo eles. Esperei até alguém olhar para mim e dar ‘oi’. Isso virou tão parte de nossa cultura que não é mais rude”, cita.

“É um problema sério, essa nova geração está se tornando muito anti-social. Tecnologia controla nossas cabeças e nos faz esquecer do coração”.

Cresce o uso de antipsicóticos em crianças

Cresce o uso de antipsicóticos em crianças


Nos EUA, dobraram as prescrições de drogas contra doenças como transtorno bipolar para o público de 2 a 7 anos



Caso de um garoto que começou a tomar esses remédios aos 18 meses mostra os riscos dos efeitos colaterais



Folha de São Paulo - The New York Times - Kyle Warren, aos três anos, obeso por causa de remédios

DUFF WILSON

DO "NEW YORK TIMES", EM LOUISIANA

Kyle Warren começou a tomar um remédio antipsicótico todo dia aos 18 meses de idade, por ordem de um pediatra, para acalmar seus fortes acessos de raiva. Assim teve início a jornada do menino, de um médico para outro e de um diagnóstico para outro: autismo, transtorno bipolar, hiperatividade, insônia.

Os comprimidos dados diariamente a Kyle se multiplicaram: um antipsicótico, um antidepressivo, dois soníferos e um medicamento para transtorno de deficit de atenção. Tudo isso quando ele tinha só três anos.

Kyle ficou obeso e vivia sedado e babando, devido aos efeitos colaterais do antipsicótico. Sua mãe, Brandy Warren, estava "desesperada, sem saber o que fazer", quando recorreu ao tratamento com medicamentos, mas começou a se preocupar com as alterações de personalidade de seu filho.

"Eu tinha um garotinho medicado, apenas", disse Warren. "Não tinha meu filho. Você olhava nos olhos dele e só via um vazio."





DESINTOXICAÇÃO

Hoje, Kyle tem seis anos, está no primeiro ano da escola e tira notas altas. Ele é bagunceiro e está mais magro. Depois de ser "desmamado" das drogas por meio de um programa da Universidade Tulane (EUA) que ajuda famílias de baixa renda cujos filhos têm problemas de saúde mental, Kyle hoje ri com facilidade e brinca.

Os novos médicos que atendem o menino e sua mãe destacam os avanços de Kyle -e o diagnóstico mais comum para crianças, o de transtorno de deficit de atenção com hiperatividade- como prova de que as drogas fortes nunca deveriam ter sido receitadas a ele.

Agora, Kyle toma só um remédio, para o deficit de atenção. Sua mãe divulgou seus registros médicos para ajudar a documentar uma tendência que preocupa os especialistas: a facilidade com que médicos vêm receitando drogas fortes para tratar crianças, até bebês. De acordo com um relatório de 2009 da FDA (agência reguladora de remédios e alimentos nos EUA), mais de 500 mil crianças e adolescentes tomam antipsicóticos.

Estudo da Universidade Columbia constatou que, entre 2000 e 2007, dobraram as receitas de antipsicóticos para crianças de 2 a 7 anos cujas famílias têm plano de saúde. Muitos médicos afirmam que prescrever esses remédios para crianças cada vez menores pode gerar riscos para o desenvolvimento de seus cérebros e corpos, em crescimento acelerado.

Mesmo os médicos que mais relutam em prescrever essas drogas se deparam com uma máquina gigantesca de marketing que converteu os antipsicóticos na classe de remédios que mais fatura nos EUA -US$ 14,6 bilhões em 2009.

Na sala de espera do primeiro psiquiatra ao qual Kyle foi, crianças brincavam com Legos estampados com o nome de um antipsicótico. "A psicoterapia é a chave do tratamento a ser dado a crianças com transtornos mentais graves, e os antipsicóticos são terapia complementar, e não vice-versa", disse Lawrence L. Greenhill, presidente da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência.

SOLUÇÃO RÁPIDA

Mas é mais barato medicar crianças do que pagar psicoterapia. Pesquisa da Universidade Rutgers constatou que crianças de famílias de baixa renda, como Kyle, têm quatro vezes mais chance de receber antipsicóticos do que as com plano de saúde.

"Nunca mais vou deixar meus filhos tomarem esses remédios", disse a mãe do menino, Brandy Warren, 28. "Eu não me dei conta do que estava fazendo." Kyle era um bebê fisicamente saudável, mas que tinha medo de algumas coisas. Passava horas enfileirando brinquedos. Quando ficava bravo, atirava objetos e às vezes batia a cabeça no chão.

Edgardo R. Concepción, o primeiro psiquiatra a tratar de Kyle, disse que achou que os remédios ajudariam a tratar da depressão maníaca, ou transtorno bipolar, em crianças pequenas. "Não é fácil prescrever medicação pesada", disse o psiquiatra. "Mas, quando eles me procuram, não tenho outra escolha. Tenho que ajudar essa mãe."

Brandy admite que pediu remédios para o filho. "Mas eu estava desesperada. Não sabia mais o que fazer." "Às vezes as famílias querem uma solução rápida", disse a professora de psiquiatria Mary Margaret Gleason, que tratou de Kyle quando ele parou de tomar os remédios pesados. "Quando uma criança é atendida por alguém que prescreve remédios mas não oferece terapia, está sendo fechada a porta que pode levar a mudanças de mais longo prazo."

Tradução de CLARA ALLAIN

Documento da FEBRACT para as CTs

Documento da FEBRACT para as CTs


À todos(as) companheiros(as) de caminhada e luta, por favor, leiam o documento abaixo e encaminhem para nossos parceiros e outras CTs que têm como objetivo efetivar e qualificar nosso modelo de tratamento.

FEBRACT

Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas



Campinas, 31 de agosto de 2010.

Prezado(a) Presidente

O aumento preocupante do uso do crack despertou o Poder Público de sua letargia.

Depois de tantas décadas de omissão, abrangendo diversos governos, com raríssimas exceções, parece estar havendo um despertar e um desejo de enfrentar com decisão o flagelo das drogas.



Agora, podemos assinalar duas reações bastante promissoras: pela 1ª vez em nossa história candidatos à Presidência da República apontam com veemência o perigo representado pela dependência química e apresentam propostas para combater o problema.



Outro sinal, muito significativo para nós é a recente constituição de um Grupo de Trabalho, do qual participam representantes de Comunidades Terapêuticas.



O Ministério da Saúde, através de órgãos subordinados, deseja que as Comunidades Terapêuticas se articulem com o SUS e com as Políticas Públicas voltadas para a questão do uso do álcool e de outras drogas.



Os candidatos estão assumindo muitos compromissos em relação a problemas de vital importância para o país. Serão atendidos apenas aqueles que, ao lado de sua importância, tenham poderosos grupos de pressão, que cobrem a realização das promessas feitas. Como não temos nenhum desses grupos precisamos de um mínimo de organização para que nossa voz seja ouvida.



Algumas medidas devem ser tomadas desde já:



1. Entrar em contato com a Frente Parlamentar Antidrogas, que reúne Senadores e Deputados sensíveis aos problemas gerados pela dependência química.



Assegurar que os Parlamentares que forem reeleitos apóiem com decisão a luta contra as drogas e se comprometam a conseguir verbas para as Federações e para as Comunidades Terapêuticas que cumpram exemplarmente sua missão.



2. Cada Comunidade Terapêutica em sua área de atuação deverá entrar em contato com os candidatos a cargos executivos ou legislativos, solicitando deles compromissos concretos no combate à dependência química.



3. Publicar na mídia de cada região assuntos que ressaltam os males terríveis que as drogas causam à Sociedade.



4. Iniciar o estabelecimento de redes de prevenção e tratamento envolvendo as famílias, a rede escolar, os grupos religiosos e todas as outras forças vivas da Comunidade, lembrando que o combate às drogas é dever de todos.



5. Responder com a possível urgência o questionário anexo e mandar sugestões a respeito.



As Comunidades Terapêuticas, por suas Federações e unidades representativas sempre defenderam a realização de um trabalho dedicado, competente e apoiado em valores éticos.



Isto pode ser constatado no documento elaborado em 1996, no 1º Encontro Latino-Americano de Comunidade Terapêuticas, realizado em Brasília.



Com esse respaldo moral é que devemos nos reunir nesta Cruzada de Salvação Nacional.



Maurício Landre



Diretor Executivo da FEBRACT



DOCUMENTO_FEBRACT_PARA_AS_CTs.pdf







Maurício Landre

Coordenador Administrativo

55 (19) 3252-7919

55 (19) 9104-6566

Anandamida - Uma maconha endógena?

Anandamida

A substância é produzida pelos humanos e comparada ao THC, princípio ativo da maconha. O composto tem efeitos analgésicos e antidepressivos

Correio Brasiliense - Alfredo Durães -Publicação: 08/09/2010

Belo Horizonte — Em sânscrito, ananda significa algo como serenidade ou felicidade suprema. A palavra virou inspiração para que a comunidade científica batizasse como anandamida uma substância endógena (produzida pelo organismo; no caso, o cérebro humano) descoberta em 1992. Ela pode ter efeitos analgésicos, ansiolíticos e antidepressivos semelhantes aos do THC, componente da espécie vegetal Cannabis sativa, mais conhecida como maconha.

Entender melhor as funções dessa substância endógena, para que ela possa ser usada de forma medicinal, é o objetivo dos professores Fabrício Moreira e Daniele Cristina de Aguiar, que desenvolvem, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisas sobre a anandamida, o THC e outras propriedades da Cannabis sativa. Os estudos têm colaboração do Instituto Max Planck de Psiquiatria de Munique (Alemanha) e dos departamentos de Neurociências e de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, unidade de Ribeirão Preto.

“Não se trata de apologia à maconha”, ressalta, pela segunda vez durante a entrevista, o professor de farmacologia Fabrício Moreira, 33 anos, acrescentando que a droga causa problemas sim. “Mas é sabido que ela tem potenciais medicinais. Nossa intenção é tirar proveito da parte positiva, usando uma substância análoga. No caso, a anandamida”, explica. Em relação aos problemas causados pela maconha no organismo humano, o professor cita a perda de memória e de coordenação motora, entre outros.

Nos laboratórios da UFMG, pesquisadores lutam para descobrir o funcionamento da anandamida e como ela poderia ser utilizada como medicamento

No Laboratório de Neuropsicofarmacologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Fabrício e Daniele Aguiar testam em animais (camundongos) os efeitos da anandamida e do THC. Além disso, estudam outras substâncias da maconha, a exemplo do canabidiol, com o intuito de contornar os problemas advindos do uso do THC. “Em colaboração com a USP de Ribeirão Preto, já identificamos diversas propriedades farmacológicas do canabidiol”, diz Moreira.

O professor acrescenta que o principal desafio — e, ao mesmo tempo, a abordagem mais promissora — talvez seja aumentar os níveis da anandamida no cérebro, de modo a potencializar os efeitos benéficos da substância e evitar a administração de THC. “Desde a década de 1980, o mundo científico começou a entender como a maconha interfere em locais específicos do cérebro, mas ainda não se sabe como evitar completamente seus efeitos danosos”, explica.

Comparando resultados

Nos camundongos, os pesquisadores injetam doses de THC e também de URB 597 (uma substância sintética produzida na Universidade da Califórnia, que reproduz os efeitos da anandamida) para analisar e comparar resultados. De acordo com os professores, a conclusão dos estudos poderá servir de suporte para as indústrias farmacêuticas um dia virem a produzir um medicamento que aumentaria os níveis de anandamida no organismo, o que seria usado de forma terapêutica. Ou ainda no tratamento de dependentes com transtornos de uso da substância, que seria a terapia de substituição contra a abstinência de maconha. Dizem ainda que, no caso do tratamento da heroína, por exemplo, já existe um medicamento que serve de “substituto” da droga para minorar os efeitos da abstinência.